Mutações da Ómicron sugerem que o vírus pode ser resistente às vacinas, diz virologista

CNN
2 dez 2021, 08:49
Nova variante covid-19

Em entrevista ao Instituto John Hopkins, Andrew Pekosz explicou que muitas das mutações da nova variante ocorreram na proteína 'spike' do vírus, onde atuam as vacinas

Em entrevista ao Instituto John Hopkins, o virologista Andrew Pekosz explicou tudo o que sabe sobre a nova variante do SARS-CoV-2, denominada Ómicron, que fez soar os alarmes em todo o mundo depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) a ter considerado uma "variante de preocupação".

Questionado pelo médico Josh Sharfstein, que dirigiu a entrevista, sobre a forma como esta nova variante foi descoberta, Pekosz explicou que, "no início da semana, alguns sequenciamentos de uma variante - que entretanto ficou conhecida como Ómicron - ficaram disponíveis em determinadas bases de dados nacionais".

E estes sequenciamentos "eram muito preocupantes em determinados níveis", apontou o professor de Microbiologia e Imunologia Molecular.

"Verificou-se um grande número de mutações nesta variante, muitas mais do que poderíamos esperar da evolução natural deste vírus. É importante salientar que muitas destas mutações ocorreram na proteína 'spike' - a proteína que o vírus usa para entrar nas células - que é o alvo das vacinas. Essas mutações parecem permitir que o vírus escape da imunidade induzida pelas vacinas em determinado nível e (...) e entre no interior das células mais rapidamente. Em teoria, esse sequenciamento do vírus parecia muito preocupante", explicou o especialista.

No passado dia 25, as autoridades de saúde sul-africanas descobriram que "um dos testes que estavam a utilizar para identificar casos de covid-19 poderia ser usado como substituto para identificar pessoas infetadas com a variante Ómicron".

Com esta descoberta, as autoridades da África do Sul verificaram "um aumento do número de casos de covid-19 impulsionados pela variante Ómicron", tendo sido esta a "última peça que faltava no 'puzzle'" e que permitiu o anúncio da circulação de uma "nova variante preocupante".

"Devo salientar que registámos outras variantes que são preocupantes", acrescentou Pekosz, lembrando que, quando surgiram as variantes beta e gama, os especialistas de todo o mundo pensaram: "isto é algo com que nos devemos preocupar".

Contudo, o que então se verificou é que nenhuma destas variantes "se espalhou globalmente da forma que se temia".

"Mas depois também tivemos outras variantes, como a alfa e a delta, que se propagaram com uma rapidez incrível. Portanto, o que nós queremos perceber é: 'a Ómicron inclui-se na primeira categoria ou na segunda? Ou está no meio de ambas?'", explicou.

Questionado sobre como se determinar isso mesmo, Pekosz salientou que "tudo depende de uma boa testagem, do sequenciamento e do rastreamento de contactos".

"O que nós queremos saber é: o vírus está a propagar-se? Se sim, está a propagar-se de uma forma que nos permite sugerir que está a impulsionar o número total de casos de um determinado país? E, uma vez que assistimos ao aparecimento desta nova variante em vários países devido às viagens, queremos começar a olhar para a propagação na comunidade nesses outros países, o que seria um outro indicador de que este é um vírus particularmente transmissível, e isso seria preocupante", notou.

Em relação a uma eventual ineficácia das atuais vacinas para proteger contra Ómicron, o especialista adiantou que os investigadores estão a "procurar obter vírus isolados em laboratório (...) para obter dados diretos sobre quão sensível ou resistente é a nova variante em relação aos anticorpos induzidos pelas vacinas e pela infeção".

Questionado, por fim, sobre a gravidade da doença causada por esta nova variante do vírus SARS-CoV-2, Pekosz afirmou que "ainda se sabe muito pouco sobre isso".

"Parece haver um número de pessoas infetadas com a Ómicron que foram vacinadas ou previamente infetadas. Os relatórios iniciais não apresentam indicação de quaisquer hospitalizações, mas os casos são muito reduzidos para já" para tirar ilações, explicou, acrescentando que os dados sobre a gravidade da doença associada à nova variante deverão ser obtidos conforme o ciclo de transmissão.

"Aí vamos ser capazes de monitorizar a gravidade da doença e fazer algumas avaliações sobre quão severa é a infeção com a variante Ómicron", sustentou, por fim

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