Sheinbaum foi anterirormente presidente do Governo da Cidade do México e secretária do meio ambiente sob a liderança de Obrador na mesma instituição
Claudia Sheinbaum toma posse esta terça-feira como a 66.ª presidente do México, marcando um momento histórico ao tornar-se a primeira mulher a ocupar este cargo. A sua eleição representa não apenas um avanço significativo para a representação feminina na política mexicana, mas também uma continuidade das políticas do seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, que deixa o lugar ao fim de seis anos. A nova presidente será empossada numa cerimónia que terá lugar no Congresso do México, para um mandato que irá durar até 2030.
López Obrador, que deixou o poder com um grau de popularidade superior a 60%, era famoso pelo seu estilo extrovertido e próximo nas conferências matutinas que dava, denominadas "mañaneras". Durante estas sessões, AMLO - sigla pela qual é conhecido - não só criticava adversários políticos, como também promovia as suas próprias políticas de forma descontraída e acessível. As mañaneras tornaram-se uma tradição essencial na vida política do México, definindo as principais notícias do dia enquanto o auditório tomava o pequeno-almoço.
A tarefa que agora recai sobre Sheinbaum não é fácil. Muitos analistas políticos apontam que o seu estilo, considerado menos espontâneo do que o de Obrador, poderá dificultar a manutenção do mesmo nível de popularidade. "Não é um ato fácil de seguir", afirma à agência Reuters Ryan Berg, diretor do Programa das Américas no Centro de Estudos Estratégicos Internacionais.
A primeira conferência de imprensa de Sheinbaum está agendada para quarta-feira. Embora a nova presidente tenha de lidar com a expectativa de dar continuidade ao legado de Obrador, espera-se que o seu tom e abordagem sejam diferentes. "Ela pode tentar manter esse alto nível de popularidade, como López Obrador fez, e reprimir o seu lado político tecnocrático, mas isso não lhe convém necessariamente", acrescentou Berg.
Sheinbaum, que foi presidente do governo da Cidade do México e secretária do meio ambiente sob a liderança de Obrador na mesma instituição, conquistou a presidência com cerca de 60% dos votos em junho, superando a candidata da oposição, a ex-senadora de centro-direita Xochitl Galvez. Este resultado não só demonstra a força do legado de Obrador, mas também reflete a confiança dos eleitores em Sheinbaum para prosseguir com as políticas que caracterizaram o seu antecessor.
Apesar das incertezas que a nova presidente enfrenta, a expectativa é que a tradição das mañaneras permaneça. No entanto, o desafio será adaptá-las ao seu próprio estilo, evitando comparações que possam ser vistas como tentativas de imitação. Com 62 anos, Sheinbaum terá de encontrar o equilíbrio entre respeitar o legado de Obrador e afirmar a sua própria identidade política num país em constante transformação. "Sheinbaum tem os mesmos reflexos, mas não tem o mesmo carisma", disse o estratagista de campanha e mensagens políticas Sergio Torres, à Reuters. Acrescenta ainda que a nova presidente "tem um grande desafio de abrir espaço no seu próprio estilo, mas com o mesmo peso de López Obrador".