Sabem, eu já vi os Coldplay este ano: preparem-se para as pulseiras metamorfósicas, as pistas cinéticas e Running Up That Hill

25 ago 2022, 21:20
Coldplay (Photo by Jim Dyson/Getty Images)

Quatro concertos em Portugal, todos esgotados: os Coldplay vão estar em Coimbra em 2023 mas há portugueses que já sabem como vai ser. Falámos com alguns deles - gente que os viu lá fora e que veio espantada, comovida até: "Acho que é algo que se deve viver antes de morrermos" (sim, quem gosta de Coldplay gosta mesmo a sério)

Dias e dias a fazer "refresh" nos sites das bilheteiras, mais de 2.000 quilómetros de viagem e ainda hotéis que pediam mais de 500 euros por noite. Parece o retrato de uma maratona, mas é na verdade o percurso de muitos fãs portugueses dos Coldplay que viajaram pela Europa para assistir aos concertos desta digressão. Quem foi partiu com as expectativas já muito altas, mas garante que o espetáculo supera tudo aquilo que se está à espera e que vale cada cêntimo.

Carlos Lobo Vasconcelos, de 50 anos, cumpriu o sonho de ver um concerto dos Coldplay ao vivo - aconteceu a 17 de julho. O advogado conta que sempre gostou da banda mas não conseguiu ir ao último concerto em Portugal, no Estádio do Dragão, em 2012, cujos bilhetes "esgotaram facilmente".

Desde então, Carlos Vasconcelos passou a estar mais atento às datas das tours, inscreveu-se nas newsletters oficiais da banda e "estava sempre a fazer 'refresh'" nos sites das bilheteira. Assim que foi anunciada uma nova digressão, depois de um interregno de quatro anos da banda, Carlos Vasconcelos recusou-se a deixar passar esta oportunidade e tentou comprar os bilhetes nesse mesmo dia. Mais uma vez, voltou a não conseguir. "Os bilhetes esgotaram logo." Outra vez.

Mas a persistência do lisboeta levou a melhor e foi com várias tentativas e erro que conseguiu comprar dois bilhetes (um para ele, outro para a esposa) para o concerto de 17 de julho, em Paris. "Conseguimos porque fomos persistentes e, por acaso, ainda havia bilhetes disponíveis para aquele dia."

O entusiasmo de Carlos foi tal que conseguiu convencer mais outros três casais amigos a embarcar nesta aventura. Mas não foram os únicos. No dia do concerto, e já no Stade de France, qual não foi a surpresa destes quatro casais quando viram o estádio cheio de portugueses - "famílias inteiras" com crianças e pessoas com idade mais avançada.

"O concerto foi absolutamente incrível. Começou pouco depois das 20:00, apanhámos o pôr do sol e foram duas horas de concerto sempre a bombar." Carlos Vasconcelos lembra ainda que o vocalista, Chris Martin, estava com uma energia contagiante em palco e interagiu imenso com o público: "Não sei como é nos outros concertos, mas ele foi especialmente carinhoso com o público em Paris, falou em francês, emocionou-se em palco. Foi espetacular."

A experiência foi tão positiva que esta quinta-feira ainda não eram 10:00 e Carlos Vasconcelos já estava numa fila para uma bilheteira, em Lagos, na esperança de conseguir comprar bilhetes para o concerto em Coimbra. "Agora queremos levar o nosso filho, que também gosta dos Coldplay. Mas agora só há bilhetes para a zona VIP, que eu não quero, porque além de serem caros acho que não justifica", diz Carlos Vasconcelos, que ainda se encontrava na mesma fila às 15:30.

Quando chegou à fila para comprar bilhetes para um dos concertos em Coimbra, ainda só havia uma data anunciada, 17 de maio de 2023. Entretanto, ao longo do dia foram anunciadas mais três datas - 18, 20 e 21 (que já estão praticamente esgotadas).

"Esta euforia só demonstra o fenómeno que é este grupo", destaca o advogado, que considera que "o Estádio de Coimbra não tem a grandiosidade do Stade de France", mas admite esperar que em termos de espetáculo e interação com o público "seja tudo igual".

Falaram com eles sobre a Ucrânia e a covid: Frankfurt

Quem já conseguiu comprar o bilhete para Coimbra foi Mariana Saraiva, que, tal como Carlos Vasconcelos, também já viajou para o estrangeiro há cerca de um mês para conseguir ver um concerto ao vivo. Mariana viajou para Frankfurt com o marido de propósito para ver os Coldplay no dia 2 de julho. "Íamos na expectativa de ver um bom concerto, mas na realidade [o espetáculo] superou e muito as expectativas. Foi um concerto que certamente nunca iremos esquecer."

Tal como Carlos Vasconcelos, Mariana recorda que viu "famílias inteiras" a assistir ao concerto: "Havia de tudo, avós, pais e filhos, pessoas mais velhas a dançar de pé durante todo o concerto. Foi realmente um ambiente muito familiar."

O que mais impressionou Mariana foi a interação entre a banda e o público, de tal forma que parecia uma autêntica "conversa num jantar de amigos": "É impressionante como no meio de milhares de pessoas eles conseguiram ter uma proximidade tão forte com cada uma das pessoas do público. Falou-se sobre a Ucrânia, sobre a covid, eles agradeceram muito a presença do público, apesar dos constrangimentos nas viagens, dos atrasos nos aeroportos, agradeceu aos pais que estavam presentes e tiraram férias para poder ir ao concerto com os filhos, foi realmente uma coisa muito próxima e muito humana."

Este à-vontade do vocalista com o público permitiu a Chris Martin fazer um pedido que quase toda a gente cumpriu. "A tendência do público era filmar e fotografar o concerto, como é agora habitual, mas ele pediu ao público para largar os telefones e viver o momento. 'Se quiserem ver isto gravado, podem ir ao Youtube', dizia ele. E isso fez a diferença."

Além da interação com o público, Mariana diz ter ficado surpreendida com "a energia" da banda em palco: "Eles não têm dois ou três concertos em três ou quatro cidades, eles passam pelo mundo inteiro e há cidades onde têm até oito concertos. Como é possível eles aguentarem aquele ritmo? Soube de amigos que foram a Paris, outros a Londres e todos disseram o mesmo."

Assim que soube que os Coldplay vinham a Portugal, Mariana decidiu comprar os bilhetes para ir com os quatro filhos, que "tiveram pena de não ir" ao concerto em Frankfurt. Apesar de Coimbra ser muito diferente de Frankfurt, "há sempre um fator surpresa" que a banda guarda para cada cidade por onde passa. "Acredito que possa haver também em Portugal. Talvez possam ter algum convidado português porque eles são muito abertos a cantar com outros artistas."

As pulseiras LED: Londres

Concerto dos Coldplay em Wembley (Getty Images)

Mais recentemente, a 17 de agosto, Mónica Vieira Rodrigues viajou com os quatro filhos para Londres para assistir ao concerto dos Coldplay no estádio de Wembley. Ao contrário de Carlos e Mariana, Mónica admite que gostava de algumas músicas da banda mas não se considerava uma fã acérrima. Tanto que nem tinha previsto ir, mas os filhos gostam tanto do grupo que preferiram utilizar o que seria "um plafond de férias" num concerto dos Coldplay. 

Mónica trabalha no mundo dos audiovisuais e até já trabalhou para alguns eventos da promotora Everything is New, mas admite que nunca viu nada igual e acredita que "dificilmente" verá. Desde a organização do concerto às questões mais técnicas, nomeadamente ao nível do som, que é sempre uma questão "mais difícil" em estádios abertos, aos ecrãs, ao fogo de artifício, "foi uma coisa única".

Na entrada para o concerto, o público recebeu pulseiras LED, monitorizadas pela organização, cuja cor se alterava consoante as músicas. "Por exemplo, quando cantaram a música Yellow as pulseiras acendiam uma luz amarela e o estádio todo ficava amarelo."

As pulseiras LED são feitas de plástico reciclado e são monitorizadas pela organização para que as cores se alterem conforme a música (GettyImages)

Além disso, e à boa maneira dos Coldplay, esta digressão quer fazer a diferença pela marca da sustentabilidade, pelo que foram lançadas várias iniciativas nesse sentido, nomeadamente a utilização de energias renováveis para suportar o consumo de energia no 'backstage', através de bicicletas e pistas de dança cinéticas que podem ser utilizadas pelo público.

"É um conceito mesmo muito diferente. Eu não era propriamente fã, mas fiquei desde que fui ao concerto", conta Mónica, acrescentando que o espetáculo "arrepia qualquer pessoa", mesmo quem não gosta da banda. "Ninguém sai dali indiferente."

Quem também viajou de propósito para Londres para assistir ao concerto em Wembley foi Ruben Batista, de 26 anos, que sempre foi fã dos Coldplay. Natural de Viana do Castelo, Rúben diz que ainda demorou uns dois ou três dias a decidir se ia ou não ao concerto, mas hoje diz que a decisão não podia ter sido a melhor. "Foi um local mágico para receber o espetáculo que foi."

Tal como Mónica, Ruben não tem dúvidas de que mesmo as pessoas que não são fãs assumidas dos Coldplay iriam gostar do concerto: "Sinto que vivi um momento mágico e recomendo a toda a gente que o experiencie também. Acho que é algo que se deve viver antes de morrermos."

Foi uma experiência tão boa que Rúben também vai repetir, desta vez em Coimbra: "Se for igual ao que vivi em Londres, perfeito. Não preciso de mais."

Concerto dos Coldplay em Wembley (Fotografia: D.R. Mónica Vieira Rodrigues)

Hotéis a €500 "mas valeu a pena": Escócia

Alexandre Silva Marques, de 48 anos, também viajou de propósito para Glasgow, na Escócia, para assistir ao concerto dos Coldplay, que decorreu esta quarta-feira à noite, no Hampden Park. Mas a compra dos bilhetes "foi uma aventura", diz. Alexandre estava de férias em Menorca quando comprou os bilhetes "já à última da hora", através da Internet. "Conseguimos comprar por 210 libras [cerca de €250] cada bilhete para um local lateral - que nem era o ideal." 

Mas a aventura não terminou aqui: no momento da procura por um lugar para pernoitar na noite do concerto "quase não havia nenhum hotel por menos de 500 euros por noite, os hotéis estavam completamente lotados". Algumas pessoas chegaram a pernoitar a mais de 50 quilómetros do local do concerto.

No final "tudo valeu a pena", garante Alexandre, que costuma viajar para assistir a concertos e admite nunca ter visto nada assim: "É um espetáculo impressionante, inacreditável." As pulseiras LED permitiram criar "uma conexão" entre o público e a banda e, além de ser uma iniciativa "absolutamente inovadora", criou um "espetáculo visual fantástico".

Momentos antes de embarcar no voo de regresso a Lisboa, Alexandre não tinha dúvidas de que queria repetir a experiência e já se estava a preparar para comprar bilhetes para os concertos em Portugal: "Foi tão memorável que assim que chegar vou passar nas bilheteiras para ir comprar os bilhetes para Coimbra."

Se dúvidas houvesse quanto ao porquê desta euforia com os concertos dos Coldplay em Portugal, os testemunhos de Carlos Vasconcelos, Mariana Saraiva, Mónica Rodrigues, Rúben Batista e Alexandre Marques mostram que há razões para tal, não fosse este um "concerto único" que, na maioria dos casos, vai ser vivido em dose dupla - das maiores cidades da Europa para Coimbra.

Quem comprou os bilhetes dos concertos em Portugal pode contar com um alinhamento recheado dos clássicos da banda, como Fix You, Yellow, The Scientist, e das músicas mais recentes, como High Power e My Universe. Mas podem também surgir surpresas - a banda está a surpreender os fãs em todo o mundo com uma cover da música de 1985 Running Up That Hill, de Kate Bush, que voltou aos tops mundiais depois de ser incluída na série Stranger Things, da Netflix (veja o momento no vídeo abaixo). De resto, ficamos a aguardar para saber qual será o tal "surpresa" dedicada a Portugal.

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