Os combustíveis mais caros da história. Prepare-se para o verão, "a volatilidade vai continuar"

25 jun 2022, 07:00
Bombas de combustível (AP Photo)

Porque é que o gasóleo subiu mais do que a gasolina? Perda de poder de compra ou risco de recessão? Os preços continuam a bater recordes e os especialistas explica: nem tudo é justificado pela guerra

Meio país a preparar-se para ir de férias é meio país a fazer de contas ou a fazer de conta que as não faz. O algodão da estatística não engana: mesmo com ligeiras descidas no horizonte, estamos a viver no período de combustíveis mais caros de sempre em Portugal. O que se segue? Para já, nas quatro estações de 2022, três já são marcadas por preços em alta. Depois do final do inverno e de toda a primavera, a terceira estação "cara" é o verão. E a tendência, alertam os especialistas, é para manter.

“A guerra, acompanhada pelas sanções a um dos maiores exportadores de petróleo e de gás do mundo, cria uma grande incerteza no mercado", frisa António Comprido, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas. "A volatilidade vai continuar", remata. "Nesta situação existem muitas variáveis que tornam complicado ver como é que este mercado vai evoluir. Vamos continuar a ter uma grande incerteza”.

Com dados relativos ao dia 20 de junho, Portugal aparece na lista da UE com um preço de venda de 2,080 euros por litro de gasóleo e de 2,12 euros por litro de gasolina 95. A instabilidade dos mercados prenuncia que a tendência os preços ainda tem margem para subir. A incerteza gerada pela guerra na Ucrânia, a par da incapacidade por parte dos produtores de fazerem face à procura, faz com que a volatilidade continue a reinar no mercado. 

Nem tudo, no entanto, é justificado pela invasão da Ucrânia. A oferta de matérias-primas mantém-se limitada enquanto a procura se mantém elevada, o que mantém o preço do barril em valores elevados. Para Henrique Tomé, analista da XTB, esta situação até poderia ser alterada, mas para alguns países da OPEP - Organização de Países Exportadores de Petróleo, é preferível continuar a vender a matéria-prima a preços elevados. E estes países conseguem interferir no preço através da quantidade que decidem produzir.

“A oferta mantém-se limitada, enquanto a procura se mantém elevada. Os produtores poderiam dar resposta se quisessem, mas existem membros da OPEP que não têm interesse em aumentar o nível de produção, porque beneficiam dos valores mais elevados dos preços do petróleo”, afirma o especialista em mercados financeiros.

A recessão, apesar de "ser o pior cenário possível", é uma das situações que acabaria por controlar os preços dos combustíveis. O outro é um continuo aumento de preços dos combustíveis que leve as famílias e os agentes económicos a perder poder de compra, explica Henrique Tomé.

Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços dos combustíveis têm estado a encarecer, mas o aumento é mais pronunciado no gasóleo (que escalou 44 cêntimos por litro em Portugal nestes quatro meses) do que na gasolina (que subiu perto de 30 cêntimos por litro no mesmo período). Em causa estão os preços internacionais não apenas do petróleo bruto, mas dos próprios produtos já refinados, sendo a Rússia um produtor relevante de gasóleo refinado.

“A Europa era muito dependente do gasóleo russo. A Europa exporta gasolinas para várias partes do mundo, mas tem um défice significativo de gasóleo, que importava da Rússia. Daí termos assistido a um crescimento significativo do gasóleo”, explica António Comprido.

Por isso, alertam os especialistas, não se deve esperar que a descida de preços que terá lugar na próxima semana se torne uma tendência.

“Assistimos esta semana ao movimento contrário, a uma redução das cotações, tanto no crude como nos produtos refinados. Isso provavelmente vai ter um impacto positivo no bolso dos consumidores já na próxima semana, com uma redução dos preços. No entanto, não há garantias que na semana seguinte os preços não voltem a subir e a tendência se inverta”, acrescenta António Comprido.

Segundo os analistas, Portugal e o mundo ainda sentem os impactos da reabertura das economias depois de uma grande contração devido à pandemia de covid-19. A recuperação económica levou a um aumento da procura e os países produtores de petróleo não estão a aumentar a produção ao mesmo ritmo.

“Depois de um período grande de retração no consumo, como foi o período da pandemia, houve uma recuperação económica relativamente rápida, que agora foi atrasada pela guerra na Ucrânia”, frisa o secretário-geral da APETRO.

Lá fora, a análise é idêntica. A tendência de aumento de preços deve manter-se, pelo menos, até ao final do verão, de acordo com as estimativas feitas pelo banco de investimento Goldman Sachs, no início do mês, quando apontou para que as cotações do índice do Brent possam chegar aos 140 dólares por barril entre julho e setembro. Aproximadamente 30 dólares acima da atual cotação.

“Acreditamos que os preços do petróleo precisam de subir mais para normalizar os insustentáveis baixos níveis de armazenamento global de petróleo, assim como as capacidades da OPEP e da refinação”, escreveram os analistas estratégicos da Goldman Sachs.

Mas esta nem é a previsão mais elevada. Os economistas da Moody’s Analytics admitem que o preço por barril possa mesmo atingir os 150 dólares por barril, o que, no entender dos especialistas, pode causar uma recessão económica nos Estados Unidos da América.

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