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O estado da comunicação e os acontecimentos - será que é verdade?

6 jun 2023, 08:18

Os últimos meses têm sido uma verdadeira interrogação para a maioria dos portugueses, e também por essa razão, reconhece-se a importância que a comunicação e que todos os órgãos mediáticos ganham em tempos de incerteza e descontentamento. No entanto, o que temos assistido tanto ao nível da comunicação política, como ao nível da comunicação empresarial é uma nova forma de comunicar.

No espaço digital, se analisarmos de uma forma breve e pragmática as notícias da atualidade, aquilo que assistimos é a constatação de que as mesmas são feitas com base na análise da veracidade do que foi dito. Isto é, estamos perante uma análise do discurso, mas onde existem apenas duas formas de interpretação: se é verdade ou se é mentira.

A ideia de que a comunicação pressupõe uma interpretação da mensagem que é recebida, em vez do conteúdo em si, deriva das recorrentes fake news, extensivamente averiguadas com a tendência do fact-checking. O panorama da digitalização e a consequente democratização da transmissão da informação, num ecossistema onde existe uma correlação entre a publicidade e o aumento do número de visualizações, alimentou a competitividade dos órgãos de comunicação. Assim, essa competitividade traz a necessidade do imediato e por consequência, muitas vezes dá origem a uma informação tendencialmente falaciosa ou com poucos fundamentos basilares de argumentação.

O fact-checking surge reactivamente como um domínio de restabelecer o equilíbrio comunicativo acima de tudo na comunicação política, seja nacional como internacional.

O espaço para a interpretação após a leitura de uma notícia política, ou de um discurso político, ou até mesmo de um post publicado nas redes sociais de uma identidade política, é de imediato curto. Na medida em que é analisado conforme a veracidade do conteúdo mencionado, dando por isso lugar a uma interpretação também ela, logo limitada.

A ideia de que toda a comunicação necessita de uma interpretação da transmissão da informação, como referiam os grandes sociólogos e políticos do passado, está em desuso. A análise dos discursos políticos da atualidade é então, em grande parte, uma análise sem sentido crítico, ficando estagnada na dimensão da credibilidade da notícia. Sendo, acima de tudo reacionária, no sentido que cria uma relação de proximidade, onde a ambiguidade de cada palavra é tida em conta, reconhecendo quão inflamável poderá ser ou quão populista. Em suma, quão em sintonia está o discurso com o público que o absorve.

A Era da informação deu lugar a uma geração mais informada; mas será que deu lugar a uma geração com maior conhecimento? A intuição do consumidor comum é tendencialmente o descredibilizar. A rapidez da informação tem contribuído para a ausência de um espírito crítico, mas apenas para a constatação da verdade ou da mentira, numa tentativa de a categorizar sem grandes aprofundamentos e/ou pensamento construtivo.

Um claro exemplo desta realidade é a rapidez com que um político poderá ser desmentido: no seguimento de uma publicação nas suas redes socais, independentemente do conteúdo (termos fiscais, contas públicas, discurso do “disse” e “não disse”), temáticas que contribuem para a estabilidade e para a certeza da audiência, que em grande medida importam para o estado da política do país.

Em suma, este novo tipo de discurso informativo para além de ser repetido constantemente, traz consequências para aquele que profere o discurso como para aquele que o desmente. A avalanche de micro-informações contribui para uma maior rede de informação, no entanto, de teor mais superficial. A credibilidade daquele que profere é em grande medida, posta em causa. Alterando assim, os paradigmas da retórica e do poder do discurso.

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