Covid-19: vírus perde 90% da capacidade de infetar em 20 minutos, revela estudo

12 jan 2022, 12:07
Covid-19 em Portugal

Com recurso a uma tecnologia inovadora, investigadores concluíram que as condições que o vírus precisa são as ideais nos pulmões, mas que se perdem quando as partículas são expiradas. No melhor dos cenários, como é o caso de escritórios, grande parte da infecciosidade perde-se nos primeiros cinco segundos

O vírus da covid-19 perde 90% da infecciosidade nos primeiros 20 minutos em que está no ar, com a maioria dessa perda a ocorrer logo nos primeiros cinco minutos. Esta é a conclusão do primeiro estudo sobre como sobrevive o vírus depois de ser expirado e vem reforçar a teoria de que a transmissão se pode dar com maior probabilidade nos primeiros minutos de contacto.

Para os autores do estudo, realizado pelo Centro de Pesquisa de Aerossóis da Universidade de Bristol, esta descoberta enfatiza a necessidade da aplicação de medidas protetoras como distanciamento social, utilização de máscara (saiba qual a melhor) e ventilação. Por exemplo, vejamos a aplicação das três medidas em conjunto: o distanciamento social e a máscara vão limitar a propagação entre as pessoas que partilham um espaço. Depois disso, a ventilação assume um papel-chave, uma vez que a circulação do ar renova o ambiente, conferindo maior segurança ao ambiente em questão.

"As pessoas têm estado focadas nos espaços pouco ventilados e pensam que a transmissão pelo ar se dá numa questão de metros ou numa sala. Não digo que não aconteça, mas continuo a pensar que o maior risco de exposição é quando se está perto de alguém", afirmou o principal autor do estudo, Jonatahn Reid, em declarações ao The Guardian.

Assim, o especialista define o distanciamento social como a medida mais eficaz, uma vez que, "não só o aerossol se dilui, como o vírus perde infecciosidade", uma vez que se vai dissipando ao longo do tempo.

Os únicos estudos realizados até ao momento não refletiam de forma exata o comportamento do vírus ao sair do corpo humano através da tosse ou da respiração. Até à data, o que vinha sendo desenvolvido eram estudos com a pulverização do SARS-cov-2 em recipientes fechados. Os dados mais fiáveis davam conta de que o vírus podia sobreviver até três horas. Esses estudos eram realizados com recurso a uma ferramenta chamada tambor de Goldberg, uma máquina muito utilizada no estudo de aerossóis, e que simula a circulação do ar, contendo no interior partículas de um vírus.

Os investigadores da Universidade de Bristol decidiram desenvolver um aparelho próprio, que permitiu gerar partículas minúsculas de vírus, que foi depois analisado entre cinco segundos a 20 minutos, enquanto temperatura, humidade ou radiação ultravioleta eram controlados de forma rígida.

O processo foi de tal forma inovador que Jonathan Reid não tem dúvida: "Esta é a primeira vez que alguém consegue simular o que acontece com um aerossol durante o processo de expiração".

O segredo para a rápida perda de infecciosidade está relacionado com a humidade e o dióxido carbono. Se nos pulmões existe maior humidade e dióxido de carbono, a saída para o ar faz o contrário, com as partículas a encontrarem ambientes mais secos e com maior volume de oxigénio.

Assim, a humidade relativa do ar ganha também alguma preponderância. De acordo com o estudo, quando esse valor era inferior a 50% - semelhante ao encontrado num escritório comum - o vírus perde metade da infecciosidade em apenas cinco segundos, perdendo mais 19% nos cinco minutos seguintes. Em sentido contrário, numa humidade relativa de 90% - existente em condições como uma sauna ou um balneário -, o declínio na infecciosidade é mais demorado. Cerca de 52% das partículas permanecem no ar durante cinco minutos, uma percentagem que cai para apenas 10% ao fim de 20 minutos. No fundo, mesmo no cenário mais favorável à transmissão da covid-19, ao fim de 20 minutos o vírus perde quase toda a capacidade de se propagar.

"Isto significa que, se eu estiver num bar com os meus amigos, o maior risco será eles transmitirem-me o vírus a mim, ou eu transmitir-lhes a eles, em vez de o vírus ser transmitido por qualquer outra pessoa na sala", explica Jonathan Reid, que realça a importância da utilização da máscara em espaços onde o distanciamento físico não seja possível.

O estudo desenvolvido na Universidade de Bristol ainda vai ter de ser revisto pelos pares científicos, mas parece apontar uma descoberta crucial na luta contra a covid-19. Refira-se ainda que, embora tenha incluído algumas variantes, como a Alpha, o estudo não conseguiu analisar a Ómicron, comprovadamente mais transmissível que as anteriores.

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