“Já não estou tão assustada”. Entrevista à líder da TAP (na íntegra)

30 nov 2021, 07:00

“Os custos serão sempre uma obsessão” para Christine Ourmières-Widener. Veja e leia a entrevista da presidente executiva da TAP, em exclusivo à CNN Portugal

Chegou há cinco meses à TAP e diz que já não está assustada. Mesmo se ainda desconhece as imposições que Bruxelas poderá impor no plano de reestruturação para aprovar as ajudas de Estado. Christine Ourmières-Widener recebeu a CNN Portugal no Hangar 6 do aeroporto de Lisboa, o maior hangar da TAP, onde explicou o trabalho de manutenção de aeronaves, para a TAP mas também para outras companhias, que há anos garante uma forte reputação da TAP nesta área. Ali há manutenção mas também transformação em aviões de carga. “Temos uma fantástica equipa de mecânicos a fazer trabalho de manutenção não só para nós, TAP, mas também para outras companhias do mundo inteiro”, diz. E fala da nova  geração de Airbus, que permite poupar combustível, produzindo menor impacto ambiental… e nos custos da empresa. Sobretudo quando o petróleo está, em média, bem mais caro agora, o que pode vir a provocar aumentos nas tarifas.

Com o preço do petróleo tão elevado, isso é um problema para as companhias aéreas como a TAP.

Todas as companhias aéreas estão preocupadas, porque vimos o aumento do combustível nos últimos meses. Esse é um dos fatores externos que não conseguimos controlar.

Isso está a acontecer agora? As tarifas estão a aumentar devido à crise do petróleo?

Em primeiro lugar, as tarifas dependem da procura e da oferta. Não podemos dizer que é uma mudança a nível global, mas penso que entre o que vimos durante a crise e agora, temos uma fase estável das tarifas. Não aumentamos porque sim, estamos num mundo competitivo, mas penso que não existe volatilidade, ou seja, as tarifas estão muito estáveis e têm aumentado um pouco durante a crise. E agora ainda estão um pouco mais altas, em média, do que antes. Se será o suficiente para contrabalançar o combustível, essa é a dúvida.

Taxas de ocupação ainda são insuficientes

Como estão as taxas de ocupação nos voos? Já há mais procura?

Há mais procura, mas em média a nossa taxa de ocupação está a aumentar lentamente. Porquê? Porque era muito baixa, durante a crise, em algumas rotas, mas estávamos a voar menos. Há uma recuperação lenta. Se está no nível ideal para uma companhia aérea ser sustentável? Claro que não. Mas agora começamos a atingir o nível dos 70% [de ocupação de aviões], mas para uma companhia aérea ser lucrativa a longo prazo, é melhor estar nos 90%, e a curto prazo é melhor estar nos 80%. Ainda temos margem para melhorar. Mas temos algumas rotas que já estão cheias. Dependendo dos dias, podemos ter um período de muita procura, como o Natal

Já têm muitas reservas para o Natal?

Com certeza. Para o Natal, para a TAP, e temos muita sorte porque é um período de muita procura, temos alguns voos cheios: por exemplo, os voos de e para o Brasil. Quando tive de ir ao Brasil, há poucas semanas, tive de alterar as datas, porque estavam completamente cheios.

A presidente da TAP teve de alterar as datas?

Sim! O cliente está primeiro.

“A minha missão é restaurar o orgulho de Portugal na TAP”

Chegou a Portugal há cerca de cinco meses. Que companhia encontrou?

Encontrei uma empresa em crise, porque todo o setor estava em crise e continua a estar numa crise difícil. É a crise mais significativa que o setor teve de enfrentar na sua história. Foi muito esforço e muito trabalho, durante um processo de despedimento coletivo, com bastante pressão, não apenas sobre a equipa de gestão, mas também sobre todos os funcionários que, de forma bastante significativa, têm feito um grande esforço para salvar a empresa. Pelo meio, também houve um plano para ser aprovado pela Comissão Europeia. Dá imenso trabalho estruturar um plano e trabalhar nesse plano com o Governo, mas, ao mesmo tempo, existe a ambição de ser melhor, e eu acho que todos os funcionários que conheci - bem, eu ainda não conheci todos eles... -, eles estão dispostos a fazer parte do sucesso futuro da empresa. Existe imensa incerteza, devido às exigências, por causa do setor e da pandemia. Também existe muita incerteza sobre como será o futuro, pelo plano ainda não aprovado pela Comissão Europeia, mas toda a gente está disposta a apostar no futuro.

Não será fácil gerir tanta incerteza. Até onde consegue ver, até onde consegue alcançar na sua gestão?

Tem toda a razão, a incerteza é o mais difícil de gerir numa posição de liderança. Temos de ter um objetivo, temos de nos concentrar no que achamos que deve ser o verdadeiro objetivo de organização. A minha missão é garantir que a TAP se torna num negócio sustentável, num negócio rentável e restaurar o orgulho de Portugal na TAP enquanto empresa de sucesso. É essa a minha missão.

Definimos quatro pilares para concretizar este plano. O primeiro é o ajuste da nossa capacidade e assegurar que a nossa rede é consistente com a atividade principal. O segundo é melhorar a nossa estrutura de custos. O terceiro, claro, refere-se ao aumento de receitas. E o quarto, que também é um desafio, trata-se de restaurar o nosso balanço contabilístico, porque a nossa situação financeira hoje, mas também no próximo ano, será difícil. Temos de garantir que a situação financeira melhora, durante este plano de quatro a cinco anos.

“Estou a trabalhar imenso. Sou um ser humano”

A empresa está a ser resgatada com o dinheiro dos contribuintes. Muitas pessoas têm dúvidas acerca do sucesso ou insucesso deste plano. Por que razão devem os contribuintes confiar em si?

Bem, é uma excelente pergunta. Primeiro, acho que os contribuintes têm de ser convencidos, e eu acho que muitos estão convencidos, de que a TAP é crucial para o país, devido ao que a TAP oferece, em termos de ligação. Liga o país, as empresas, as pessoas e as famílias, liga as comunidades. E também por estar sedeada em Portugal, com uma boa posição geográfica na Europa. Isso faz com que seja ainda mais importante ter uma linha aérea nacional que sirva o país. A TAP já cumpre esse papel agora e continuará a cumprir no futuro.

Quanto à sua questão sobre acreditar no meu papel e naquilo que farei pela empresa, com a minha equipa... Quero dizer aos contribuintes que estou a trabalhar imenso. Sou um ser humano e estou a servir-me de toda a minha experiência e de toda a minha motivação e ambição para poder ver e perceber com a minha equipa como podemos levar a TAP até ao patamar seguinte.

Quando falo de ambição, não falo apenas de ambição pessoal, mas também da equipa. Eu vejo a energia e motivação de todos os funcionários da TAP. Eles estão preparados para concretizar isto. Resta-me garantir que, enquanto líder, eu consiga dar essa energia a todos os funcionários, convencê-los que é possível e que vamos conseguir. Repito que não acontecerá em dias ou meses, mas temos alguns anos para atingir o objetivo e vemos melhorias todos os dias.

Estamos à espera dos resultados das negociações entre o Governo e a Comissão Europeia sobre o plano de restruturação. Quais são os elementos-chave que terão impacto na companhia?

Ter a aprovação é um primeiro passo para melhorar o ambiente em que vivemos. Com esta aprovação, ficamos num caminho mais seguro para a recuperação. Para mim, isso é muito importante. Depois, o plano terá alguns objetivos, os fatores críticos de sucesso, e temos de os cumprir passo a passo. A maioria destes fatores, claro, diz respeito ao aspeto financeiro. Por isso, temos de apresentar os resultados que esperam de nós, não só da parte da União Europeia, mas também da parte dos acionistas... Quando digo acionistas, refiro-me ao Governo, mas também a todos os contribuintes portugueses.

Foi noticiado que a TAP pode perder 12 “slots” [posições de voo no aeroporto]. Se assim for, será o dobro do inicialmente proposto pelo Governo. Que impacto teria a perda de tantos “slots”?

Mais uma vez, não posso comentar números. As soluções baseadas nos “slots” são típicas e esperadas em qualquer negociação com a Comissão Europeia. Porquê? Porque quando se vê a situação de outras companhias na Europa, quer seja a da Lufthansa ou a da Air France, em Orly, todas tiveram de procurar soluções baseadas em “slots”. Então, as negociações com a Comissão Europeia continuam a decorrer. Claro que nós, na TAP, gostaríamos que qualquer solução seja gerível, é para isso que estamos a trabalhar, mas o processo é conduzido pelo Governo, mais uma vez. Como houve um resgate, a negociação é conduzida pelo Governo. Fazemos parte de um grupo de trabalho com a comissão governamental e estamos a certificar-nos, e é esse o objetivo de todos: de que qualquer decisão nos permita ser sustentáveis, porque, em última análise, é esse o objetivo deste plano.

“Precisamos de reduzir custos”

Provavelmente, haverá obrigação de reduzir mais custos do que se esperava. Está preparada para reduzir mais custos na TAP?

Precisamos de reduzir os custos. Esse é obviamente o compromisso da TAP. Depois disso, é importante dizer que tudo o que foi feito até agora foi uma antecipação da progressão lógica do plano. Ou seja, todas as iniciativas que foram desenvolvidas até agora, incluindo o despedimento coletivo, estão em concordância com as expetativas do plano de redução de custos. É isso que temos feito até agora, não estamos à espera que o plano seja aprovado para começar a fazer o trabalho. Não tenho expetativas de termos um plano diferente, pois estamos a contemplar o plano na transformação a que já estamos a assistir na empresa.

Não espera uma redução de custos superior, principalmente em questões de pessoal?

Se me está a perguntar sobre o plano, como lhe disse, já o contemplámos. Depois disso, não posso prever se no futuro teremos uma nova crise, se teremos uma nova pandemia, por isso, teremos de nos adaptar. Não temos um plano adicional relativamente, por exemplo, à redução de efetivos, mas se no futuro nos depararmos com outra crise, outra pandemia, teremos de nos adaptar. Mas hoje não temos esse cenário, estamos só a lançar e a transformar a empresa para a tornar um negócio sustentável.

Esteve há dias no Brasil para lidar com a questão da manutenção. Já tem resultados dos seus planos para reduzir o problema financeiro da manutenção do Brasil?

Compreendo a sua pergunta. A minha resposta é: estamos a analisar algumas opções, não existe uma decisão final. Assim que tomarmos essa decisão, claro que iremos comunicá-la, mas também quero que se recordem que temos equipas na M&E Brasil que também estão à espera de saber o que se vai passar, então, também temos de gerir com cuidado a comunicação para lhes dar algum nível de segurança. Estamos a trabalhar nalguns planos, temos várias opções e tencionamos comunicá-las em breve.

Nas receitas, Quais são os mercados principais da TAP, além do Brasil?

O primeiro mercado é Portugal, o segundo é o Brasil, o terceiro é o mercado europeu. Por exemplo, França é o nosso segundo mercado na Europa. E também temos a América do Norte. Também temos alguns países africanos que são muito importantes. Na América do Norte, começámos a voar bastante em 2019. Então, o mercado norte-americano começa a crescer novamente, mais lentamente do que o Brasil. Mas sem dúvida, em primeiro está Portugal, em segundo, o Brasil, em terceiro a Europa e depois, quase iguais, a América do Norte e África. Ainda não estamos ao nível de 2019. Este inverno, estamos a usar 80% da nossa capacidade, comparando com 2019. Então, estamos a reabrir esses destinos, mais ainda não estamos ao mesmo nível de frequências por destino, estamos a reconstruir esta rede, passo a passo, reforçando a nossa presença onde achamos que há uma margem aceitável para os voos que temos para esses destinos. A TAP voa para o outro lado do Atlântico para esses mercados tão importantes, faz a ligação à Europa, portanto, a posição estratégica da TAP é muito vantajosa, mas está num mercado muito competitivo.

A TAP pode continuar a ser uma empresa autónoma?

É uma pergunta mais dirigida aos acionistas. Mas se me perguntar, de um ponto de vista setorial, penso que temos de seguir o que está a acontecer na consolidação do setor de companhias aéreas, e isso é algo que agora estamos a encarar mais de uma perspetiva de “codeshare” [acordos partilha de passageiros] com outras companhias. Então, estamos sozinhos quanto à estrutura dos nossos acionistas, mas do ponto de vista puramente empresarial temos “codeshare” com várias empresas, somos membros da Star Alliance. Os fluxos de receitas não têm apenas origem nas vendas diretas, mas também no que vendemos nas outras companhias aéreas e no que as outras transportadoras vendem na TAP. Também temos outros parceiros no Brasil: a GOL, a Azul...Também na América, além da Star Alliance, temos a JetBlue. No setor das companhias aéreas, devido à presença global, é impossível estarmos verdadeiramente sozinhos, porque nunca podemos ser fortes o suficiente para cobrir todas expectativas dos nossos clientes. Sobre o próximo passo em relação ao que podemos fazer no futuro, repito, essa é uma pergunta para os acionistas.

“Entendo comentários de intervenientes do Porto, mas isso não significa que não seja o plano certo para a TAP”

Além da crise que já descreveu, temos em Portugal uma crise política, há pressão de políticos sobre a TAP, há do Governo, a oposição, presidentes da Câmara como o do Porto. Como lida com esta pressão política?

O meu papel é ser uma líder empresarial. Sobre a pressão política, primeiro, eu confio no nosso Governo, porque são acionistas, e estou a tentar apenas responder a todas as questões apresentando factos e números, penso que é o melhor a fazer em todas as situações. Compreendo algumas questões, compreendo alguma frustração. Também estou convencida de que alguns líderes que fazem perguntas sobre a TAP ou que não estão contentes com a TAP também sabem como o negócio deve ser gerido e também compreendem o que estamos a tentar alcançar. E devo dizer que todos os políticos com quem estive têm o maior respeito pela TAP, compreendem o papel da TAP, hoje e amanhã, e estas discussões para mim têm sido muito interessantes, porque ainda estou a descobrir Portugal, ainda estou a aprender sobre as várias posições e opiniões. Tenho viajado para a Madeira, para o Porto, para os Açores, o mais possível, e para algumas regiões.

A TAP, atualmente, está num modelo de negócio de “hub-and-spoke” em Lisboa. Também temos alguns destinos transatlânticos a partir do Porto, porque são sem dúvida uma promessa de destino e origem sustentáveis, e tencionamos mantê-los, se tiverem potencial de crescimento. Tudo o que pudesse tirar-nos deste modelo de negócios hoje, em 2021, para o próximo ano, seria prejudicial para o plano com o qual temos um forte compromisso, não apenas, como disse, para com os nossos acionistas em Portugal ou o Governo, mas também para com a Comissão Europeia, então, depois disso, quando for possível voltarmos a crescer, pode ser diferente, mas temos de ter cuidado para não perdermos o foco no que vai dar sucesso à TAP.

Qual é a sua estratégia para o aeroporto do Porto?

O aeroporto do Porto? Atualmente, fazemos voos, principalmente a ponte aérea entre o Porto e Lisboa, este inverno temos aumentado o número de frequências, vamos relançar o produto. Trata-se de pontualidade, de regularidade, trata-se também do tipo de frotas com que voamos na ligação entre Porto e Lisboa. E, depois, a partir do Porto, temos voos de longo curso para o Brasil, para a América do Norte, então, é sobretudo a estrutura. Sei que alguns antigos intervenientes têm implementado destinos diretos a partir do Porto, podemos ver isso nos números.

Repito, quando temos uma estratégia e quando estamos a implementar um plano, temos de ter muito cuidado para sermos consistentes com o mesmo. E eu entendo alguns comentários de vários intervenientes do Porto, mas isso não significa que não seja o plano certo para a TAP. Aa TAP tem uma estratégia que está focada no hub [de Lisboa] e esse é definitivamente o motor da nossa sustentabilidade.

Aeroporto de Lisboa pode melhorar

Os seus antecessores na TAP pediram ao Governo para apressarem o novo aeroporto de Lisboa. Defende o mesmo?

Dou-lhe, de certa forma, a mesma resposta de há pouco sobre incertezas. Atualmente, acho que não há uma decisão sobre o aeroporto. Penso que a TAP gostaria certamente de fazer parte de um projeto para um novo aeroporto, a longo prazo. Mas, sinceramente, tanto quanto sabemos, talvez estejamos mais preocupados com o próximo verão, em que temos de trabalhar com a mesma infraestrutura. E penso que existe potencial para melhorar a forma como trabalhamos atualmente na próxima temporada. Gostaríamos que fosse tomada uma decisão a longo prazo, mas que pudéssemos planear e trabalhar na preparação e para trabalharmos tendo em vista este novo projeto, mas ainda mais importante para a recuperação da empresa, gostaríamos de ver uma melhoria da nossa infraestrutura atual, e isso é possível, com muito trabalho da TAP, mas também de todos os intervenientes, incluindo a ANA e a ANAC... mas também a NAV, que nos ajudaria sem dúvida a melhorar a infraestrutura.

Problemas de absentismo devem ficar dentro da empresa

Houve notícias recentes sobre faltas de pessoal na TAP. Qual é a situação? A questão do absentismo está a agravar-se, nomeadamente nas tripulações, ou isto será o resultado de uma negociação difícil com os sindicatos?

Vejamos... É difícil responder a essa pergunta, porque preciso de trabalhar com os meus funcionários e com os nossos sindicatos, e precisamos de encontrar soluções em conjunto. Por princípio, julgo que em cada empresa é preciso resolver o problema do absentismo. O absentismo numa empresa tem impacto na produtividade, na eficiência e também na recuperação. Neste momento, devemos abordar a questão com vários setores da TAP. Teremos em breve os números de absentismo na empresa. Esperemos que sejam mantidos ao nível da comunicação interna, porque há várias informações que julgamos que devem ser mantidas a nível interno. Mas devemos abordar isso. Os números não estão relacionados com as medidas que tomámos no verão passado, estou certa de que não estão relacionados com as medidas. Teremos conversações com os sindicatos e com os funcionários para que possamos encontrar soluções.

Não quer comentar as negociações com os sindicatos, mas gostava de compreender qual é o ambiente entre a administração e os sindicatos. Houve alguma ameaça de greve por parte dos sindicatos? Esta tem sido uma questão crucial para a TAP, nos últimos anos.

Sinceramente, na TAP temos sido capazes de assinar acordos de emergência que não são fáceis para ninguém na organização. Em geral, a organização tem contribuído muito para a redução de pessoal que tivemos de implementar. Penso que, atualmente, o diálogo com os sindicatos é um diálogo que eu esperaria numa organização sindicalizada. Também há vários líderes sindicais que vão mudar, portanto... Espero poder dar-lhe a mesma resposta daqui a uns meses, mas penso que não houve ameaças. Existem tensões, o que seria de esperar, mas creio que há um entendimento de que precisamos de seguir em frente e de encontrar soluções para todos os melhoramentos que são necessários. No próximo mês, regressaremos às negociações. Temos este compromisso de renegociar o acordo de níveis de serviço da empresa. Será um projeto interessante que estamos a preparar profissionalmente e com todos os especialistas. Assim que começarmos o processo, seremos também capazes de preparar o futuro com todos eles.

“Há paixão. Há emoção sobre a TAP”

O governo negoceia, o ministro intervém, a Comissão Europeia decide… A perceção que tenho hoje é de que não se sabe quem é o piloto, quem está no “cockpit” da TAP. Sente o mesmo? Sente que deveria ter um controlo maior da TAP?

Quero falar sobre o controlo que os nossos pilotos têm sobre os aviões, etc. mas, enquanto líder quero ter o apoio para conseguir o que é preciso, e poder partilhar dúvidas, partilhar também aquilo que achamos que deve ser feito, e ter o apoio de todos os intervenientes, e hoje tenho-o. Tenho o apoio da administração, tenho o apoio do Governo. Posso garantir-lhe que o trabalho que foi feito pelo Governo para o processo com a Comissão Europeia foi enorme. O trabalho com que temos contribuído para este esforço foi também enorme. A nossa prioridade é o trabalho de equipa. Há paixão. Há emoção também, porque a TAP é um assunto que mexe com as emoções de todos. Mas, ao mesmo tempo, é esse o encanto desta empresa. A ligação entre a TAP e os Portugueses é emotiva, por isso há sempre muitas emoções. Podem ser positivas ou negativas, mas, quando há emoção, no fim de contas, podemos criar uma imagem positiva. Estou certa de que essa imagem será restaurada em breve aos olhos de todos. Acho que é preciso "navegar" e, como disse, quando se acredita na liderança... Só se reconhece a liderança em momentos de dificuldade. Ser líder quando não há desafios... não é tão facilmente mensurável.

Ao fim de cinco meses, está mais confiante no futuro da TAP?

Estou mais confiante, continuo sorridente, já não estou tão assustada, o que não quer dizer que subestimo o volume de trabalho. Estamos rodeados de muitas pessoas que querem testemunhar o nosso sucesso. Não temos problema com o trabalho árduo, conseguimos trabalhar arduamente e vamos continuar a fazê-lo. Tenho uma equipa que está indiscutivelmente empenhada, fico espantada com a paixão que vejo à minha volta. Vamos ter algumas discussões difíceis, tomar algumas decisões que não serão sempre fáceis, mas, no fim de contas, aquilo que teremos de alcançar, estou convencida de que o será. Vai levar tempo, portanto... deverão ter alguma paciência. Mas somos resilientes. A TAP demonstrou isso mesmo este ano. Foi um ano muito complicado, mas todos na empresa tiveram de enfrentar desafios nas suas vidas, nos seus empregos, julgo que estamos a preparar a recuperação e temos de fazê-lo com cautela. Os custos serão sempre uma obsessão para mim e para a minha equipa, porque a única certeza que há é a dimensão dos custos. As receitas foram previstas, pelo que é preciso ter muita cautela com as despesas que estejam previstas no futuro. Não é uma coisa bonita de se dizer, mas é a realidade daquilo com que nos comprometemos, mas a marca está bem, os destinos que servimos são não só destinos excelentes, como sustentáveis para as ligações, para as empresas. Esperamos lançar no final de novembro dois voos exclusivamente de carga, que vão reforçar a nossa capacidade para o transporte de carga, que contamos que aconteça. É um passo de cada vez. A recuperação chegará passo a passo, mas sabemos como chegar lá.

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