Sean Penn estava na Ucrânia quando a guerra começou e saiu do país a pé com milhares de refugiados. "Se permitirmos que Zelensky lute sozinho a nossa alma americana está perdida”

8 abr 2022, 08:00
Sean Penn presente em conferência num centro de acolhimento a refugiados em Rzeszow, na Polónia (fonte: Getty)

A produzir um documentário sobre a Ucrânia desde o ano passado, Sean Penn estava no país quando a guerra começou. Desde então, tem-se multiplicado em encontros com refugiados e apelos para ajudar o país. E chegou até a ameaçar derreter as suas estatuetas dos Óscares.

Quando os tanques e soldados russos entraram na Ucrânia, Sean Penn estava a preparar um documentário sobre a escalada de tensão no país. O ator e realizador de 61 anos tinha visitado as linhas da frente das forças armadas ucranianas junto à região de Donetsk em novembro e estava em Kiev em fevereiro deste ano, quando eclodiram os primeiros ataques.

Na véspera da invasão russa, Penn tinha estado com o próprio Volodymyr Zelensky. Já durante a guerra, conversou com a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk, bem como com jornalistas locais e líderes militares. O gabinete de Zelensky disse, num comunicado, que Penn iria “contar ao mundo a verdade” e apelidou-o de "verdadeiro amigo da Ucrânia". “Demonstra a coragem que a muitos tem faltado, em particular a alguns políticos ocidentais. Quanto mais pessoas houver assim – verdadeiros amigos da Ucrânia, que apoiam a luta pela liberdade – mais rapidamente poderemos parar esta invasão hedionda da Rússia”.

"A Ucrânia é a ponta da lança para o abraço democrático dos sonhos. Se permitirmos que Zelensky lute sozinho a nossa alma americana está perdida”, disse o ator num comunicado, dois dias depois da guerra começar.

O documentário de Penn era sobre um escalar de tensões, mas a partir do momento em que começou a guerra, o foco passou a ser o conflito. A data de estreia do documentário está por definir.

Um comovente encontro com Zelensky

À conversa com Anderson Cooper no programa “Anderson Cooper 360” da CNN Internacional, Penn descreveu o encontro com o presidente ucraniano no dia anterior à invasão russa e depois novamente no primeiro dia de guerra. “Não sei se ele sabia que nasceu para isto, mas era claro que eu estava na presença de algo que era novo para o mundo moderno em termos de coragem, dignidade e amor”, contou, visivelmente emocionado. “Fiquei impressionado e comovido por ele, e aterrorizado por ele e pela Ucrânia”.

Fuga da Ucrânia pelo próprio pé

Juntamente com dois colegas, o ator deixou o país de carro, tendo abandonado a viatura à beira da estrada. Caminharam vários quilómetros ao lado de muitas outras pessoas até atravessarem a fronteira da Ucrânia com a Polónia. “Quase todos os carros nesta fotografia levam apenas mulheres e crianças, maioria sem qualquer vestígio de bagagem, e um carro é o seu único objeto de valor”, escreveu no Twitter.

Já na Polónia, o ator anunciou o trabalho da Community Organized Relief Effort (Core) – organização não-governamental que fundou em 2010 – junto de vários refugiados ucranianos. "Não conheço um valor maior do que abrir as nossas portas àqueles que mais precisam. Neste caso ao heróico povo da Ucrânia". A CORE distribui kits de higiene, dinheiro e água entre os refugiados à medida que chegam, mas também os ajuda a sair do país.

"O momento mais obsceno da história de Hollywood"

Sean Penn já venceu por duas vezes o Óscar de melhor ator e ameaçou derreter as suas estatuetas caso a Academia não permitisse que Volodymyr Zelensky discursasse na 94.ª edição dos Óscares. A cerimónia, que aconteceu a 28 de março, incluiu um minuto de silêncio para homenagear as vítimas da guerra, mas o presidente ucraniano não chegou a falar. E a promessa de Sean Penn? Que se saiba, ficou por cumprir.

“Se a Academia tiver decidido não apoiar os líderes da Ucrânia que estão a levar com balas e bombas por nós, assim como as crianças ucranianas, que eles estão a tentar proteger, então acho que cada uma dessas pessoas e todos as partes dessa decisão serão o momento mais obsceno da história de Hollywood", disse Sean Pean, numa outra entrevista à CNN Internacional, desta vez com Jim Acosta.

A ideia tinha vindo de Amy Schumer, uma das três anfitriãs do evento que terá proposto à Academia espaço para o chefe de Estado da Ucrânia dizer algumas palavras.

"Um milionário poderia acabar com esta guerra"

É no Twitter que Penn expressa regularmente as suas frustrações sobre os últimos desenvolvimentos da invasão russa. Já depois da cerimónia dos Óscares, o ator utilizou a rede social para apelar aos milionários que comprassem aviões para ajudar militarmente a Ucrânia. Mais precisamente, 270 milhões de euros em 12 aeronaves F-15 e F-16. “Juntem ainda 180 milhões em mísseis de defesa, o que dá um total de 450 milhões de euros. Um milionário poderia acabar com esta guerra na Ucrânia”, pode ler-se na publicação.

Sean Penn tem estado no centro de operações antiguerra e humanitárias há vários anos. O documentário “Citizen Penn”, lançado em 2020 no serviço de streaming Discovey Plus, mostra os esforços do ator aquando da fundação da CORE, em resposta aos terremotos no Haiti em 2010. A organização também disponibilizou equipas munidas de testes e vacinas durante a pandemia da covid-19.

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