Políticos e peritos de saúde reuniram-se no Infarmed esta quarta-feira. Governo prepara-se para anunciar alívio das medidas com base neste encontro. Vamos caminhar para o nível 1 de restrições e, se correr bem (para isso é recomendada uma avaliação quinzenal), chegaremos em breve ao nível 0 - que será uma espécie de libertação (não total mas quase). Mas não há só boas notícias
1. O NÍVEL 1 E O NÍVEL 0
Raquel Duarte, especialista da Administração Regional de Saúde do Norte, começou por sublinhar que "Portugal é um dos países que têm menos medidas restritivas, tendo apostado em medidas como o uso de máscaras". Frisando "fatores protetores" e "ameaças" à população, salienta que "estamos em situação de passar ao nível de menos medidas restritivas", que divide em dois níveis:
NÍVEL 1:
- Testagem: manter o modelo de vigilância, com testagem em população de maior vulnerabilidade, funcionários de pré-escolar, locais de maior risco de transmissão, sintomáticos em contexto de diagnóstico;
- Máscara obrigatória em:
- locais interiores públicos;
- serviços de saúde;
- profissionais que lidem com populações vulneráveis;
- transportes públicos e TVDE;
- locais de grande densidade populacional no exterior.
- Trabalho: sem restrições;
- Estabelecimentos comerciais: sem restrições;
- Bares e discotecas: sem restrições;
- Fronteiras: isenção de teste para quem tenha certificado válido, restantes pessoas têm de fazer PCR ou antigénio nas 24 horas anteriores;
- Certificado digital: certificado em contexto de saúde ocupacional;
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"Estamos no momento ideal para passar a medidas de nível 1, sendo que se deve fazer avaliação quinzenal para avançar para o nível 0."
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NÍVEL 0
- Testagem: manter o modelo de vigilância, sem limitações no acesso a estabelecimentos comerciais;
- Máscara: sem obrigatoriedade, mas promovendo a utilização perante sintomas ou perceção de risco;
- Trabalho: sem restrições;
- Estabelecimentos comerciais: sem restrições;
- Bares e discotecas: sem restrições;
- Fronteiras: mantêm-se as regras internacionais;
- Certificado digital: sem limitações.
2. "OBJETIVAMENTE, O VÍRUS ESTÁ ENDÉMICO"
Portugal aproxima-se de uma fase de endemia em relação à covid-19, altura em que se pode "iniciar um novo ciclo de infeção e de doença". Isso mesmo diz Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que fala na necessidade de "pensar num caminho de saída". O especialista indica que "há muito que o vírus se estava a endemizar", sendo que a primeira mudança foi no comportamento da sociedade, que adotou as medidas aplicadas pelas autoridades.
"Há um ano Portugal era dos países com medidas mais intensas", recordou. Henrique Barros admite que se deve continuar a avaliar a gravidade da situação de covid-19, mas afirma: "Objetivamente, o vírus está endémico. Isto não quer dizer que não haja gravidade", disse, lembrando que malária ou tuberculose também são doenças endémicas. "Vivemos inequivocamente uma infeção sazonal", acrescentou, comparando a situação à verificada com outros coronavírus.
3. NOVAS VARIANTES E NOVO PICO PANDÉMICO
Ana Paula Rodrigues, especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), alerta que há assimetrias mundiais na vacinação que tornam "quase certa" a ocorrência de novas variantes ao longo do tempo, "com novas características" de infeção, bem como uma "variação do nível de imunidade populacional".
Os especialistas do INSA alertam também para alguns "fatores críticos" na evolução da doença nas próximas estações de outono e inverno. O surgimento de uma nova variante e a perda da imunidade conferida pela vacina são preocupações a ter em conta. Desta maneira está prevista uma nova fase de pico epidémico no próximo outono/inverno.
Em relação ao impacto de uma possível nova variante, isso vai depender do momento em que tal possa ocorrer e também da capacidade dessa mutação escapar à imunidade conferida pela vacinação ou por uma recuperação da doença.
4. NOVO MODELO DE VIGILÂNCIA
Ana Paula Rodrigues defende uma evolução do modo de vigilância da pandemia, uma vez que "é possível uma sazonalidade da circulação do vírus". "É certo que vamos necessitar de manter a vigilância da população com a monitorização do número de casos." Mas "não sendo possível nem necessário)" identificar todos os casos de covid-19, o INSA propõe que o foco seja a identificação e caracterização dos casos com impacto na mortalidade, morbilidade e na resposta dos serviços de saúde. E como a covid-19 é considerada uma infeção respiratória, "será vantajoso incluir nesta vigilância outros agentes de infeções respiratórias como a gripe e o vírus sincicial respiratório". "Não é um modelo novo que vai ser testado. É a experiência desta pandemia e de pandemia anteriores", frisa Ana Paula Rodrigues. Portanto, é este o novo modelo de vigilância proposta pelo INSA:
. Estimar e monitorizar a indicência
. Caracterizar e monitorizar a gravidade das diferentes infeções
.Identificar e monitorizar fatores de risco de doença grave
. Identificar novas variantes
. Estimar e monitorizar a efetividade das vacinas
Para cumprir tudo isto, o INSA diz que é necessário ter parceiros na implementação e execução - como hospitais, centros de saúde, laboratórios -, bem como colaborações académicas e um sistema de informação e comunicação sistemática semanal.
De acordo com a especialista, este é um modelo proposto pelo ECDC.
5. UM "OBRIGADO" DE FIM DE CICLO
No final da apresentação das análises dos especialistas, o Presidente da República agradeceu aos diferentes investigadores, falando num gesto "simbólico". É um tom de fim de ciclo. "Queria aqui, num momento que de alguma maneira é simbólico, referir como foi um esforço de equipa muito complexo, difícil", disse, referindo-se também à ministra da Saúde e à diretora-geral da Saúde.