Em Itália, há quem vá a "festas covid" para ser infetado e conseguir o certificado digital

23 nov 2021, 11:48
Bebidas alcoólicas

Festas para propagar o vírus da covid-19 estão a preocupar as autoridades italianas e já há registo de vítimas

Fala-se de “festas Covid” desde praticamente o início da pandemia. Mas, desta vez, a moda tem vindo a ganhar uma dimensão preocupante no norte de Itália e já fez pelo menos uma vítima mortal. O procurador da província de Bolzano (perto da fronteira com a Áustria) abriu uma investigação depois de um austríaco com 55 anos ter morrido após participar numa destas festas.

Há ainda pelo menos três pessoas, entre elas uma criança, hospitalizadas na mesma região, depois de terem sido infetadas com covid-19 em festas semelhantes. 

Qual é o objetivo das festas covid?

As autoridades de saúde italianas acreditam que o homem que morreu era contra a vacinação e quis ser infetado com o vírus para obter um certificado digital.

Os certificados são essencialmente passaportes de vacinação que permitem aos italianos trabalhar, frequentar restaurantes e usar transportes públicos. Contudo, apenas estão disponíveis a quem estiver vacinado ou recuperado de uma infeção por covid-19 nos últimos seis meses.

Estas festas ocorrem principalmente na região Bolzano (também conhecida por Tirol do Sul), ao longo da fronteira com a Áustria, que tem atualmente um dos maiores registos de casos diários e menores taxas de vacinação em toda a Europa.

Nas festas, as pessoas infetadas convivem, beijam e abraçam os não vacinados com o objetivo de espalhar o vírus, explica ao Corriere Della Sera o vice-coordenador da unidade covid-19 da província de Bolzano, Patrick Franzoni, que alerta que os infetados podem enfrentar acusações de crimes por espalhar o vírus intencionalmente durante o estado de emergência, sob o qual a Itália ainda permanece por causa da pandemia.

De acordo com a investigação das autoridades, algumas das festas realizam-se em zonas exteriores de bares, que são acessíveis sem certificado digital. Lá, uma pessoa infetada bebe de um copo ou garrafa de cerveja e passa aos outros para tentar espalhar o vírus. Há outros eventos que são realizados em residências particulares. Num dos casos relatados, a pessoa infetada estava acamada e os hóspedes teriam-se reunido à volta do doente "para tentar respirar o vírus".

Quem é que anda "a brincar com o fogo?"

Patrick Franzoni afirma que há um grupo dos que são contra as vacinas, a ponto de considerar preferível o contágio, e explica que existem duas situações paralelas:

"Por um lado, crianças em idade escolar, talvez empurradas por pais que não acreditam na vacinação, que procuram contactos com positivos para desenvolver a infeção por acreditarem que é apenas uma gripe que não causa grandes problemas. Por outro, as pessoas mais velhas que vivem em zonas onde os números de vacinações são um pouco dececionantes", afirmou o responsável.

São os mesmos argumentos que defendem contra um novo confinamento, como na fronteira junto à Áustria, que se encontra sob forte pressão neste momento. Gente que não entende que está a brincar com o fogo"

 

A região está até assinalada como potencial "zona de alerta" em Itália, adiantou ainda o vice-coordenador, que identificou casos de jovens, alguns de idade escolar, que entraram em contacto com casos positivos para ficarem também infetados, "sem entender que o vírus é também periogoso em crianças e jovens": "Há consequências a longo prazo e até os mais velhos podem acabar no hospital".

Guido Rasi, médico italiano que já foi diretor executivo da Agência Europeia de Medicamentos, também falou sobre este fenómeno em entrevista ao canal La7, esta segunda-feira:

Festa de covid? Experiência terrível: 20% irão para os cuidados intensivos e 10-12% morrerão. A variante Delta apanha todos"

 

As restrições em vigor em Itália

Em todo o território italiano, é obrigatória a apresentação do Certificado Verde Digital (“Green Pass”) por qualquer pessoa maior de 12 anos que pretenda aceder aos seguintes espaços públicos:

  • restaurantes e bares (serviço de mesa no interior)
  • museus e parques temáticos
  • espectáculos e concertos
  • feiras e congressos
  • eventos e competições desportivas
  • piscinas e ginásios
  • centros termais, culturais, sociais ou recreativos (excluindo os que se destinam à infância)
  • casinos e salas de jogo.

A exigência do “Green Pass” aplica-se também às viagens domésticas interregionais de avião, navio, ferry, autocarro e comboio, incluindo as ligações ferroviárias de alta velocidade.

Para ser válido dentro de Itália, o Certificado Verde Digital deverá atestar a toma de pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19, aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos, ou a recuperação desta doença nos seis meses anteriores, ou a realização de um teste com resultado negativo à covid-19 nas 48 horas anteriores.

Aplicam-se medidas restritivas diferentes em cada região, consoante a sua classificação como zona vermelha (risco máximo), laranja (risco elevado), amarela (risco moderado) ou branca (risco reduzido).

A circulação interregional é permitida livremente entre zonas amarelas ou brancas, mas está condicionada se ocorrer de ou para regiões laranjas ou vermelhas. Nestes casos, deverá ser apresentada uma declaração assinada, se a deslocação for motivos de necessidade, trabalho e saúde, bem como para o regresso à própria residência. Se a viagem ocorrer por outro motivo, é exigida a apresentação de um “Certificado Verde Digital”.

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