"Somos os totós do clima!": Portugal suporta custos astronómicos com energias limpas para depois ficar dependente dos países mais poluidores da Terra 

23 set, 14:48

Observatório da Indústria e Energia da SEDES exige a suspensão imediata do Plano Nacional de Energia e Clima

“É um absurdo penalizar uma economia que apenas contribui com 0,12 % das emissões de CO2 a nível mundial, 1,5 % das emissões da União Europeia”, denuncia o Observatório de Energia, Inovação e Clima da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES).  

Os dados do Atlas Global do Carbono mostram que Portugal já é um dos países menos poluidores do mundo desenvolvido. O ranking do CO2 é liderado pela China, com 31,58%. Sozinho, o gigante asiático é culpado por quase um terço do total de CO2 no planeta Terra. Os outros maiores cúmplices, com graus muito diferentes de responsabilidade, são Estados Unidos (14,01%), Índia (7,84%), Rússia (4,58%) e Japão (2,92%). Na União Europeia (UE), os campeões do CO2 são a Alemanha (1,84%) e a Itália (0,94%). Feitas as contas, a China multiplica por 263 as emissões portuguesas; e a Alemanha, que tem oito vezes a nossa população, polui 15 vezes mais. 

As medidas de transição energética implementadas em Portugal são irrelevantes para o clima. Ainda que recuássemos todos ao modo de vida do Paleolítico, isso não teria qualquer impacto no planeta Terra. “Mesmo que Portugal tivesse zero de emissões, apenas iria reduzir as emissões globais em 0,12%, isto é, em nada! Ou seja, o custo para a nossa economia seria uma enormidade, para um resultado ZERO”, sentencia a SEDES.  

Um país pobre armado em rico  

O parecer da SEDES, assinado pelo ex-ministro Mira Amaral e o perito em Energia Clemente Pedro Nunes, defende que o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) deve ser suspenso, repensado e substituído por “um verdadeiro plano energético”, com metas realistas e racionalidade económica. O PNEC, tal como está, não passa de “um plano para o CO2”. A revisão apresentada por este Governo à discussão pública “repete rigorosamente os mesmos erros da versão apresentada pelo Governo anterior, agravando-os”.  

O PNEC tem problemas de “inviabilidade” em muitas medidas e de “ineficácia” quanto aos grandes desígnios. A despeito da proliferação de fontes de energia renovável nos países desenvolvidos, as emissões de CO2 continuam a aumentar, tendo ultrapassado as 35 mil megatoneladas. “Apesar dos elevadíssimos esforços financeiros feitos, quer pelas famílias quer pelas empresas, o ritmo de crescimento das emissões globais de CO2 não mostra sinais de abrandar”, salienta o observatório da associação cívica portuguesa, fundada em 1970.  

As políticas europeias de transição energética agravam a desvantagem competitiva face às economias emergentes sem quaisquer preocupações reais com a descarbonização. “O preço que temos pago, nos últimos anos de obsessão pelo CO2, em nada contribuiu para a redução das emissões, mas teve um elevado custo para a competitividade da indústria europeia”, resume a SEDES.  

O efeito mais perverso da “obsessão” pela redução de emissões é prejudicar a competitividade da economia portuguesa, tornando-a mais dependente, designadamente dos países mais poluidores do mundo. O esforço “inglório e suicidário” da UE levou à “transferência de amplos sectores industriais para os países que mais emitem (a China e os Estados Unidos)”. Na expressão do presidente da SEDES, Álvaro Beleza, “comportamo-nos comos uns totós, enquanto à nossa volta andam todos a tratar da Economia”. 

A políticas portuguesas são, ainda mais, “um absurdo”. Portugal anda a financiar o enriquecimento de países mais ricos, subsidiando o desenvolvimento de tecnologias e a sua implantação em grande escala no seu território, antes que as mesmas estejam suficientemente maduras e se apresentem no mercado a preços sustentáveis. “Não se entende como, sendo um país com pouco valor acrescentado nas tecnologias envolvidas, e caminhando Portugal para ser um dos países mais pobres da UE, quer ter a ambição de liderar na Europa a transição energética. Não bate a bota com a perdigota!”, protestam os peritos do observatório da SEDES. “Nós temos de fazer políticas de descarbonização, mas também temos de perceber que já avançámos muito nesse caminho. Não é por sermos os campões e os pioneiros, que vamos resolver os problemas do planeta”, explica Álvaro Beleza. 

Um país rico, mas poupado  

Sobre o passado, o observatório da SEDES critica “sucessivos governos que apoiaram a eólica com tarifas políticas muito generosas”. E denuncia “a utilização de grandes áreas agrícolas ou florestais para a instalação de centrais fotovoltaicas”. Trata-se de “um crime ambiental, que vai destruir a biosfera das regiões afetadas”. Para o futuro, a SEDES identifica o hidrogénio como próxima tecnologia cujo desenvolvimento deverá depender de custos acrescidos para os consumidores.  “Quem vai pagar os subsídios necessários ao preço do hidrogénio?”, perguntam os peritos. 

O parecer aponta alguns caminhos, como a substituição das grandes centrais fotovoltaicas pelo “solar distribuído”. Ou seja, painéis solares em múltiplas unidades de produção para autoconsumo e em comunidades de energia renovável. Itália e Noruega são apresentadas como exemplos neste domínio. O observatório também defende a aposta em centrais de produção eléctrica a partir de resíduos florestais: “É fundamental promover a viabilização económica da recolha dos excedentes de biomassa nos terrenos rústicos, que de outra forma irão ajudar à propagação dos incêndios rurais”. 

A SEDES propõe o adiamento do leilão previsto no PNEC para a instalação de grandes centrais eólicas no mar. “Com o aumento de custos dos materiais e a subida das taxas de juro, a eólica marítima deverá custar agora bem acima dos €160/MWh”, calcula a SEDES. E dá o exemplo da Noruega, que “adiou por dez anos os projectos de eólica marítima através de plataformas flutuantes, devido à imaturidade da tecnologia”. A Noruega, de acordo com os barómetros da ONU, é o país com melhor qualidade de vida do mundo. 

Clima

Mais Clima

Patrocinados