"Fascinante, provocador": cientistas japoneses criaram óvulos a partir de células masculinas

CNN Portugal , MCP
9 mar 2023, 12:49
Hayashi (foto: Kyushu University)

Investigação de cientistas japoneses levanta a hipótese de casais do mesmo sexo poderem ter filhos biológicos

Cientistas da Universidade Osaka, no Japão, conseguiram criar crias de rato ao usar apenas células masculinas. Esta é uma nova descoberta que pode abrir novas possibilidades na forma como os humanos se reproduzem, quer se seja mulher, quer se seja homem.

“Este é o primeiro caso de produção de ovócitos de mamíferos a partir de células masculinas”, disse o líder da investigação, Katsuhiko Hayashi, da Universidade de Osaka, na sua apresentação durante a Human Gene-editing Summit, esta quarta-feira. 

Para se chegar aqui, a investigação seguiu vários passos. O sistema tinha a ambição de duplicar o cromossoma feminino, XX, ou seja, transformar cromossomas masculinos em femininos. Para isso, os investigadores precisaram de transformar células de pele. Como? As células masculinas foram alteradas para o estado de células-tronco, que são células não diferenciadas que têm o potencial de se transformarem num dos 200 tipos existentes de células - e, desta forma, o cromossoma masculino Y, da junção XY, foi substituído pelo feminino X, produzindo assim a célula-tronco pluripotente com dois cromossomas idênticos.

O que se seguiu foi a incubação das células num sistema que imita as condições dentro de um ovário de um rato. Quando os óvulos foram fertilizados com esperma comum, os cientistas conseguiram 600 embriões, que foram implantados nos animais - o que resultou no nascimento de sete crias. No final, a eficiência deste experiência foi de 1%, um resultado inferior se compararmos aos 5% alcançados pelos óvulos normais femininos. 

Segundo Hayashi, os ratos “parecem bem, a crescer normalmente” e “tornaram-se pais”.

Agora, a ideia é conseguir o mesmo com células humanas e, nos planos do investigador, pode ser possível criar um óvulo através de células da pele masculina. 

A técnica pode vir a ser utilizada em várias formas de infertilidade, como por exemplo em casos de mulheres afetadas pelo Síndrome de Turner, uma doença rara que causa anomalias nos cromossomas femininos, ou em casos de casais do mesmo sexo.

No entanto, há quem acredite que é uma visão otimista, já que ainda há cientistas a tentar criar óvulos humanos através de células femininas sem sucesso.

George Daley, reitor da Faculdade de Medicina de Harvard, descreve o trabalho desenvolvido como “fascinante”, mas acrescenta que outras pesquisas indicam que a criação de gametas em laboratórios através de células humanas é mais complicado do que através de células de ratos.

“Ainda não temos conhecimento suficiente acerca da complexa biologia da gametogénese humana para reproduzir o trabalho tão provocador que Hayashi conseguiu nos ratos”, diz.

Até agora, cientistas têm criado precursores de óvulos humanos mas as células acabam sempre por parar de se desenvolver no estágio da meiose, essencial para o desenvolvimento de espermatozóides e óvulos maduros. 

Para já, “estamos estagnados”, diz Amander Clark, que investiga gametas desenvolvidos em laboratório na Universidade da Califórnia. “O próximo passo desafia a engenharia. Mas isso pode demorar 10 a 20 anos.”

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