Furacões mais devastadores podem duplicar até 2050. Saiba quais serão os países e regiões mais afetados

CNN , Jennifer Gray, meteorologista da CNN
29 abr 2022, 22:00
Destruição do tufão Rai, um supertufão de categoria 5, na ilha de Siargao, nas Filipinas, em dezembro de 2021

Países em vias de desenvolvimento têm maior risco de vir a sofrer com as alterações climáticas, agravando as dificuldades já sentidas pelas populações. Os cientistas apuraram que a região em redor de Hong Kong e determinadas regiões do Pacífico Sul têm a maior probabilidade de um aumento de tempestades de alta intensidade

Furacões e tufões intensos - as tempestades mais devastadoras do planeta - poderão mais do que duplicar em 2050 em quase todas as regiões do mundo devido às alterações climáticas, declararam vários cientistas na passada quarta-feira.

O estudo, publicado na revista Science Advances, que definiu tempestades intensas como o equivalente a um furacão de categoria 3 ou mais forte, notou que a probabilidade destas tempestades virem a ocorrer será maior nas próximas décadas. E será afetado por estas tempestades intensas um número muito mais significativo de pessoas em algumas das regiões mais vulneráveis do mundo, juntou.

Os investigadores também descobriram que a velocidade do vento nestas tempestades pode aumentar até 20%, além de se prever, igualmente, um aumento tremendo na frequência da ocorrência de tempestades de categoria 4 e de categoria 5 - em mais de 200% em algumas regiões.

"Os nossos resultados também demonstram que as regiões que atualmente têm um risco (muito) baixo de ocorrência podem começar a ser realmente afetadas pelos ciclones tropicais decorrentes das alterações climáticas", afirmou Nadia Bloemendaal, cientista do clima da Universidade de Amesterdão e principal autora do estudo, num email enviado à CNN. "Achamos chocante ver a quantidade desproporcional de países em desenvolvimento em risco de vir a sofrer futuras alterações climáticas."

Risco de ocorrência de furacões e tufões aumenta com as alterações climáticas

O número e a força dos furacões e dos tufões deverão aumentar significativamente nos próximos 30 anos, de acordo com os investigadores climáticos. Algumas cidades no Oceano Pacífico verão mais do que duplicada a probabilidade de ocorrência anual de tempestades.

Probabilidade anual de ocorrência de furacões ou tufões (presente a laranja e futuro a castanho)

Fonte: Nadia Bloemendaal, Universidade de Amsterdão
Gráfico: Curt Merrill, CNN

Os investigadores utilizaram um sistema de previsão estatística designado STORM para gerar um período de 10.000 anos de condições climáticas passadas e futuras. Utilizaram então mapas de alta resolução da velocidade do vento para examinar as mudanças futuras à escala local, "o que é extremamente importante para a determinação de uma avaliação do risco", observou Bloemendaal.

Os cientistas apuraram que a região em redor de Hong Kong e determinadas regiões do Pacífico Sul têm a maior probabilidade de um aumento de tempestades de alta intensidade.

Tóquio - a maior área metropolitana do mundo, com uma população de cerca de 38 milhões de pessoas - tem atualmente uma probabilidade de 4,6% de ser afetada por uma tempestade intensa anualmente. No futuro, os cientistas descobriram que o número aumenta exponencialmente para uma probabilidade de 13,9%.

Outro aumento muito significativo foi obtido em relação ao Hawai. Atualmente, Honolulu tem uma probabilidade de 4% de ser atingido por um furacão intenso em cada ano. Em anos futuros, esse número será de 8,6% - mais do que duplicando a probabilidade de ocorrência, segundo sugere o estudo.

Os investigadores declararam que os seus resultados são, provavelmente, decorrentes do aumento da temperatura da superfície do mar em todo o mundo. As temperaturas dos oceanos aqueceram drasticamente nas últimas décadas como resultado das emissões de combustíveis fósseis. O aumento de temperatura da água "criará mais condições para as tempestades se intensificarem", afirmou Bloemendaal.

Casas danificadas no centro das Filipinas após o intenso Tufão Haiyan que ocorreu em novembro de 2013

As únicas regiões onde os cientistas não previram uma duplicação dos ciclones tropicais intensos no futuro foram o Golfo do México e a Baía de Bengala. A frequência de tempestades intensas permaneceu "essencialmente inalterada" no âmbito do estudo, observou Bloemendaal, porque as condições atmosféricas aí se tornarão menos favoráveis para tempestades tropicais no futuro.

"Os padrões climáticos globais preveem uma maior estabilidade atmosférica sobre essa região em ocorrências climáticas futuras", escreveu Bloemendaal. "Devido a esta maior estabilidade atmosférica, prevê-se que a frequência global dos ciclones tropicais no Golfo do México venha a diminuir, uma vez que as condições serão mais desfavoráveis para a ocorrência destes ciclones tropicais".

Porém, observou também que quando se formam tempestades tropicais nessas regiões, as águas mais quentes atuam como combustível extra para o ciclone se intensificar até uma categoria 3 ou superior.

Assim, embora estes cientistas esperem ver menos tempestades em geral no Golfo do México ou na Baía de Bengala, estas serão extremamente poderosas e dispendiosas.

Aumento dos custos

Os furacões e tufões são responsáveis por mais prejuízos económicos do que qualquer outro desastre natural. Só na última década, observa o estudo, os Estados Unidos da América registaram perdas de 480 mil milhões de dólares devido a tempestades tropicais e furacões.

Bloemendaal afirmou que essa é uma das razões pelas quais é mais importante do que nunca ser capaz de prever onde as tempestades mais fortes irão ocorrer no futuro.

Uma residente de Grand Isle, no Louisiana, olha para o que resta da sua casa após a passagem do furacão Ida, de categoria 4, que ocorreu em agosto de 2021

"Os nossos resultados podem ajudar a identificar os locais propensos a um maior aumento do risco de ocorrência de ciclones tropicais", afirmou Bloemendaal na declaração. "Os governos locais podem então tomar medidas para reduzir o risco na sua região, de modo a que os danos e as mortes possam ser reduzidos".

A nível mundial, formam-se 80 a 100 ciclones tropicais todos os anos. No entanto, os registos fiáveis para estas tempestades - que a certa altura só podiam ser observados por navios ou quando se faziam aterros - só remontam aos anos 60 ou mesmo mais tarde, desde que os cientistas passaram a ter acesso a satélites meteorológicos. Isto tornou mais difícil prever as mudanças que ocorreriam a longo prazo em plena crise climática.

A partir desta recente investigação, os cientistas assumem que o mundo terá uma imagem mais clara daquilo que o futuro reserva em termos das catástrofes naturais mais destrutivas do planeta.

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