Viajou sozinho durante meses por vários países e muito pouca bagagem. Preocupava-se com a pobreza, o colapso da civilização e tinha o sonho de salvar o planeta de uma crise ecológica, mas acabou a lutar por Vladimir Putin alguns na linha da frente.
O filho de uma vice-diretora dos serviços secretos norte-americanos foi morto na linha da frente na Ucrânia em abril de 2024, depois de ter assinado um contrato com o exército russo, de acordo com uma investigação de um meio de comunicação independente russo. O pai confirmou a morte à imprensa americana, acrescentando que o filho lutava contra problemas de saúde mental.
Michael Alexander Gloss, de 21 anos, vinha de uma família militar norte-americana. O pai de Gloss é um veterano da marinha americana e Juliane Gallina, a mãe de Gloss, foi a primeira mulher comandante dos cadetes da Academia Naval e trabalhou para os serviços de informações durante 30 anos, até tornar-se a vice-diretora de Inovação Digital da CIA, em fevereiro de 2024, poucas semanas antes da morte do filho.
De acordo com o obituário publicado pela família, Michael Gloss morreu a 4 de abril na "Europa de Leste" durante "as suas viagens ao estrangeiro". “Com o seu coração nobre e espírito guerreiro, Michael estava a forjar a sua própria jornada de herói quando foi tragicamente morto”, refere o obituário.
O que a publicação omitia e que a investigação russa revelou é que Michael Gloss deixou toda a sua vida nos Estados Unidos para trás e viajou durante meses pelo mundo até chegar à Rússia, em 2023, onde se alistou no exército russo. Inicialmente, Gloss viajou para a Itália, rumando de seguida para Israel. Mas a viagem durou pouco tempo, acabando por ser deportado. O jovem decidiu então viajar para a Turquia, onde passou vários meses, antes de seguir para a Rússia.
Um amigo de Gloss que conviveu com ele na Turquia revelou que o jovem vivia consumido com pensamentos negativos, acerca da pobreza, colapso de civilizações e com o sonho de salvar o planeta de uma crise ecológica. Segundo o jovem, Gloss estava convencido que a "hegemonia ocidental estava a chegar ao fim" e que "os BRICS iriam tomar o seu lugar".
Outro jovem recorda a revolta expressada contra os Estados Unidos da América durante a partilha de vídeos dos ataques em Gaza. O jovem recorda que foi nesse momento que viu Gloss determinado em rumar em direção à Rússia e "lutar contra os EUA". "Mas acho que aqueles vídeos de teorias da conspiração o afectaram mesmo", admite.
Na sua página da rede social russa Vkontakte, o jovem descrevia-se como apoiante do mundo multipolar. "Fugi de casa. Viajei pelo mundo. Odeio fascismo. Amo a minha pátria", acompanhado por bandeiras da Rússia e da Palestina.
Dados obtidos pela investigação mostram que o jovem entrou na Rússia através da Geórgia em agosto de 2023. Um mês depois surgem registos médicos de Gloss que detalham a rua Yablochkova, em Moscovo, como sendo a sua morada. Esta é a morada que é atribuída a todos os voluntários que chegam à capital russa para lutar pelo exército de Vladimir Putin.
O pai de Michael Gloss afirmou que o jovem julgava que faria parte de uma unidade de apoio do exército russo. Mas a verdade é que o filho da vice-diretora da CIA foi enviado para unidades de assalto da 137.º Regimento Aerotransportado. A última vez que entrou no Telegram foi no dia 14 de março de 2024, duas semanas antes de a sua unidade iniciar uma ofensiva contra as posições ucranianas. No entanto, as circunstâncias exatas da morte de Michael Gloss não são conhecidas.