Pyongyang acaba de revelar a quantidade de mísseis que possui, num revés de décadas de desnuclearização e políticas de segurança interna
As imagens são da imprensa estatal norte-coreana e podem tornar-se num pesadelo para uma das maiores potências do mundo. Em causa estão entre 10 a 12 mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) Hwasong-17, exibidos pelas ruas da capital Pyongyang durante um desfile na noite de quarta-feira.
O problema? É que, segundo escreve o Politico, os Estados Unidos têm apenas 44 interceptores terrestres para lançar do Alasca e da Califórnia capazes de destruir um ICBM que se aproxime. Presumindo que apenas um destes mísseis da Coreia do Norte possa acomodar quatro ogivas, é possível que Pyongyang consiga disparar mais ogivas contra os Estados Unidos do que estes conseguem interceptar.
Em teoria, o Hwasong-17 tem o alcance para chegar aos Estados Unidos a partir da Coreia do Norte. Mas Pyongyang ainda não demonstrou a capacidade de sobrevivência da ogiva na reentrada - ou que poderia atingir um alvo de tão longe.
Independentemente disso, a mensagem da Coreia do Norte e do líder Kim Jong-un é clara: apesar dos esforços, os Estados Unidos não conseguem travá-los.
E o problema pode piorar: é que, de acordo com a imprensa internacional, a Coreia do Norte também exibiu uma série de veículos que armazenam mísseis de combustível sólido, num esforço para desenvolver ICBM terrestres. Este tipo de armas não precisa de gastar tempo em abastecimento antes do lançamento - basicamente vêm pré-carregadas - encurtando, assim, o tempo que Pyongyang tem para lançá-las antes que alguém as tente neutralizar.
No entanto, os analistas não conseguiram ver o míssil propriamente dito. Ao Politico, afirmam que a caixa no camião é, provavelmente, um protótipo. Mas a versão deste ano é maior do que as anteriores, mostrando que a Coreia do Norte está a aproximar-se cada vez mais do objetivo de colocar em campo um ICBM operacional de combustível sólido.
“A Coreia do Norte geralmente exibe sistemas que pretende produzir”, explicou David Schmerler, investigador sénior do Middlebury Institute of International Studies, em Monterey. “Os designs do desfile ao lançamento podem mudar um pouco, mas esta adição reflete os esforços no país para produzir um ICBM terrestre de combustível sólido.”
Desconhece-se, contudo, como é que o governo de Joe Biden irá responder. E o próprio Conselho de Segurança Nacional norte-americano ainda não respondeu a um pedido de declarações por parte do Politico. Ainda assim, o envolvimento político é claro: administração após administração falhou em impedir os avanços da Coreia do Norte até ao momento - e agora Pyongyang está literalmente a desfilar as suas armas diante do mundo inteiro.
“A Coreia do Norte, gostemos ou não, é uma terceira relação de dissuasão nuclear para os Estados Unidos que precisará ser tratada, assim como planeamos lidar com a Rússia e a China”, concluiu Ankit Panda, membro do Carnegie Endowment for International Peace e autor de “Kim Jong Un and the Bomb”.