O conselho de Costa aos portugueses: “Agasalhem-se”. PM quer que nos voltemos a proteger. E não está só a falar do frio

25 nov 2021, 23:36

Regressam a testagem em massa, os certificados e as máscaras, mas também há uma novidade: uma "semana de contenção" em 2022. Vêm aí dias frios que podem levar a um aumento de contágios

“Agasalhem-se”. Foi esta uma das últimas palavras do primeiro-ministro na conferência de imprensa desta quinta-feira, onde anunciou de novas medidas de combate à pandemia. António Costa referia-se ao frio, mas também no sentido em que este pode agravar as consequências da pandemia. A palavra pode aplicar-se, no entanto, à mensagem global: o Governo quer mais autotestes, mais autoproteção, mais prudência e prevenção nos contactos, mais “cada um a fazer a sua parte”.

"Temos de ajustar os nossos comportamentos à realidade. Vejo que está com um sobretudo [diz Costa, dirigindo-se a um jornalista presente na sala]. Estamos numa época mais fria, temos de nos agasalhar. Estamos numa época mais fria, temos de usar mais máscara, temos de ter mais disponibilidade para mostrar o certificado para entrar num restaurante, temos de ter a disponibilidade de fazer o teste se quisermos ir visitar um familiar a um lar. É o que temos de fazer para nos protegermos a nós, para protegermos os outros, e para evitarmos aquilo que é essencial evitarmos: que o janeiro do próximo ano tenha qualquer coisa que seja que ver com o terrível janeiro que vivemos este ano de 2021", afirmou, lembrando o primeiro mês do ano, durante o qual Portugal chegou a atingir um pico de 16.432 casos a 28 de janeiro, com dois dias desse período a ultrapassarem as 300 mortes.

Naquele "agasalho" pedido por António Costa está uma metáfora para a autoproteção, um sentido de consciência e responsabilidade a que o primeiro-ministro apelou, numa altura em que o país também enfrenta uma vaga de frio polar, e em que outras doenças, como a gripe, podem ter reflexo na sociedade e, em caso último, nas hospitalizações.

Esta semana, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera fez saber que uma massa de ar polar vai fazer sentir-se em Portugal pelo menos até à próxima segunda-feira, dia 29. Isso mesmo pode já ser constatado na Serra da Estrela, onde a neve cobriu a paisagem e as temperaturas baixaram dos 0 graus Celsius.

Foi a fase mais negra da pandemia em Portugal, que até tinha sido um dos países a lidar melhor com as primeiras vagas da pandemia. Mas a época de Natal e Ano Novo de 2020, com muitos ajuntamentos, acabou por resultar num escalar das infeções no início do ano seguinte. É precisamente isso que o Governo quer evitar, e a primeira semana de 2022 vai ser de "contenção", entre 2 e 9 de janeiro.

Controlada a quarta vaga da covid-19, Portugal começou a avançar para um aligeirar das medidas ainda em julho, "libertação" que terminou a 1 de outubro, altura em que praticamente tudo voltou ao que era antes de março de 2020. Mas esta semana os alarmes voltaram a soar: são dois dias seguidos com os casos a ultrapassarem os três mil por dia. Na quarta-feira foram mesmo 3.773, número que não era tão elevado desde 23 de julho.

O próximo ano arranca, por isso, com uma "semana de contenção de contactos", que vai de 2 a 9 de janeiro, e na qual regressa o teletrabalho obrigatório. Durante esse período vão também encerrar todas as discotecas e bares, havendo ainda um adiamento do regresso às aulas, que começam apenas a 10 de janeiro, com os dias perdidos a serem compensados no Carnaval e na Páscoa.

O Governo espera conseguir limitar todos os contactos na primeira semana a seguir à época festiva, até porque é previsível que existam muitos ajuntamentos nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e 1 de janeiro.

"Acho que todos já aprendemos o suficiente, ao longo destes quase dois anos, para sabermos o que devemos fazer e o que é que não devemos fazer. Eu confio que todos evitemos fazer o que não devemos fazer", avisou António Costa.

Uma recomendação para já

Se o teletrabalho só vai ser obrigatório em 2022, a recomendação do Governo vai para que a prática se efetive de forma imediata, regressando uma medida que tinha sido abolida a 1 de outubro.

Com foco nas máscaras, certificado digital e testagem, Portugal entra numa nova fase de combate à pandemia.

Regressa a obrigatoriedade da proteção facial em todos os espaços fechados, algo que já não era necessário em locais como discotecas, bares ou restaurantes, que agora se voltam a juntar a hospitais ou  transportes públicos.

Seguindo as recomendações do Centro Europeu de Controlo de Doenças, que pediu um reforço da testagem à covid-19 nos países europeus. É isso que vai acontecer em Portugal, com testes a passarem a ser obrigatórios (mesmo para os vacinados) nas seguintes situações: visitas a lares, visitas a pacientes internados em estabelecimentos de saúde, grandes eventos sem lugares marcados ou em recintos improvisados ou em recintos desportivos, discotecas e bares.

De acordo com os dados europeus sobre a testagem à covid-19, Portugal voltou na última semana aos valores mais altos de testagem em mais de um mês. A análise à semana 46 (entre os dias 15 e 21 de novembro) mostra que Portugal fez 338.203 testes nesse período. Esse número esteve sempre abaixo dos 300 mil nas quatro semanas antes. A acompanhar a subida da testagem está a positividade. Portanto, e como se tem verificado nos boletins diários da Direção-Geral da Saúde, os casos também estão a aumentar. O país tem atualmente uma taxa de positividade de 4,5%, acima dos 4% definidos nas Linhas Vermelhas traçadas por DGS e Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge. Esse número não era tão alto desde a semana 29 (entre os dias 19 e 25 de julho).

Também para jantar fora vai voltar a ser necessário andar com um QR Code atrás. Volta o certificado digital de vacinação (que pode conter o certificado de vacina, um teste negativo ou um certificado de recuperação) para os seguintes locais: restaurantes, estabelecimentos turísticos e alojamento local, eventos com lugares marcados e ginásios.

Estas são as medidas que vão entrar em vigor dia 1 de dezembro, altura em que Portugal também entra em situação de calamidade.

Foco nas fronteiras e um aviso às companhias aéreas

Terá sido a altura mais agressiva do discurso de António Costa. Quando chegou à parte de falar do controlo das fronteiras aéreas, o primeiro-ministro virou agulhas para as companhias aéreas.

As companhias de aviação não têm cumprido a sua obrigação e, por isso, alterámos o quadro contraordenacional e passaremos a aplicar uma coima de 20 mil euros por cada passageiro que seja desembarcado no território português sem que esteja devidamente testado”, afirmou, fazendo referência a uma medida que o Governo refere como "sanções fortemente agravadas para as companhias de aviação".

Assim, todos os viajantes que cheguem a Portugal de avião devem apresentar um teste negativo à covid-19, uma medida há muito erradicada, e que agora regressa. Todos os que quiserem chegar ao nosso país por via aérea devem apresentar um teste negativo feito nas 48 horas anteriores à hora do embarque.

Sobre as fronteiras terrestres, marítimas e fluviais, o comunicado do Conselho de Ministros não é claro.

"Determina-se a aplicação, com as necessárias adaptações, às fronteiras terrestres, marítimas e fluviais das regras aplicáveis à entrada em território nacional por via aérea", pode ler-se num ponto em que se refere um conjunto de medidas especiais em matéria de testagem para efeitos de viagens.

Da resiliência ao pedido de desculpas

Os profissionais de saúde aparecem como uma das figuras centrais da luta contra a pandemia. Muitos queixam-se do degradar das condições de trabalho, com as horas extraordinárias a aumentarem de forma drástica, naquilo que muitos dizem ser um "espírito de missão". Se até maio deste ano foram impedidos de se desvincularem do Estado, de lá para cá foram mais de 400 os que o fizeram.

Foi na sequência desses números, revelados pela CNN Portugal, que a ministra da Saúde deixou no ar que talvez os médicos pudessem ser mais "resilientes".

"Todos nós como sociedade pensemos nas expectativas e na seleção destes profissionais porque, por ventura, outros aspetos como a resiliência são aspetos tão improtantes como a sua competência técnica", disse Marta Temido na Assembleia da República.

Palavras que não caíram bem junto dos médicos, e que motivaram mesmo um pedido de desculpas da ministra, um dia depois: "Em momento nenhum, eu disse que era necessário contratar médicos mais resilientes. O que eu disse é que era necessário que todos investíssemos na resiliência, em profissões tão exigentes como a saúde", afirmou a governante em declarações com alguma emoção à mistura.

Já depois disso, António Costa garantiu que é “absolutamente indiscutível” que, mesmo nos “momentos mais terríveis da pandemia”, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e todos os seus profissionais mostraram “uma total dedicação, resiliência e empenho”.

Nem o Presidente da República quis ficar fora da questão. Marcelo Rebelo de Sousa utilizou as palavras "resistência e resiliência", mas para dizer que essas são caraterísticas que estão "na cabeça" de todos.

Sanada a polémica, centremo-nos agora no combate ao que parece ser mais uma nova vaga, o que, a confirmar, vai voltar a exigir dos profissionais de saúde a melhor prestação.

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