Bem para lá do Mineirão: e agora, Brasil?

9 jul 2014, 11:41
O Brasil entre a desilusão e o choque da goleada (REUTERS)

Não foi o Maracanazo, foi outra coisa tão humilhante e esmagadora que é difícil classificá-la; mas vai ter consequências

*enviado-especial ao Brasil

«Desculpa a todo o mundo, desculpa a todos os brasileiros.» As palavras saiam a David Luiz quase impercetíveis entre as lágrimas, o defesa era a imagem do Brasil no Mineirão. Aconteceu-lhes outra vez. Não foi o Maracanazo, foi outra coisa tão humilhante e esmagadora que é difícil dar-lhe um nome. Até foi difícil para a Alemanha exteriorizar muito a alegria naquele ambiente.

Vários jogadores alemães procuraram consolar os adversários no final. Muller, Ozil, ou Schurrle, aqui com David Luiz.



«São grandes jogadores, e uma vitória destas tem este sabor por ser contra uma grande equipa, mas é verdade que a certa altura imaginamos o que eles devem estar a sentir e é duro», disse Kroos, o homem que recebeu o troféu de melhor em campo depois de marcar dois golos em 69 segundos na noite louca do Mineirão, que acabou com a vitória da Alemanha por 7-1 na meia-final do Campeonato do Mundo.

Não tem medida o que aconteceu ao Brasil, porque não tem comparação. É fácil perceber, no entanto, que terá consequências. No futebol do Brasil, sim, mas não só. A Copa das Copas que o Brasil quis e que entusiasmou o mundo calou o clima de instabilidade social que o país viveu nos últimos meses. Mas os protestos e os problemas só estavam adormecidos.

O choque do Mineirão foi grande de mais.


Ao quinto golo da Alemanha no Mineirão voltou o cântico que não se ouvia desde a abertura do Mundial. «Hey Dilma, vai tomar no c...» O primeiro alvo da ira brasileira, depois do choque, foi a presidente. Dilma Roussef, que procura em outubro um novo mandato, num país em que muitos tiveram sempre dificuldade em aceitar o brutal investimento canalizado para o Campeonato do Mundo e não para responder a necessidades bem mais básicas dos brasileiros.

As notícias de episódios de violência pelo país sucederam-se, ainda durante o jogo, ao ritmo dos golos que a Alemanha marcava em Belo Horizonte. Um «arrastão» na praia de Copacabana, outro num centro comercial em João Pessoa, também movimentos de pânico e violência junto da multidão em vários Fan Fest, os eventos públicos organizados em várias cidades para assistir aos jogos, bandeiras queimadas.


No Mineirão, houve quem saisse logo ao intervalo. Não tanta gente como chegou a dizer-se. Ficaram a esmagadora maioria dos adeptos, que foram procurando alvos para a sua fúria. O avançado Fred, por exemplo, muito criticado ao longo do Mundial e alvo de uma vai brutal quando Scolari o retirou de campo.

Houve violência nas bancadas também, há relato de pelo menos um adepto alemão ferido. E também houve lugar à descompressão. Quando aconteceu o sétimo golo do Brasil, já se ouviram palmas de todo o estádio para a seleção alemã, bem como Olés entoados em coro por todo o estádio.

Não faltou humor, também. Sobretudo nas redes sociais. Assim:


Com mais ou menos capacidade de encaixe, o Brasil vai levar muito tempo a digerir o que se passou. Mesmo tendo um jogo para jogar no sábado, a tentar assegurar pelo menos o terceiro lugar do seu Mundial. Mesmo tendo todo o futuro posto em causa.

A começar pelo do selecionador. Luiz Felipe Scolari assumiu a responsabilidade pelo que aconteceu, mas nunca questionou o seu lugar na sala de imprensa. Mas ele vai ser questionado. Ainda durante o jogo a rádio Globo falava abertamente da entrada de Tite, ex-treinador do Corinthians, para o lugar do Scolari, assunto em cima da mesa há algum tempo.

Os adeptos alemães sairam do Mineirão uma hora depois do final do jogo, sem nunca terem parado de cantar. «Rio de Janêrro», com a música de «Vamos a la playa». A festa segue para eles. Para o Brasil, os ecos do Mineirão vão perdurar por muito mais tempo, e a banda sonora é pesada.

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