Harmonia precisa-se. "Numa sociedade tão conturbada como a nossa, temos de encontrar a capacidade de a sociedade se pensar em conjunto"

23 out, 10:00
25 de Abril (GettyImages/ Patrícia de Melo Moreira)

Irene Flunser Pimentel e Dulce Maria Cardoso encontram-se esta quinta-feira numa conversa à volta da "liberdade, igualdade, fraternidade". É o primeiro de três debates de "Uma ideia de harmonia", na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva

O que significa hoje liberdade, e o que são e não são direitos humanos? A igualdade existe? Que respeito devemos à diferença e à igualdade? Porque discriminamos, quem discriminamos? Estas são algumas das questões que vão orientar a conversa entre a historiadora Irene Flunser Pimental e a escritora Dulce Maria Cardoso, esta quinta-feira, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, em Lisboa - o primeiro de três debates do ciclo "Uma ideia para harmonia".

"Quando falamos de Vieira da Silva pensamos imediatamente nos seus quadros, mas ela tinha um pensamento muito interessante e tinha muitos interesses", explica a jornalista Alexandra Carita, curadora e moderadora deste ciclo de debates.

Os artistas Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes viviam em Paris quando em 1939 foi declarada a guerra. Dada a origem judaica de Arpad, o casal parte para Lisboa. Contudo, o estado português recusa a nacionalidade a Arpad e vêem-se forçados ao exílio no Rio de Janeiro, onde permanecem entre 1940 e 1947.

A pintora "foi feminista, preocupava-se com os direitos humanos, defendia a liberdade. Talvez por ter sido casada com um judeu, ter sido forçada a fugir, tudo isso fez parte da sua vida. E o que eu propus foi pensar nestes conceitos, no humanismo de Vieira da Silva, mas hoje, porque me parece que vale a pena refletir outra vez sobre o que é que isto que quer dizer", explica Alexandra Carita. 

Foi a partir daí que começou a desenhar este ciclo de conferências, pensando para celebrar os 30 anos da FASVS e que acabou por ficar com o título "Uma ideia para a harmonia". "Harmonia é uma palavra de que gosto muito", diz Alexandra Carita. "Numa sociedade tão conturbada como a nossa, o sentido tem de ser na harmonia. Temos de encontrar a capacidade de a sociedade se pensar em conjunto."

A primeira conferência parte do lema da Revolução Francesa, em 1789: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade". "São princípios que repetimos à exaustão, como um slogan, de tal forma que estão quase esvaziados de sentido. Interessava-me perguntar o que é que isto realmente quer dizer, que direitos são estes?, temos direito a tudo?, quais são os limites?", interroga a jornalista. A ideia da igualdade é central para pensar a vida em sociedade, defende. "Tentar mesmo pensar numa sociedade muito mais unida. Penso que estamos a caminhar para um abismo, então, se calhar, em vez de andarmos para a frente, temos de andar para trás, se não caímos pelo precipício abaixo."

Foi esse o desafio que colocou à historiadora Irene Flunser Pimentel e à escritora Maria Dulce Cardoso que se vão encontrar esta quinta-feira à noite, às 21:15, numa conversa intitulada "Liberdade, direitos humanos, igualdade: que princípios são estes?".

"Os temas das conferências são muito latos e intrometem-se uns nos outros", avisa Alexandra Carita. Se na primeira sessão se fala de igualdade, na segunda, a 14 de novembro, vai-se falar de desigualdade. "Discriminação: entre maiorias e minorias" junta o psicólogo social Jorge Vala e a historiadora Filipa Lowndes Vicente. "Como é que no nosso dia a dia nos tratamos de forma desigual, o que é a discriminação?", pergunta a curadora, antecipando que a conversa irá certamente passar pelo sistema democrático - "A ideia de democracia assenta na vontade da maioria, no bem do maior número possível de pessoas, mas tem por objetivo alcançar o mesmo para todos" - e provavelmente terminará com o questionamento do que é ser diferente e de como é que se gerem essas diferenças numa comunidade.

Finalmente, a 12 de dezembro, temos "Guerra e paz: respostas, causas e soluções de hoje", com o filósofo e professor Viriato Soromenho Marques e a investigadora do CES - Centro de Estudos Sociais Tatiana Moura. "Vieira da Silva viveu durante a guerra, a guerra mudou-lhe a vida. Nós também vivemos com guerras. Como é que surgem as guerras? Não aprendemos nada? Como encontrar sentido nisto?"

As conversas acontecem sempre às 21:15 no auditório da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva. A entrada é livre.

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