Os sintomas da covid prolongada são "extremamente amplos" (e incluem desejo sexual reduzido, alucinações e amnésia)

26 jul 2022, 11:26
covid-19, lisboa, portugal, pessoas. 2 junho 2022. Foto: Jorge Mantilla/NurPhoto via Getty Images

Algumas pessoas parecem ter mais tendência a desenvolver a forma prolongada da doença, como mulheres, jovens e pessoas com poucos recursos económicos

Perda de olfato, fadiga, irritações cutâneas. Depois de dois anos de pandemia, já trazemos na ponta da língua alguns dos sintomas mais comuns de doença por covid-19. Os efeitos mais prolongados do vírus são menos conhecidos e ainda objeto de estudo, mas começam agora a ser revelados. E as notícias não são otimistas: as pessoas com covid longa apresentam uma variedade de sintomas “extremamente ampla”, que abrange condições de saúde tão diferentes como queda de cabelo a amnésia.

O estudo, publicado na revista médica Nature Medicine na passada quinta-feira, debruçou-se sobre uma amostra de 2,4 milhões de britânicos, entre janeiro de 2020 e abril de 2021. 486 141 inquiridos já tinham sido infetados, enquanto os outros 1,9 milhões nunca tinham testado positivo.

Ao longo das 12 semanas posteriores à infeção, o primeiro grupo reportou 62 sintomas com muito mais frequência do que o grupo que não tinha contraído o vírus. Entre os sintomas registados incluem-se queda de cabelo, alucinações, desejo sexual reduzido – e até efeitos secundários menos comummente associados à doença, como amnésia ou a incapacidade de executar instruções ou movimentos familiares.

Para além desta enorme diversidade de reações, os investigadores descobriram também grupos demográficos e padrões comportamentais que parecem aumentar o risco de desenvolver a forma prolongada da doença. Mulheres, jovens, negros e pessoas de minorias étnicas tendem a contrair estes sintomas com mais expressão, tal como fumadores, pessoas com excesso de peso ou obesidade e pessoas em situação de vulnerabilidade económica.

Shamil Haroon, um dos autores do estudo e professor clínico de saúde pública na Universidade de Birmingham, realça, em declarações ao jornal britânico The Guardian, que “esta investigação valida o que os pacientes têm vindo a dizer aos profissionais de saúde e aos políticos ao longo da pandemia – que os sintomas da covid longa são extremamente amplos e que não podem ser totalmente justificados por outros fatores de risco, como o estilo de vida ou condições de saúde crónicas”.

Anuradhaa Subramanian, também autora do estudo e professora na Universidade inglesa, explica que a análise dos sintomas reportados e dos grupos estudados é de “particular interesse, porque nos ajuda a perceber o que poderá causar ou contribuir para esta forma da doença”.

Elabora: “as mulheres, por exemplo, têm mais tendência a experienciar doenças autoimunes. Verificar esta probabilidade elevada das mulheres desenvolverem covid longa aumenta o nosso interesse em investigar se a autoimunidade ou outras causas poderão explicar o maior risco nas mulheres”.

“Estas observações vão ajudar-nos a estreitar ainda mais o foco nos fatores que poderão estar a causar estes sintomas persistentes depois de uma infeção, e como podemos ajudar os pacientes que os estão a experienciar”, conclui.

A mensagem-chave do estudo: prevenir, prevenir, prevenir 

Para Bernardo Gomes, este estudo vem reforçar o que já sabemos: “não é com ligeireza que devemos encarar as infeções e reinfeções”. O médico de Saúde Pública explica à CNN Portugal que as observações conduzidas ao longo dos últimos dois anos sugerem que alguns indivíduos – e, em alguns casos, famílias – são mais suscetíveis do que outros a problemas originados pela contração do vírus, a curto ou a longo prazo.

Estes sintomas prolongados e diferentes padrões de suscetibilidade verificam-se, igualmente, noutros tipos de doenças e infeções. Ainda assim, Bernardo Gomes realça que, no que respeita à Covid-19, estamos perante “algo extremamente relevante, em termos populacionais”, uma vez que “nunca antes tivemos infeções em tão larga escala”.

“Dada a difusão do vírus, são números muito expressivos”, frisa.

O médico reconhece que, apesar da proteção concedida pelas vacinas e medidas implementadas, “existem efeitos crónicos que ainda estão por estimar” em relação ao vírus, e em particular à sua forma prolongada. O combate a estes efeitos passa, obrigatoriamente, pela prevenção.

“Portugal está no chamado período interepidémico, mas isso não quer dizer que não nos tenhamos de prevenir e preparar os próximos capítulos, da forma menos comprometedora possível em termos sociais”. Como? Tomando consciência de que “a pandemia não acabou, continua, e vamos ter novas ondas”. Como tal, é imperativo “evitar a infeção e a reinfeção” e respeitar as recomendações das autoridades de saúde e as medidas individuais de proteção.

Outra solução poderá, também, estar a avizinhar-se no horizonte, com a “inovação das vacinas” e a melhor compreensão dos efeitos do vírus no corpo humano - possibilitada por estudos como o da Nature Medicine.

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