Se já teve covid-19, tenha atenção: cada reinfeção aumenta o risco de complicações graves

7 jul 2022, 17:07
Teste covid-19 (EPA)

Estudo alerta que a ideia de que o "sistema imunitário está treinado para reconhecer o vírus e estará mais equipado para o combater" é falsa, enaltecendo que o "risco aumenta independentemente da idade, sexo, medicação regularmente tomada e do historial de doenças do paciente"

Ter covid-19 repetidamente parece aumentar a probabilidade de se contrair novos problemas de saúde e mais graves após a infeção. O alerta é do primeiro estudo sobre os riscos de reinfeção, que aponta também que, por vezes, esta sintomatologia pode ser duradoura.

O estudo, avançado pela CNN, analisou os registos de mais de 5,6 milhões de pessoas tratadas no serviço de saúde destinado aos veteranos norte-americanos e concluiu que, quando comparados os dados referentes a pessoas que só contraíram covid-19 uma vez, com aqueles que foram contagiados duas ou mais vezes, estes últimos tiveram o dobro do risco de morrer e três vezes mais risco de virem a ser hospitalizados durante o tempo de contágio e nos seis meses seguintes à última infeção.

Os reinfetados também tiveram maiores probabilidades de sofrerem doenças cardiovasculares e pulmonares, fadiga, transtornos digestivos e urinários, diabetes e problemas neurológicos.

A investigação foi liderada pelo epidemiologista Ziyad Al-Aly, da Universidade de Washington, sediada em Saint Louis, que optou por partilhar já as primeiras conclusões, antes do estudo ser revisto pela comunidade científica, face ao elevado número de casos de reinfeção com que se tem deparado entre os seus pacientes.

“Então, fizemos uma simples questão: se já teve covid-19 antes e agora está infetado pela segunda vez, tem um risco acrescido? E a resposta simples é que tem”, explica o responsável pelo estudo.

Risco de novos problemas de saúde é maior durante o período de reinfeção

O médico e a equipa de investigação compararam os registos médicos de mais de 250 mil pessoas que testaram positivo à covid-19 apenas uma vez, com os registos de 38 mil pacientes que já tinham contraído a doença duas ou mais vezes. Como grupo de controlo, foram analisados os diagnósticos de mais de 5,3 milhões de cidadãos sem que nunca tenham sido hospedeiros do vírus SARS-CoV-2.

Entre os einfetados, cerca de 2.200 já tinham tido covid-19 três vezes e 246 contraíram o vírus quatro vezes. As queixas comuns destes pacientes são dores no peito, ritmo cardíaco anormal, ataques cardíacos, inflamação do músculo cardíaco ou do saco que rodeia o coração, insuficiência cardíaca e coágulos sanguíneos. Ao nível respiratório, os sintomas centravam-se em falta de ar, baixa pressão de oxigénio, doença pulmonar e acumulação de líquido em torno dos pulmões, disse Ziyad Al-Aly.

O estudo demonstra ainda que o risco de novos problemas de saúde é maior durante o período de reinfeção da covid-19, mas também persiste pelo menos durante os seis meses seguintes à recuperação.

Apesar da vacina provocar um enfraquecimento dos sintomas, o risco aumentado é uma constante, independentemente de se o paciente foi ou não vacinado, o que significa que o risco aumenta sempre em comparação com a infeção anterior.

“Existe a ideia de que se já tivemos covid antes, o sistema imunitário está treinado para reconhecer o vírus e estará mais equipado para o combater e, que se o contrairmos novamente, talvez não nos afete tanto, mas isso não verdade de todo”, explica o responsável pela investigação.

Risco é maior a cada nova infeção

Al-Aly salienta que isto não quer dizer que não existam pessoas que tenham tido covid-19 várias vezes e ficaram completamente bem, explicando que existem muitos casos destes. O que o estudo demonstra é que cada reinfeção acarreta um novo risco e que este risco é maior a cada nova infeção.

“A mais relevante questão para a vida das pessoas é: se forem reinfetadas, têm um risco maior de desenvolver complicações agudas ou síndrome pós-covid? E a resposta é sim e sim”, culmina.

O epidemiologista enaltece que os investigadores constataram ainda que este risco aumenta independentemente da idade, sexo, medicação regularmente tomada e do historial de doenças do paciente antes de ter tido covid-19.

As descobertas surgem numa altura em que os Estados Unidos sofrem o impacto de uma nova onda de contágios por SARS-CoV-2, sobretudo pela estirpe da Ómicron BA.5, que já se tornou dominante no território norte-americano e na europeu, provocando novo aumento do número de casos e hospitalizações.

A variante BA.5 carrega consigo mutações genéticas que a ajudam a escapar aos anticorpos gerados quer pelas vacinas quer pelas infeções anteriores do paciente, deixando várias pessoas vulneráveis às reinfeções.

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