Homem que incendiou ex-mulher durante direto nas redes sociais condenado à morte na China

CNN Portugal , FMC
23 jul 2022, 23:22
Ex-marido de Lhamo matou-a, deitando-lhe gasolina e incendiando-a (Twitter)

O homem deitou gasolina à ex-mulher e incendiou-a em 2020, tornando este caso um dos mais polémicos da China. Em 2021, foi condenado à morte e agora, essa decisão é reiterada

Tang Lu voltou a ser condenado à morte por incendiar a ex-mulher, uma influencer tibetana, enquanto esta fazia um direto nas redes sociais. Este caso de violência doméstica foi muito mediático na China país e voltou a trazer à esfera pública a necessidade de proteger as mulheres vítimas destas situações. 

Em setembro de 2020, Tang Lu surpreendeu a ex-mulher, conhecida como Lhamo, enquanto fazia um direto para a rede Douyin (a versão chinesa do TikTok) ao atirar-lhe gasolina e incendiá-la. Segundo referido pelo jornal The Guardian, em 2021, a criadora digital susteve ferimentos graves, ao ficar com 90% do corpo queimado. Apesar de ter sido assistida num hospital, acabou por morrer passadas algumas semanas. 

Lhamo, que tinha milhares de seguidores e que partilhava o seu dia-a-dia, vividos na província de Sichuan, no sudoeste da China, estava a ser vista por centenas de pessoas que referiram ter ouvido gritos e que o ecrã ficou negro. 

Em dezembro de 2020, a procuradoria de Jinchuan aprovou a prisão de Thang e, em 2021, condenou-o à morte. Nesse ano, o tribunal de Aba, no sudoeste da província de Sichuan, acusou Thang de homicídio intencional e disse que o método era “extremamente cruel”, acrescentando que tinha tido um impacto social “extremamente mau”. O juiz classifcou ainda o crime como " extremamente grave”, o que justificou a sentença. 

Thang pediu um recurso da decisão, mas foi-lhe negada em janeiro deste ano.

A atrocidade do caso gerou polémica e forte indignação por todo país. Nas redes sociais as campanhas de sensibilização e de pressão aos legisladores intensificaram-se, exigindo que as leis de divórcio fossem alteradas e que se implementassem melhores medidas de proteção às vítimas. Contudo, as publicações foram rapidamente censuradas. 

O choque da população chinesa agravou-se ainda mais depois do presidente, Xi Jinping fazer um discurso, um dia após o incidente numa Conferência das Nações Unidas sobre a proteção dos direitos e interesses das mulheres, ao sublinhar que deve “tornar-se num compromisso nacional”.

Segundo disse a irmã da vítima, Dolma, ao jornal Paper (órgão de comunicação oficial chinês, sediado em Xangai), Thang era já conhecido pela polícia por ter agredido repetidamente a mulher durante anos, mas que as autoridades classificaram a situação como "um assunto familiar". A inação policial e as fracas leis de proteção conduziram a este desfecho atroz.

Lhamo tinha, ainda assim, conseguido divorciar-se e esconder-se, mas não foi suficiente, uma vez que nada demoveu o ex-marido. Thang continuou a persegui-la e coagi-la, usando os filhos que tinham em comum. E em setembro, surpreendeu-a. 

Apesar do país asiático, ter implementando, em 2016, a criminalização da violência doméstica, este tipo de situações continua a decorrer, principalmente no meio rural. Este caso foi um dos que mais enalteceu a necessidade de debater e fortalecer a legislação no âmbito da violência doméstica na China. 

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