Ex-líder Manuel Monteiro declara apoio a Nuno Melo

Agência Lusa , BC (atualizado às 18:37)
2 abr 2022, 16:04

Manuel Monteiro diz que decidiu participar no congresso dos centristas para dar o seu testemunho numa altura em que o partido "precisa de todos"

O antigo presidente do CDS-PP Manuel Monteiro declarou este sábado o seu apoio ao candidato à liderança Nuno Melo, considerando que é o eurodeputado que “está em melhores condições” para assumir o cargo.

Numa intervenção perante o 29.º Congresso, Manuel Monteiro disse ainda estar “perfeitamente disponível” para ajudar o futuro do presidente, “sem cargos, sem qualquer estatuto” que não seja o de ter sido líder da Juventude Centrista e presidente do CDS-PP.

Monteiro, que não falava num Congresso do CDS há 20 anos, deixou ainda uma palavra de otimismo aos democratas-cristãos, que perderam representação parlamentar nas últimas legislativas.

“Animemo-nos, ninguém desista!”, apelou, perante uma sala cheia e que o aplaudiu por várias vezes durante os cerca de 30 minutos que durou a sua intervenção, muitas vezes de pé.

Num longo discurso programático, em que falou de Portugal, do Governo e do CDS-PP, Manuel Monteiro guardou para o fim as razões pelas quais apoiará Nuno Melo neste Congresso eletivo, apesar de um dos outros candidatos, Nuno Correia da Silva, até ter sido seu vice-presidente.

“Creio que o partido deve serenamente pensar que os desafios que temos pela frente obrigam de uma forma serena e objetiva a percebermos que não é aquele de que alguns gostarão mais ou não, mas o que está em melhores condições de poder aceitar este desafio com a ajuda de todos”, disse.

E acrescentou: “Eu penso que o dr. Nuno Melo, sendo deputado europeu, tem essa possibilidade”, afirmou, dizendo que o candidato à liderança o tem contactado para pedir opiniões em vários temas.

Manuel Monteiro, que invocou razões pessoais para abandonar o Congresso logo depois de intervir, reiterou que, mais importante do que mágoas passadas, será encontrar “quem tenha a capacidade de levar este desafio em frente”.

“O CDS teve ao longo da sua história figuras grandes, eu fui seguramente a mais pequena, mas tive a honra de crescer com os grandes. Aprendi que quando se é maior apenas porque estamos rodeados de pequenos, não vamos a lado nenhum”, alertou.

Admitindo que possa ter estado ligado a aspetos negativos da história do partido, Monteiro repetiu, por várias vezes, que “o importante não é como” o CDS chegou aqui, mas como conseguirá sair da situação em que se encontra.

Manuel Monteiro disse não esquecer que foi o ainda presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, que lhe entregou de novo o cartão de militante do partido - saiu em 2003 para fundar a Nova Democracia e só regressou em maio de 2020 -, mas admitiu que a atual direção “teve um resultado menos bom”.

“Estou perfeitamente disponível para ajudar o novo presidente do partido”, assegurou, dizendo não querer cargos, mas deixando desde já algumas linhas de orientação para o partido no futuro

O antigo líder do CDS-PP entre 1992 e 1998 manifestou-se frontalmente contra qualquer processo de regionalização, criticou o que chamou de “regime ditatorial de quotas” de género e defendeu que o partido tem de denunciar que “o rei vai nu” no sistema educativo, criticando, por exemplo, a diminuição do número de anos necessários para uma licenciatura com o regime de Bolonha.

Manuel Monteiro deixou ainda uma palavra para os partidos parlamentares e uma mensagem de esperança para o CDS-PP.

“O PS tem maioria absoluta, mas o PSD tarda em encontrar-se, o PCP e o BE são partidos políticos que procurarão através da agitação social o que não alcançaram eleitoralmente”, considerou.

Sobre o outro espetro parlamentar, Monteiro considerou que o PS “tenderá a valorizar e privilegiar o Chega e a IL porque sabe que é isso que convém à sua manutenção no poder para o futuro”.

“Não é com discursos fantasistas de uns senhores que se arvoram as palavras em defesa de valores tradicionais de Portugal, mas à primeira oportunidade dão a mão e contratam pessoas que defendem o contrário”, disse, numa crítica aparente à contratação da antiga assessora do PAN Cristina Rodrigues pelo partido Chega.

Por outro lado, disse também que o CDS “não tem de ter medo dos liberais de pacotilha”: “Não recebemos lições de moral de liberais que vivem à conta de orçamentos de Câmaras Municipais e do Orçamento do Estado”, afirmou, sem concretizar.

“Significa que, por muito mau que seja [o CDS não ter representação parlamentar], temos todas as condições, mesmo fora do parlamento para liderar a oposição a António Costa e ao PS. Basta querê-lo, basta sabê-lo, basta ter essa vontade”, numa das passagens mais aplaudidas da sua longa intervenção.

Não era candidato à liderança

A declaração foi feita durante a sua intervenção aos congressistas. O antigo presidente do CDS-PP Manuel Monteiro descartou, à chegada ao 29.º Congresso do partido, uma candidatura à liderança. E não disse quem ia apoiar.

No exterior do Pavilhão Multiusos de Guimarães, onde decorre o congresso, e quando questionado sobre uma possível candidatura à liderança do CDS-PP, Manuel Monteiro respondeu apenas: “Minha? Ah, olhe que não, olhe que não”.

Aos jornalistas, Manuel Monteiro reforçou ter vindo ao congresso dar o seu contributo para que o CDS-PP saia reforçado e possa "regressar rapidamente ao lugar político que merece".

Assumindo que ainda ponderou se deveria estar ou não presente, Manuel Monteiro disse que decidiu participar para dar o seu testemunho numa altura em que o partido "precisa de todos".

“Acho que devo dar aqui o meu testemunho porque penso que o CDS-PP hoje necessita de todos os que vêm hoje e virão eventualmente amanhã”, sublinhou.

Questionado sobre que candidato irá apoiar, Manuel Monteiro afirmou apenas: “Vamos ver, vamos ver”. Horas depois todos viram.

A presença do ex-líder do partido Manuel Monteiro nos trabalhos do 29.º congresso foi saudada pelo presidente da Mesa, Martim Borges de Freitas.

À chegada ao Congresso, o ex-vice-presidente do CDS Filipe Lobo d`Ávila, que deixou a direção de Rodrigues dos Santos cerca de um ano após a nomeação, disse esperar que este seja “um momento de reconciliação” e defendeu que todas as sensibilidades do partido devem ter “a sua representatividade”.

“Todos fazem falta”, considerou o centrista, dizendo que “vai tentar” intervir no Congresso.

São quatro os candidatos assumidos na corrida à liderança: Nuno Melo (eurodeputado e líder da distrital de Braga), Miguel Mattos Chaves, Nuno Correia da Silva (ambos vogais da Comissão Política Nacional) e o militante e ex-dirigente concelhio Bruno Filipe Costa.

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