Estamos no rumo certo para deixar as máscaras? Sim, mas falta confirmar uma tendência (com gráficos)

7 mar 2022, 07:00
Média a 14 dias dos óbitos aproxima-se do nível definido pelas

A data de 3 de abril como referência para o fim das poucas restrições que restam, incluindo o uso de máscaras no interior, mantém-se válida. Máscaras podem cair em abril, mas especialistas avisam como cenário pode facilmente mudar. Há aliás uma tendência de subida do número de casos com excepção do norte e dos Açores. Veja em que situação está Portugal

Estamos perto de deixar as máscaras? Sim, estamos mais perto. E claro que, como se sempre se diz desde o princípio da pandemia, "as próximas semanas serão decisivas". Mas a tendência aponta para o cumprimento das previsões: provavelmente em abril chegamos ao patamar em que podemos largar as máscaras obrigatórias.

É o que se (ante)vê neste gráfico, com a progressiva aproximação ao nível com o critério de libertação das máscaras. 

A base do cálculo foi definida a 16 de fevereiro, na última reunião dos peritos no Infarmed. Tendo por base o referencial usado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, sigla em inglês), para passar para o nível seguinte do alívio das poucas restrições que ainda vigoram no combate à covid-19 - isto é, para a tão desejada libertação total - é preciso que o limiar de óbitos esteja nas 20 mortes por um milhão de habitantes a 14 dias, o que aponta para cerca uma média a 14 dias próxima dos 15 óbitos.

Os dados divulgados este domingo, dia em que foram notificados 17 óbitos, mostram essa tendência decrescente. A média dos últimos 14 dias até este domingo era de 26 óbitos. Um mês antes, a 5 de fevereiro, era de 47 óbitos de média diária a 14 dias. 

Quando largaremos as máscaras obrigatórias?

O médico Gustavo Tato Borges lembra em declarações à CNN Portugal que a previsão feita pelos peritos para alcançar esse objetivo “era de cinco semanas” a contar dessa última reunião, o que apontaria sensivelmente parta o final de março. Para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, que respondeu à CNN Portugal por escrito, mas sem avançar com uma data, “este valor pode ser atingido mais cedo se a incidência também cair consideravelmente”.

Uma semana depois da reunião no Infarmed, e tendo por base a projeção das cinco semanas para atingir o limiar de óbitos definido, a Direção-Geral da Saúde apontou o dia 3 de abril como a data possível para a entrada numa nova fase da pandemia e para o fim das medidas de mitigação do vírus, mas Graça Freitas não hesitou em dizer que “é uma projecção, que pode sempre mudar”.

Ainda pode. Mas Carlos Antunes, matemático e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mostra-se otimista quanto à projeção feita pela DGS.

Atualmente, diz o matemático, “esse valor já está abaixo dos 40 [óbitos por milhão de habitantes] e está com uma tendência de reduzir a metade em três a quatro semanas”, o que seria no final de março, reforçando a possibilidade das restrições, incluindo o uso de máscaras em espaços fechados, acabem no início de abril, tal como a CNN Portugal já tinha noticiado.

Se mantiver este ritmo, entre três a quatro semanas podemos atingir esse valor, isto é, se houver uma aceleração dessa diminuição [de óbitos] é provável que cheguemos ao valor no final de março, mas se a tendência se mantiver constante será no início de abril”, afirma Carlos Antunes.

Miguel Castanho, professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa e investigador no Instituto de Medicina Molecular (IMM), é mais cauteloso e salienta a importância de se avaliar a subida do Rt (índice de transmissibilidade). 

À CNN Portugal, o académico considera que “se mantivermos a tendência das últimas semanas” é possível que se consiga atingir o limiar dos 20 óbitos por milhão de habitantes a 14 dias, mas apressa-se a dizer que “o problema é que é incerto que mantenhamos a tendência das últimas semanas”, o que irá resultar, mais cedo ou mais tarde, numa estagnação ou até num aumento do número de óbitos. 

E é assim que as regras do jogo podem mudar.

O cenário pode mudar? Sim e isso pode implicar manter as medidas

Apesar de Portugal ter já atingido o pico da quinta vaga, tem-se verificado uma tendência de subida do número de casos, “com excepção do norte e dos Açores”, ressalva Carlos Antunes.

E o que é que isso quer dizer? Que o alcance da meta de 20 óbitos por milhão de habitantes pode arrastar-se mais uns dias e aproximar-se do período de Páscoa ou até acontecer depois se o cenário não estabilizar.

“Isto pode querer dizer que podemos ter uma tendência [de subida de casos] nas faixas etárias que contribuem para mais óbitos, que é acima dos 65 anos”, explica o investigador. Que continua: “o efeito do Carnaval, juntamente com a maior prevalência da BA.2, que está na ordem dos 60%, poderá estar a alterar a situação de incidência e isso poderá alterar a projeção”.

Espera-se que, embora com algum atraso, o número de vítimas [mortais] venha em alguma altura a refletir isso [subida do Rt]”, explica Miguel Castanho.

Para Miguel Castanho, é ainda “tudo muito incerto” e “há um grande ponto de interrogação” quanto ao comportamento do vírus nas próximas semanas, algo que, por si só, é motivo para se ir com cautela no alívio das medidas e no fim do uso de máscaras em espaços fechados, diz. “Se houver a perspectiva de o número de óbitos voltar a subir não devemos aliviar as restrições”, frisa o investigador do IMM.

Carlos Antunes considera que se forem colocados em cima da mesa todos os cenários e ainda a imprevisibilidade comum deste vírus, “a margem de erro é de três a cinco semanas”, no mínimo.

Quando questionado sobre se a Páscoa poderá fazer a DGS ponderar o fim das restrições, e sobretudo do uso de máscaras em espaços fechados, o investigador considera que “só fará isso se houver uma alteração significativa da incidência”, ou seja, explica, “se se verificar uma subida de números [de casos] poderão parar para pensar e retardar essa decisão”.

Miguel Castanho diz que, para jogar pelo seguro, para Portugal o ideal seria uma “estabilização a 14 dias de 15 vítimas mortais consistentemente”.

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