Perdemos metade da chuva

Agência Lusa , AM
9 ago 2022, 10:56

Este é o segundo ano mais seco desde 1931

Desde outubro do ano passado até hoje choveu praticamente metade do que seria um ano hidrológico normal, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Um ano hidrológico está compreendido entre 01 de outubro e 30 de setembro do ano seguinte e até agora, segundo os dados do IPMA, o ano hidrológico de 2021/2022 é o segundo mais seco desde 1931 (desde que há registos), só ultrapassado pelo ano hidrológico 2004/2005.

Segundo fonte oficial do IPMA, em resposta a perguntas da Lusa, choveu até agora neste ano hidrológico 419 milímetros (mm), 51% do que seria um valor normal.

Com todo o país continental em seca, 55% em classe de seca severa e 45% em seca extrema, o IPMA considera que a seca “teria um desagravamento significativo” se nos próximos dois meses chovesse acima da média. Mas adianta que tal só acontece em 20% dos anos.

Em termos médios teria de ocorrer em setembro em outubro, para que a situação melhorasse, algo como 150 mm em setembro e 175 mm em outubro.

Ainda que tenha chovido na primavera deste ano, nalgumas regiões acima da média em março, segundo resultados preliminares do boletim climatológico da primavera a precipitação na estação correspondeu a 80% do normal.

A situação de seca do corrente ano hidrológico já se vinha agravando desde o outono do ano passado, quando a quantidade de precipitação nos meses de setembro a novembro foi de 172,8 mm, o que correspondeu a cerca de 69% do valor médio. O último outono, segundo o IPMA, foi o terceiro mais seco desde 2020. E o mês de novembro foi especialmente seco, com menos 90,5 mm de chuva em relação ao valor médio.

Em resultado de um outono com pouca chuva, a seca meteorológica estendia-se a quase todo o território no fim de novembro e aumentou de intensidade a sul. No final do outono, 92% do território continental estava em seca meteorológica, ou seja com falta de chuva.

No inverno, segundo os dados do IPMA, a situação não melhorou, a estação foi a quinta mais seca desde 1931. Os números mostram que o total de precipitação nos meses de dezembro a fevereiro, 117.6 mm, correspondeu apenas a 33% do valor médio.

Janeiro foi classificado como muito seco e fevereiro como extremamente seco.

Juntando à falta de chuva as temperaturas elevadas (quarto inverno mais quente desde 1931), o inverno passado saldou-se por um agravamento da seca meteorológica, que se tornou mais intensa em todo o continente. No fim do inverno, 66% do continente estava nas classes de seca mais graves, severa e extrema.

E além das temperaturas elevadas o país registou já este ano duas ondas de calor.

Questionada pela Lusa sobre se tal agravou a situação de seca, a fonte do IPMA explicou que “a seca hidrológica que o território continental enfrenta está diretamente relacionada com o défice de precipitação persistente registado e não tanto com a ocorrência de ondas de calor”.

“As ondas de calor são fenómenos que, de alguma forma, são integrantes de caracterização climática do território continental e com impacto na evaporação da quantidade de água armazenada nas albufeiras, barragens e represas”, acrescentou.

E choverá nos próximos meses? Segundo o IPMA a atual previsão sazonal, “com todas as condicionantes conhecidas”, não indica “um sinal consistente de défice de precipitação”.

“Poderemos prever que a precipitação ocorrerá com valores normais para esses períodos”, diz a fonte.

Mas avisa que apesar do “sinal positivo em termos da precipitação”, e tendo em conta o que choveu até agora e o que se prevê, o défice de água nas barragens e albufeiras dificilmente será colmatado.

14 dos últimos 20 anos foram de pouca chuva

Nos últimos 20 anos só em seis choveu o considerado normal, em relação ao período 1970-2000, indica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que alerta para secas mais longas e mais abrangentes.

“Em 14 dos últimos 20 anos registámos défice de precipitação em relação ao período 1970/2000, situação que propicia a ocorrência de períodos em que o território continental estará nas classes mais elevadas da seca meteorológica e consequentemente seca agrícola e hídrica”, disse fonte oficial do IPMA em resposta a perguntas da Lusa.

A propósito do período de seca que o país atravessa, com 55% do território continental em classe de seca severa e 45% em seca extrema, o IPMA alerta que em algumas das secas meteorológicas mais recentes os períodos secos duram mais tempo e “têm uma configuração espacial mais abrangente”.

E se ciclicamente a região sul do continente é a que regista maiores períodos de seca meteorológica, nos últimos anos mais regiões ficam em classes mais elevadas do índice de seca, nomeadamente a região norte transmontana e também o norte litoral, explicou a fonte do IPMA.

Se for considerado o ano hidrológico, que vai de 01 de outubro a 30 de setembro do ano seguinte, o atual ano, até à data, é o segundo mais seco de sempre (desde 1931, quando começaram a ser compilados os dados), só ultrapassado pelo ano hidrológico 2004/2005.

Se forem considerados os números apenas entre janeiro e julho (ano civil) o IPMA nota que o ano mais seco foi o de 2005, seguindo-se 2012, pelo que este é terceiro ano mais seco desde 1931.

De acordo com dados da página oficial do IPMA sobre a monitorização da seca, atualizados na segunda-feira, no último ano nunca o país esteve sem seca em alguma região.

Em julho do ano passado quase 40% do território continental estava normal e o restante em seca fraca, moderada ou severa. A situação agravou-se em agosto (22% do território) mas melhorou nos dois meses seguintes. Só que a partir de novembro piorou significativamente, só 8,1% do território estava então em condição considerada normal, passando a 6,3% em dezembro, ou seja piorando ainda mais.

A partir de janeiro deste ano todo o continente entrou em regime de seca, até hoje. Desde então tem predominado a seca extrema e a seca severa, exceções para março e abril em que a seca foi predominantemente moderada.

Segundo a fonte do IPMA ter áreas do continente em seca desde o início do ano hidrológico é uma “situação recorrente”, especialmente na região sul. Aliás, afiança a fonte, “já ocorreram secas meteorológicas que duraram mais do que um ano hidrológico”.

Este ano, apontou, o mês de março até teve precipitação acima do normal, quer na região norte (aproximadamente 130%), quer na região sul, com aproximadamente 200%.

Segundo a fonte até tem sido registada precipitação, mensalmente, em todo o território, durante o presente ano hidrológico.

“O que acontece é que os valores são muito reduzidos face ao que consideramos normal, isto é, quantidade de precipitação pouco expressiva quando estamos numa situação de défice de precipitação persistente”, acrescentou.

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