Taiwan viu um “aumento significativo” no número de indivíduos acusados de espionagem para a China nos últimos anos, de acordo com novos dados divulgados pelo gabinete de segurança da ilha, a meio de uma escalada de intimidação por parte de Pequim.
Num relatório divulgado este domingo, o Serviço de Segurança Nacional de Taiwan (NSB) disse que o número de indivíduos processados por espionagem chinesa triplicou nos últimos anos, passando de 16 em 2021 para 64 em 2024.
Dos 64 acusados, 15 eram veteranos militares e 28 eram membros do serviço ativo, de acordo com o relatório, que dizia que os alvos da infiltração chinesa incluíam unidades militares, agências governamentais e associações locais.
O número de processos no ano passado foi o mais elevado registado numa década, confirmou à CNN um alto responsável da segurança, e surge no momento em que Taiwan enfrenta uma intimidação crescente por parte de Pequim.
Pequim reivindica a democracia autónoma como seu próprio território e prometeu assumir o seu controlo, pela força se necessário, apesar de nunca a ter controlado.
O governo de Taiwan tem repetidamente rejeitado as reivindicações de soberania da China e enfatizado que o futuro de Taiwan só pode ser decidido pelos seus 23,5 milhões de habitantes.
“O Partido Comunista Chinês continua a utilizar diversos canais e meios para se infiltrar em todos os setores da vida, a fim de absorver os cidadãos para os ajudar a desenvolver redes ou a recolher informações governamentais sensíveis”, refere o relatório.
Nos últimos anos, Pequim intensificou a sua pressão sobre a ilha, lançando com maior frequência exercícios militares de grande escala e lançando o alarme sobre a possível utilização de táticas de “zona cinzenta” - atos que se situam abaixo do limiar da guerra.
As suspeitas das autoridades de Taiwan, no início deste mês, de que um navio chinês pode ter sido responsável por danos num cabo submarino de Internet, sublinharam as preocupações na ilha sobre as vulnerabilidades que poderiam ser exploradas por Pequim nas chamadas “operações de zona cinzenta”.
Em dezembro, a China também colocou em campo o seu maior destacamento marítimo regional em décadas - incluindo várias formações de navios da marinha e da guarda costeira - em águas regionais e em torno do Estreito de Taiwan, de acordo com o Ministério da Defesa de Taiwan.
Durante anos, as agências de segurança de Taiwan alertaram para as crescentes tentativas de Pequim para se infiltrar nas suas forças armadas e para as suas atividades de espionagem, em especial os esforços para subornar responsáveis militares em troca de segredos nacionais.
O último relatório refere que a melhoria das capacidades de contraespionagem permitiu às autoridades de Taiwan descobrir mais casos de suspeita de espionagem chinesa.
Segundo o relatório, os agentes chineses teriam tentado estabelecer contactos com grupos criminosos e templos locais, bem como criar bancos clandestinos para recrutar pessoal militar e grupos amigos da China em Taiwan.
O relatório acrescenta, sem especificar pormenores sobre os casos, que alguns dos suspeitos de espionagem foram incumbidos de servir como agentes de “sabotagem” e de erguer a bandeira da China em caso de invasão chinesa. Também foi pedido a alguns que reunissem informações para formar uma “equipa de atiradores furtivos” para uma “missão de assassínio”.
A CNN contactou o gabinete chinês para os Assuntos de Taiwan para obter comentários, mas não conseguiu resposta.
O Ministério da Segurança do Estado da China, que supervisiona os serviços secretos e a contraespionagem tanto na China como no estrangeiro, também já acusou Taiwan de realizar atividades de espionagem.
Em agosto último, o ministério afirmou ter descoberto mais de mil casos de espionagem taiwanesa nos últimos anos e desmantelado uma série de redes de espionagem.
Aquela tutela da China também lançou uma campanha de grande visibilidade contra o que diz ser um aumento das atividades de espionagem por parte de cidadãos estrangeiros, numa altura em que as relações com as potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos, se deterioraram.
Chao Yu-hsiang, oficial de pesquisa residente no Instituto de Defesa Nacional e Investigação de Segurança de Taiwan (INDSR), disse esperar que o recente aumento de ações judiciais por parte de Taiwan leve as forças armadas taiwanesas a reforçar as medidas de segurança.
“Tanto os nossos militares como os civis devem manter um elevado nível de vigilância nas nossas palavras e ações, desenvolver bons hábitos de confidencialidade e utilizar as redes sociais com cautela para evitar que aqueles que têm segundas intenções se infiltrem, nos absorvam e nos explorem”, escreveu numa coluna publicada pelo INDSR na segunda-feira.