Gasolineiras recusam explicar porque subiram preços acima do previsto

Cláudia Évora , com Lusa
7 mar 2022, 21:09
Combustíveis (EPA)

Preços da gasolina e gasóleo subiram mais do que oito e 14 cêntimos previstos. Três maiores gasolineiras optam por não explicar porquê

Por que razão os combustíveis subiram (ainda) mais hoje em Portugal do que estava previsto? A decisão foi das gasolineiras. Que preferiram esta segunda feira de manhã não explicar porquê.  

Há vários dias que se sabia que esta semana os preços dos combustíveis disparariam. Oito cêntimos a gasolina 95 e 14 cêntimos o gasóleo simples, eram essas as contas. Mas o dia amanheceu com aumentos ainda maiores: na casa dos 11 cêntimos a gasolina simples e 15,5 cêntimos o gasóleo (dependendo das gasolineiras).

A explicação é, por um lado, simples: não há fixação administrativa de preços, cada gasolineira aplica os preços que quiser. As indicações de aumentos de oito e 14 cêntimos resultavam da aplicação direta da fórmula que estava a ser utilizada até aqui entre cotação internacional do petróleo e o preço final da gasolina. Foi esta fórmula que as gasolineiras alteraram, aumentando as suas margens de comercialização.

Porquê? Esta é a explicação complicada. Porque não foi dada.

Aumento do preço dos combustíveis (Lusa/Tiago Petinga)

A CNN Portugal contactou logo no início da manhã as três maiores redes de gasolineiras em Portugal, Galp, Repsol e BP. Apesar dos contactos insistentes e do envio de perguntas por telefone e por email, as perguntas ficaram sem resposta. 

Porque é que os preços estão ainda mais altos do que se esperava? Quais foram os aumentos finais e que preços estão a ser praticados? Por que razão as gasolinas continuaram mais caras que os gasóleos?

A Galp não quis comentar. A BP não respondeu. A Repsol respondeu sem responder: "As variações de preços dos combustíveis no início da semana refletem a média das cotações internacionais de cada combustível na semana anterior". 

Há duas possíveis razões para esta decisão: as gasolineiras antecipam novas subidas do petróleo nas próximas semanas e estão a precaver-se; aumentando os preços, a quantidade de combustíveis vendidos reduz-se, pelo que é preciso aumentar a margem por litro para gerar o mesmo volume de lucros. Será alguma destas razões válida? Não há respostas. 

Associações falam em "subida violenta" e acreditam em novos aumentos

Contactada pela CNN Portugal, a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO) afirma que os aumentos desta manhã "andam dentro daquilo que eram as previsões" e traduzem aquilo que foi "a subida violenta das cotações do gasóleo e da gasolina nos mercados internacionais".

"É natural que nos postos de combustível se traduza esse valor", explica o Secretário-Geral António Comprido.

É "prematuro" fazer, para já, previsões sobre novos possíveis aumentos, porque "apesar do crude estar a negociar em alta" os valores vão variar muito ao longo do resto da semana, afirma ainda António Comprido. "A instabilidade e agravamento na Ucrânia é uma situação que agita muito os mercados e não favorece a estabilidade dos preços". 

Já a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC) acredita que "tendo em conta a atual conjuntura, o preço dos combustíveis possa subir na próxima semana". Defende que este aumento é prejudicial porque "as margens são fixas em cêntimos, e não percentuais, o que implica menor lucro pois o aumento implica menor quantidade de litros vendida".

A ANAREC relembra ainda que diferença de preços entre Portugal e Espanha vai ficar mais acentuada, o que fragiliza e deixa "ainda mais desprotegidos" os "postos de fronteira". 

Durante o fim de semana assistiu-se a uma corrida aos postos de abastecimento para encher depósitos antes da subida dos preços. Muitas gasolineiras esgotaram, aliás, o gasóleo ou a gasolina nesses dias. 

Corrida aos combustíveis (Lusa/José Coelho)

As medidas do Governo para mitigar a escalada dos preços

O Governo anunciou na sexta-feira à noite um conjunto de medidas destinadas a mitigar o aumento do preço dos combustíveis, entre as quais a subida do desconto no Autovoucher de cinco para 20 euros e a manutenção, até 30 de junho, da redução do ISP na gasolina e no gasóleo e do congelamento da taxa de carbono.

O ministro de Estado e das Finanças, João Leão, e do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, anunciaram em conferência de imprensa medidas destinadas a conter o impacto das subidas que, em conjunto, totalizam mais de 165 milhões de euros.

Medidas essas que incluem ainda o prolongamento por mais três meses do apoio dado a táxis e autocarros (pagando agora 30 cêntimos por litro de combustível, em vez de 10), a atribuição de 150 milhões de euros da receita do Fundo Ambiental ao sistema elétrico nacional para baixar a tarifa de acesso às redes e o aumento do apoio individual para a aquisição de veículos elétricos de três para quatro mil euros, enquanto o montante anual subirá, este ano, para 10 milhões de euros.

Os ministros das Finanças e do Ambiente, João Leão e João Pedro Matos Fernandes (Lusa/Manuel de Almeida)

A ANAREC considera as medidas "insuficientes" e critica o facto de continuarem a ser de caráter temporário, uma vez que "não permitem uma solução definitiva do verdadeiro problema do preço dos combustíveis que é a carga fiscal pesadíssima que incide sobre gasolina e gasóleo". 

As medidas ora anunciadas (...) em quase nada irão aliviar ou solucionar os problemas do setor. Já no caso dos transportes públicos verifica-se um aumento do apoio por parte do Governo aos táxis e autocarros e não inclui os transportadores e distribuidores de produtos essenciais como é o caso dos distribuidores de garrafas de gás", esclarecem em comunicado. 

A Associação de Revendedores de Combustíveis diz ainda que as medidas implementadas "não solucionam a dinâmica do mercado dos combustíveis, nem previnem eventuais aumentos. Defendem, por isso, uma diminuição significativa dos impostos ao nível do ISP para que, deste modo, o aumento "se esbatesse no preço no ato do abastecimento".

Preço do petróleo Brent sobe 12,25% e aproxima-se de máximo histórico

O preço do petróleo bruto Brent para entrega em maio subiu esta segunda-feira 12,25% no mercado de futuros de Londres, alcançando o valor mais alto desde 21 de julho de 2008. A cotação do barril de Brent, que serve de referência na Europa, atingiu os 130,21 dólares (119,7 euros) por barril.

A invasão russa da Ucrânia desencadeou um aumento acentuado do preço do petróleo bruto, que, após o aumento desta segunda-feira, se aproxima do seu máximo histórico, acima dos 146 dólares, atingido no início de julho de 2008. A Rússia é o segundo maior produtor e exportador mundial de petróleo, atrás da Arábia Saudita.

Estamos a 7 de março e esta é a décima semana consecutiva de aumento do custo dos combustíveis. Desde que o ano arrancou que a gasolina e o gasóleo têm estado constantemente a encarecer. 

Como os preços dos combustíveis não são iguais em todas as marcas, nem em todos postos de abastecimento, saiba aqui onde pode encontrar combustíveis mais baratos.

Relacionados

Economia

Mais Economia

Patrocinados