Projéteis caíram no Mar Amarelo e foram lançados enquanto o presidente sul-coreano dava uma conferência de imprensa em defendeu novas conversações com o Norte. Os lançamentos também coincidiram com exercícios militares envolvendo os EUA e o Japão
À hora a que o presidente da Coreia do Sul dava uma conferência de imprensa em Seul marcando os seus primeiros 100 dias no cargo, a Coreia do Norte lançou dois mísseis de cruzeiro que caíram no mar. E, com esse gesto, Pyongyang terá respondido de forma negativa às ofertas de apoio que têm sido feitas nos últimos dias pelo Sul, e que foram reiteradas esta manhã por Yoon Suk-yeol, o chefe do Estado sul-coreano.
Não há muitos detalhes sobre o lançamento norte-coreano, para além de se tratar de dois mísseis de cruzeiro que caíram no Mar Amarelo, que fica entre a China e as Coreias, banhando a costa Oeste da Península da Coreia. A informação foi adiantada pela agência de notícias sul-coreana Yonhap, citando fontes militares oficiais do país.
"A Coreia do Norte disparou dois mísseis de cruzeiro em direção ao Mar Amarelo a partir de Onchon, na província de Pyongan do Sul", disse um funcionário do Ministério da Defesa da Coreia do Sul à agência de notícias France-Presse (AFP). "As autoridades militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul estão a analisar pormenores como a distância de voo", acrescentou a mesma fonte.
Voltaram os exercícios conjuntos EUA/Coreia do Sul/Japão
Este é o primeiro lançamento de mísseis de cruzeiro pela Coreia do Norte desde janeiro, e para além de ter coincidido com a conferência de imprensa do presidente sul-coreano, acontece no dia que militares da Coreia do Sul e dos Estados Unidos começaram os exercícios preliminares com vista ao exercício anual combinado Ulchi Freedom Shield (UFS).
Para além destas duas coincidências, note-se mais uma: horas antes do lançamento dos projéteis norte-coreanos, o Pentágono revelou que os EUA, a Coreia do Sul e o Japão participaram ao longo da semana passada num exercício de defesa com mísseis balísticos ao largo da costa do Havai. Os exercícios conjuntos destes três países não aconteciam desde 2017, e aconteceram num momento de particular tensão com a China e também com a Coreia do Norte.
O presidente sul-coreano foi eleito por curta margem em parte devido à promessa de reforçar as capacidades de defesa do país, inclusivamente apostando em melhores relações com o Japão e aprofundando a aliança com os EUA, como forma de dissuadir a Coreia do Norte. A retoma e expansão de exercícios conjuntos já era uma das suas promessas.
De acordo com a informação do Pentágono, o exercício de alerta de mísseis e de busca e rastreio de mísseis balísticos aconteceu entre segunda-feira a domingo da semana passada, durante os exercícios multinacionais Pacific Dragon, e demonstrou o empenho dos três países em "responder aos desafios colocados pela Coreia do Norte, proteger a segurança partilhada e reforçar a ordem internacional baseada em regras".
Ontem, os militares norte-americanos também deram conta do ensaio de um míssil balístico intercontinental Minuteman III. O teste havia sido adiado para não coincidir com os exercícios militares da China em torno de Taiwan, e assim evitar uma escalada das tensões com Pequim durante os dias críticos que se seguiram à visita de Nancy Pelosi a Taiwan.
Sul propõe ajuda ao Norte e novas conversações
Foi neste contexto que o governo da Coreia do Norte voltou aos ensaios de mísseis, que este ano têm acontecido a um ritmo sem precedentes. Com a preocupação do Sul a crescer, o presidente Yoon Suk-yeol, que entrou em funções à cem dias, tem apostado, por um lado, no reforço das capacidades militares e defensivas da Coreia do Sul, mas também em ofertas ao Norte, tentando uma reaproximação improvável.
Logo no dia da sua tomada de posse, propôs a Pyongyang um amplo programa de ajuda financeira e investimento - e também de fornecimento de alimentos -, em troca da desnuclearização da Coreia do Norte - uma ideia que voltou a lançar esta segunda-feira, nas comemoração dos Dia da Libertação, data em que as duas Coreias assinalam a derrota do Japão na II Guerra Mundial.
Na conferência de imprensa desta manhã, Yoon voltou a fazer esta oferta a Kim Jong-un, mas foi mais longe, ao falar na necessidade de os dois países voltarem à mesa de conversações ao mais alto nível.
"Contudo, as conversações entre os líderes do Sul e do Norte e as conversações e negociações entre altos representantes, em reuniões de trabalho, não deveriam ser um espetáculo político, mas sim algo útil para o estabelecimento efetivo da paz na Península Coreana e no Nordeste da Ásia", acrescentou.
Defendendo a sua proposta de retoma das conversações entre as duas capitais coreanas, Yoon afirmou que "só se propusermos primeiro uma agenda poderemos esperar pela resposta do outro lado, e só então será possível ter reuniões ou conversações significativas necessárias para o estabelecimento da paz na Península Coreana".
Como gesto de boa vontade em relação a Pyongyang, Yoon garantiu que a reaproximação entre as duas partes não irá depender de uma mudança de regime no Norte. "Nem eu nem o governo da República da Coreia queremos que o status quo seja alterado de forma irrazoável ou pela força na Coreia do Norte", assegurou o presidente sul-coreano. Embora ressalvando que não cabe à Coreia do Sul "garantir a segurança do regime [norte-coreano]", Yoon prometeu que, do lado de Seul, não será feito para derrubar o regime dirigido por Kim Jong-un e fundado pelo seu avô, Kim Il-sung.