Fim da obrigação de usar máscara depende de grande descida dos óbitos por covid-19 - que continuam elevados
A mortalidade por covid-19 é nesta altura o único indicador que separa Portugal do fim total das restrições relacionadas com a pandemia. O número médio diário de óbitos ainda é o triplo do recomendado pelas autoridades de saúde, numa altura em que a quinta vaga dá cada vez mais sinais de quebra no número de novos infetados.
O fenómeno parece contraditório, mas há uma explicação simples adiantada pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia: os óbitos de agora ão, na grande maioria dos casos, pessoas que testaram positivo no pico dos infetados da vaga que ocorreu na última semana de janeiro.
António Morais detalha que é essa a evolução habitual desta doença pois os mortos tendem a ser pessoas que estão internadas há muito tempo e cuja saúde se vai degradando. Na prática, como noutras ondas da covid-19, a mortalidade subiu mais tarde que o número de infetados e também tende a descer de forma mais tardia.
854 mortos em fevereiro
Desde 1 de janeiro até 18 de fevereiro, a pandemia matou, segundo os números oficiais da Direção-Geral da Saúde (DGS), 1.804 portugueses, 854 dos quais em fevereiro.
Num dos indicadores usados pelas autoridades de saúde para medir o pulso à pandemia, nos últimos 14 dias morreram, em média, 45 portugueses com SARS-CoV-2, o triplo dos 15 necessários, segundo o Governo, para acabar com todas as restrições e deixar-se, por exemplo, de ter de se usar máscara em espaços públicos fechados.
Entre os que morreram até agora em fevereiro, pelas contas da TVI/CNN Portugal, 67% tinham 80 ou mais anos, 20% entre 70 e 79 anos e 9% entre 60 e 69 anos, sendo raros os casos abaixo dessas idades e sobretudo com menos de 50 anos.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia confirma que as principais vítimas continuam a ser os mais velhos, acima dos 80 anos, mas também pessoas com determinadas doenças crónicas.
Dificuldades de contagem
O médico admite, no entanto, que pode existir outro fator a aumentar, artificialmente, os mortos por covid-19, pois é "muito difícil" separar os óbitos causados diretamente pelo coronavírus daqueles que foram internados por outras doenças e também testaram positivo.
"Temos de admitir que alguns dos mortos declarados podem não ter diretamente que ver com a covid-19", refere António Morais, que dá o exemplo de um doente com uma doença cardíaca ou outra doença crónica que morre sem se perceber exatamente se a causa está relacionada com o vírus ou com "a evolução natural da sua doença". "Aquilo que se sabe é que os indivíduos que morreram estavam infetados com covid-19", conclui o clínico.
Segundo as previsões dos peritos apresentadas na reunião no Infarmed, a mortalidade provocada pela pandemia tem tendência para descer e o limite de 15 mortos, em média, por dia deverá ser atingido daqui a cinco semanas, altura em que Portugal poderá dizer adeus às máscaras e voltar a uma espécie de nova normalidade.