O descanso não é a melhor recuperação para crianças que bateram com a cabeça

CNN , Jen Christensen
29 jan 2023, 16:00
Escola

Mandar as crianças de volta para a escola em vez de as deixar em casa a descansar pode ser a melhor forma de as ajudar a recuperar mais rapidamente de uma concussão (um traumatismo craniano ligeiro), segundo uma nova investigação.

Publicada na JAMA Network Open, conclui que o regresso precoce à escola foi associado a melhores resultados para algumas crianças.

O estudo analisou dados de 1.630 crianças dos 5 aos 18 anos que deram entrada em nove urgências do Canadá. E descobriu que em crianças dos 8 aos 18 anos a recuperar de concussão, o regresso à escola, em dois dias ou menos, foi associado a menos sintomas 14 dias após a lesão. Não foi, contudo, o caso em crianças mais novas, entre os 5 e os 7 anos.

Os pacientes que seguiram as recomendações para um regresso mais lento à atividade escolar, incluindo não ir à escola ou usar dispositivos eletrónicos, demoraram mais tempo a recuperar e tiveram, em média, mais sintomas 10 dias após a lesão.

As restrições prolongadas após uma concussão podem aumentar o risco de depressão e ansiedade numa criança, demonstraram estudos anteriores. Os investigadores acreditam que a socialização, a redução do stress por não faltar muito à escola e o regresso a um sono normal e ao horário escolar podem desempenhar um papel importante numa recuperação mais rápida. A atividade física leve a moderada também pode ajudar a criança a recuperar mais rapidamente.

Chris Vaughan, autor do estudo, disse que há cerca de uma década os médicos encorajavam os pais a fazer descansar os seus filhos e a limitar a sua atividade cerebral por um período de tempo mais longo.

"Não tínhamos bons dados para recomendá-lo. Mas parecia ser a coisa certa a fazer porque estávamos a ajudar as crianças a evitar atividades que podiam desencadear sintomas, e isso tornou-se no padrão de tratamento", observou o neuropsicólogo do Children’s National Hospital, em Washington DC, Estados Unidos.

Nos últimos cinco ou seis anos, porém, houve uma mudança, segundo Vaughan, e o pensamento agora é que após o primeiro dia ou dois de descanso, alguma atividade é boa para a recuperação.

"Continuamos a precisar de levar as concussões muito a sério", garantiu Vaughan.

No passado, "estávamos a fazer aquilo a que muitas pessoas se referem como terapia de casulo, onde basicamente colocamos o nosso filho num quarto escuro e tentamos tirar-lhe todos os estímulos para simplesmente poder descansar. Mas o que aprendemos é que desligar as crianças a esse ponto atrasou de facto a recuperação da concussão", apontou Susannah Briskin, médica de medicina desportiva do UH Rainbow Babies & Children's Hospital, em Cleveland, que não trabalhou neste estudo.

As crianças devem permanecer o mais possível ocupadas e regressar à escola o mais cedo possível.

"Digo às famílias que o mais importante é evitar qualquer atividade em que a criança possa levar novamente uma pancada na cabeça enquanto ainda recupera, mas é importante começar a mexer-se e não ficar parado", explicou Briskin.

O estudo, disse, complementa o que alguns médicos já estão a fazer, mas "este foi, provavelmente, o primeiro retorno que vimos ser útil". Muitas vezes, observou Briskin, as crianças estão fora da escola cerca de uma semana após uma concussão.

"Com base neste estudo, isso é prejudicial para a sua recuperação", sublinhou Briskin.

Ajudar as crianças

A maioria das crianças com uma concussão sentir-se-á melhor dentro de algumas semanas, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, mas para algumas os sintomas podem durar um mês ou mais.

Mas só porque têm sintomas não significa que tenham de ficar em casa, consideram os médicos, podem apenas precisar de algumas alterações nas rotinas diárias. As crianças costumam ser sensíveis à luz e ao ruído após uma concussão, tal como pensar pode fazer com que se sintam pior, indicou Briskin.

"Devemos aliviar o fardo, permitindo que as crianças façam pausas nas aulas se precisarem de sair. Temos aquelas que precisam de usar óculos de sol se estiverem a ter muita sensibilidade à luz. Se tiverem muita sensibilidade ao ruído, devemos evitar que estejam em ambientes barulhentos, como aulas de música, ou até mesmo o refeitório", sugeriu Briskin.

No estudo, a ligação entre um regresso precoce à escola e menos sintomas foi mais intensa naqueles que relataram ter um maior número de sintomas no início. Os sintomas típicos incluem tonturas, dores de cabeça e náuseas.

A maioria das orientações recomenda aos que sofrem uma concussão que tenham um ou dois dias de descanso físico e mental e depois regressem gradualmente a atividades regulares.

Britt Marcussen, médico de medicina desportiva que trabalha com equipas na Universidade de Iowa e que não esteve envolvido no estudo, disse que, antes desta investigação, havia poucos dados para apoiar os estudantes no regresso à escola pós-concussão. Para Marcussen este é um dos primeiros trabalhos a mostrar que as crianças que regressam mais cedo às aulas parecem ter menos sintomas ao fim de 14 dias.

"Na verdade, este é o primeiro trabalho que vi que diz que a reintegração precoce nas atividades escolares e cognitivas pode ter algum efeito benéfico", afirmou Marcussen.

É difícil saber porque será diferente para as crianças mais pequenas, como o estudo sugeriu; Marcussen disse que pode ser por as crianças mais pequenas estarem num período de desenvolvimento diferente, ou apenas que não sejam tão claras na descrição dos seus sintomas. A Academia Americana de Pediatria sugere que os médicos utilizem uma lista de verificação para perguntar às crianças sobre os seus sintomas.

"Talvez seja mais difícil para eles identificar como se sentem", sublinhou Marcussen.

Cada indivíduo pode ser um pouco diferente, e nem todos os que sofrem uma concussão devem voltar à escola dentro de dois dias, lembrou Vaughan.

Mas, geralmente, há coisas que as pessoas podem fazer para ajudar as crianças, ou qualquer pessoa, a recuperar de uma concussão: em primeiro lugar, precisam de ser protegidas contra novas lesões ou atividades que possam prejudicar ainda mais a cabeça. As pessoas devem também ter um sono de qualidade à noite, boa hidratação e nutrição; devem até fazer um pouco de exercício, como uma caminhada.

"Manter uma criança ou aluno na sua rotina normal, o melhor que pudermos, e tentar fazê-los voltar à rotina assim que os seus sintomas permitam, parece enquadrar-se naquele modelo onde um estilo de vida saudável apoia os esforços do cérebro para recuperar e melhorar", argumentou Vaughan. "Encontrar o equilíbrio é realmente importante."

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