Quantas pessoas à mesa? E que testes devemos fazer? Cinco conselhos para passar o Natal em segurança

22 dez 2021, 07:00

Compilámos um guia com a ajuda de especialistas para que o Natal e o Ano Novo possam ser o mais seguros possível

No Natal de 2020 pediram-nos que fôssemos contidos nas comemorações e nos contactos, que se deviam restringir aos agregados familiares. Como limite, uma “troca de compotas” à porta de casa para pessoas de agregados diferentes.

Esse era o pedido das autoridades de saúde, quando Portugal registava cerca de quatro mil casos diários de covid-19, um pouco menos em comparação com a situação atual. A diferença? Cerca de 60 pessoas (por vezes mais) morriam por dia. Atualmente, essa cifra anda na casa dos 20 óbitos, com o máximo a fixar-se em 25, no relatório de dia 19 de dezembro.

Esse é o efeito da vacinação, processo em que Portugal é um dos países com mais sucesso, com grande parte da população a ter já o esquema vacinal inicial completo, enquanto a administração da dose de reforço também avança.

Ainda assim, os especialistas alertam que será prudente adotar um conjunto de medidas para que o Natal e o Ano Novo não originem um aumento exponencial dos casos. Para os médicos de Saúde Pública Bernardo Gomes e Ricardo Mexia, o aumento do nível de infeções no próximo ano é quase “inevitável”. Importa, então, limitar ao máximo essa subida. Como? 

Quantos mais vacinados, melhor

Se há algo que permite que as medidas deste ano não sejam tão apertadas como as do ano passado, é a vacinação. Portugal é um dos países com mais sucesso nesse processo, com grande parte da população a ter já o esquema vacinal inicial completo, enquanto a administração da dose de reforço também avança. 

“Devemos assegurar a vacinação, sobretudo dos grupos de risco”, afirma Ricardo Mexia, remetendo, sobretudo, para os mais idosos e para aqueles que têm condições subjacentes (a maioria já em condições de levar a dose de reforço).

Este será também um dado a ter em conta na hora de planear os ajuntamentos festivos, nomeadamente o Natal, que tem sempre uma maior miscelânea de faixas etárias, com idosos e jovens a juntarem-se à mesma mesa.

Para Bernardo Gomes, a vacinação deve ser um fator a ter em conta no planeamento. Na prática, quantas mais pessoas estiverem vacinadas, mais seguro será o Natal. É que, como lembra o especialista, além de proteger da doença grave, a vacina também tem algum efeito no controlo da transmissão.

“É inevitável um aumento de casos no inverno e, provavelmente, vamos ter um aumento de casos no início do ano”, acrescenta Ricardo Mexia, assegurando que “a expectativa é que os episódios mais severos sejam mais reduzidos por causa da vacinação”.

Testagem e máscaras

“Neste Natal, testar é fundamental!”. Essa foi a mensagem que acompanhou o anúncio das medidas que vão entrar em vigor a 25 de dezembro, e que foram anunciadas pelo primeiro-ministro. Os últimos dias têm sido marcados por uma corrida à testagem contra a covid-19, algo que se deve manter até ao dia 24, e prolongar-se depois para a passagem de ano. Todos querem garantir que o Natal pode ser passado em segurança, e os testes são um comportamento essencial.

Quem o diz é Bernardo Gomes, que refere que um teste de antigénio será o mais ideal, até porque o PCR demora mais tempo e é também mais dispendioso.

O mesmo diz Ricardo Mexia, que pede uma “minimização dos riscos através da testagem”.

A prática de testagem deve continuar depois de 25 de dezembro, nomeadamente no período de Ano Novo, mas também dependendo dos contactos de risco que possam surgir.

Em relação à máscara, é um comportamento que os especialistas reconhecem que não vai acontecer no Natal: “Não é possível estar à espera que as pessoas vão para a noite de Natal de máscara”, afirma Bernardo Gomes, que diz que essa é uma prática preventiva, e que, portanto, deve ocorrer antes do jantar/almoço de Natal.

A máscara deve continuar na semana seguinte, que se antecede ao 31 de janeiro, prolongando-se depois no tempo como uma das medidas mais eficazes no corte de transmissões.

Tal como a máscara, também a contenção de contactos deve ser intensificada. Aliás, Bernardo Gomes defende que uma “dieta social” devia ter sido colocada em prática sete a dez dias antes das festividades, mantendo-se pelo menos até 9 de janeiro, altura em que termina a semana de “contenção de contactos” definida pelo Governo.

Evitar jantares de Natal de empresas e amigos

Se a tal “dieta social” já deveria ter começado há uns dias, continua a ser importante aplicá-la. Nos últimos dias antes da consoada, é aconselhado que se evitem os jantares de grupo. Aquele jantar de empresa, bom para descontrair e conviver, ou a reunião anual com amigos de longa data devem mesmo ficar para outra ocasião.

Tão perto dos dias de festa, é “preciso controlar o risco na medida do possível”, diz Bernardo Gomes.

Fora disso, todos os encontros não essenciais devem ser evitados, ou pelo menos acautelados. É possível manter a troca de presentes entre amigos, numa exposição que deverá ser feita sempre com máscara, e de preferência ao ar livre.

“Sabemos que os números estão a aumentar, temos de ter cuidado para não voltarmos ao que aconteceu há um ano”, sublinha Ricardo Mexia, que vinca que a situação nunca será tão grave, uma vez que este ano há uma elevada cobertura vacinal.

Avaliar número de pessoas à mesa

No Natal podem estar a avó, o avô, os pais, as tias ou até os primos. Mas também pode não ser ajuizado fazê-lo. Confuso? Tudo depende de quatro fatores: contactos de risco, vacinação, número de pessoas e condições da habitação.

Todas as pessoas que tiveram contactos de risco nos últimos dias devem, mesmo que depois de um teste negativo, evitar estar presentes nas festividades.

O número de pessoas vacinadas também deve ser tido em conta: quanto mais vacinados presentes, mais seguro será para todos.

Quantas pessoas vão estar presentes e qual o local a ser utilizado? Estes são dois fatores que jogam em conjunto, e que se aliam aos outros dois. Um local mais amplo e ventilado permite ter mais pessoas, ao passo que uma sala pequena e sem condições de ventilação aconselha a um menor número de gente.

“É diferente ter 15 pessoas numa sala ampla ventilada, ou 15 pessoas em más condições de ventilação”, explica Bernardo Gomes, que sugere a escolha de um espaço com mais ventilação, pedindo que a confraternização não se limite à mesa: “[É recomendado] não fazer todo o ritual de jantar no mesmo espaço”.

No fundo, Ricardo Mexia resume que “devemos reduzir o número de interações, assegurar a vacinação, assegurar a ventilação e a higiene das mãos”.

Deve também ser tida em conta a organização familiar. Para Ricardo Mexia, mesmo que se junte a família à mesa, os lugares devem ser definidos de acordo com o agregado familiar. Mulher e marido lado a lado, e filhos que vivam com eles a mesma coisa.

“Não existe um número mágico de pessoas à mesa de Natal”, conclui Bernardo Gomes.

Conter-se além do Natal

Os primeiros dados dos efeitos do Natal no número de infeções devem ser conhecidos ainda antes do fim do ano. Ainda assim, as infeções ocorridas na época festiva podem estender-se até aos primeiros 15 dias após 1 de janeiro.

Dessa forma, Bernardo Gomes vê com bons olhos a antecipação de medidas definida pelo Governo. É que assim, explica, além de estarmos a limitar os contágios ocorridos no Ano Novo, estamos também a quebrar eventuais surtos que possam surgir na sequência do Natal.

“Conseguimos ter algum sinal cerca de sete dias após um determinado evento”, diz.

Já Ricardo Mexia, que assume que os números vão aumentar, entende que o essencial é avaliar as linhas vermelhas, nomeadamente a capacidade de hospitalização.

Ainda que refira uma “elasticidade” própria do Serviço Nacional de Saúde, o especialista indica que a aproximação ao limiar de 245 internados em unidades de cuidados intensivos (linha vermelha definida pela Direção-Geral da Saúde) pode ser um ponto de viragem, que pode também ter influência na capacidade de tratamento de doentes não covid.

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