ONU confirma que Coreia do Norte está a reerguer capacidade nuclear e EUA prometem resposta "enérgica"

7 jun 2022, 07:32
Desfile militar em Pyongyang (Korean Central News Agency/Korea News Service via AP)

Se Pyongyang voltar a fazer testes nucleares haverá “uma resposta rápida e enérgica”, prometeu a nº2 da diplomacia norte-americana, em Seul. EUA, Coreia do Sul e Japão afinam estratégias para responder à ameaça colocada pela Coreia do Norte

O chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou aquilo que os serviços secretos sul-coreanos e norte-americanos já vêm dizendo há algum tempo: a Coreia do Norte está a preparar-se para voltar à arena nuclear, depois de cinco anos sem realizar qualquer teste atómico.

Rafael Grossi, responsável máximo da AIEA, disse ontem, numa reunião trimestral do Conselho de Governadores desta agência da ONU, que tem confirmação de trabalhos de construção que estão a melhorar e a expandir as principais instalações onde a Coreia do Norte desenvolve a sua capacidade nuclear, em Yongbyon.

Há obras nos edifícios onde é feito o enriquecimento de urânio, e estão a ser construídos novos anexos, nomeadamente perto do local onde fica o reator de água leve.

Esta informação coincide com outra, providenciada há algum tempo pelos serviços secretos dos EUA e da Coreia do Sul, segundo os quais têm sido reconstruído os túneis que dão acesso aos locais subterrâneos onde a Coreia do Norte fez os seus ensaios nucleares no passado. Esse túneis foram demolidos em 2018, quando o país anunciou uma moratória auto-imposta no seu programa nuclear, mas a sua reconstrução é o sinal de que Kim Jong-Un retomou este programa, ao mesmo tempo que acelera os testes de novos mísseis balísticos e mísseis balísticos intercontinentais. O objetivo de Kim, acreditam vários observadores internacionais, será armar estes mísseis com uma ou várias ogivas nucleares.

“Haveria uma resposta rápida e enérgica”

Perante as evidências cada vez maiores de que Pyongyang vai voltar aos ensaios atómicos, a secretária de Estado-Adjunta dos EUA, Wendy Sherman, avisou esta terça-feira que haveria uma resposta forte e clara dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão e do mundo, caso esse passo se concretize.

"Qualquer teste nuclear estaria em completa violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU [e] haveria uma resposta rápida e enérgica a tal teste ... Acredito que não só a República da Coreia [do Sul], os Estados Unidos e o Japão, mas o mundo inteiro responderá de uma forma forte e clara", disse a nº2 da diplomacia norte-americana, numa conferência de imprensa após conversações com o seu homólogo sul-coreano, em Seul. 

"Estamos preparados e ... vamos continuar a nossa discussão trilateral amanhã", acrescentou Sherman, referindo-se às conversações com a Coreia do Sul e com o Japão, os dois países que se sentem ameaçados de forma mais direta pela nova escalada armamentista da Coreia do Norte. Apesar das relações historicamente tensas e difíceis entre Seul e Tóquio, por causa do passado comum - nomeadamente as invasões japonesas, cuja última ocorreu na II Guerra Mundial -, Washington tem insistido que os seus dois aliados terão de trabalhar em conjunto para fazer frente à ameaça crescente colocada pela Coreia do Norte.

Os comentários de Wendy Sherman coincidiram com a informação veiculada pela AIEA, mas também com novas demonstrações de força por parte de Kim Jong-Un. Na segunda-feira as forças sul-coreanas e americanas dispararam oito mísseis terra-terra ao largo da costa leste da Coreia do Sul, em resposta a oito mísseis balísticos de curto alcance disparados pela Coreia do Norte no domingo. 

A resposta internacional dificilmente passará por mais sanções da ONU, pois tanto a China como a Rússia têm sinalizado que vetariam no Conselho de Segurança uma proposta nesse sentido. O agudizar da fratura entre os países ocidentais e o eixo Moscovo-Pequim, por causa da invasão da Ucrânia, é a garantia de que Pyongyang não terá de se preocupar com novas sanções, que agravem as que foram aprovadas em 2017.

Caças chineses e canadianos quase colidiram 

Entretanto, o Governo e as Forças Armadas do Canadá acusam a China de ter intercetado aviões militares canadianos que estavam a voar perto da Coreia do Norte para verificar o cumprimento dessas sanções da ONU. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, justificou que os aviões do seu país estavam a participar numa missão da ONU, e acusou a China de ações "irresponsáveis e provocatórias" que "estão a colocar as pessoas em risco, ao mesmo tempo que não respeitam as decisões da ONU de impor sanções à Coreia do Norte".

Segundo a Força Aérea canadiana, os incidentes aconteceram entre abril e maio, e foram reiterados, com jatos chineses a aproximar-se excessivamente dos aviões do Canadá, nalguns momentos obrigando-os a mudar de rota para evitarem uma colisão em pleno voo.

As acusações do Canadá foram conhecidas na semana passada, mas tiveram resposta ontem do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, que advertido o Canadá para as "consequências graves" de qualquer "provocação arriscada". Pequim acusou os aviões de guerra canadianos de intensificarem o reconhecimento contra os militares chineses, e defendeu as ações dos aviões da PLA como "razoáveis" e "profissionais".

O governo de Otava nega que o alvo das missões de reconhecimento fosse a China, e disse que os incidentes tiveram lugar em espaço aéreo internacional, o que Pequim não contestou.

O que a China contesta é o alegado mandato canadiano para verificar o cumprimento das sanções da ONU por parte da Coreia do Norte. "O Conselho de Segurança da ONU nunca autorizou qualquer país a realizar vigilância militar nos mares e no espaço aéreo de outros países em nome da aplicação de sanções", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros numa conferência de imprensa.

Para Pequim, os jatos militares canadianos, que descolaram de bases no Japão, estão a provocar a China e a colocar a sua segurança nacional em risco, "sob o pretexto" de implementar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Um incidente semelhante também foi denunciado pela Austrália, acusando caças chineses de terem assediado um avião de reconhecimento australiano, obrigando-o a mudar de rota quando monitorizava atividades no Pacífico.

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