Novos acordos de defesa entre Índia e Rússia alarmam os EUA

CNN
6 dez 2021, 03:32
Vladimir Putin

Putin está esta segunda-feira na Índia para contrariar o esforço americano de aproximação a Nova Deli na área de segurança e defesa. Estados Unidos ameaçaram com sanções à Índia por causa dos negócios com a Rússia, mas não arriscam hostilizar um parceiro-chave no Indo-Pacífico

O presidente russo, Vladimir Putin, encontra-se esta segunda-feira com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Nova Deli, numa cimeira que visa reforçar a cooperação entre os dois países nas áreas da economia, segurança e energia.

Esta é apenas a segunda viagem ao estrangeiro de Putin desde o início da pandemia (a primeira foi para se encontrar em Genebra com Joe Biden), o que mostra bem a relevância que o Kremlin dá ao estreitamento da parceria com Deli. Putin estará acompanhado pelos seus ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Segundo o jornal indiano Economic Times, esta cimeira só é comparável, atualmente, com as que aconteceram com os EUA, o Japão e a Austrália.

O ofensiva diplomática de Putin visa contrariar os esforços dos Estados Unidos para reforçar os laços com a Índia, tendo em vista fazer frente à emergência da China como potência regional e global. E coloca a diplomacia de Washington perante um dilema: os norte-americanos gostariam de impor sanções à Índia por causa dos volumosos negócios de segurança e defesa que tem feito com Moscovo, mas não querem arriscar hostilizar um parceiro que poderá ser essencial na resposta regional à ascensão chinesa.

A Índia faz parte do Quad, uma aliança de democracias do Indo-Pacífico promovida pelos EUA, que inclui também o Japão e a Austrália. A importância que a administração Biden dá ao Quad ficou patente quando essa foi a primeira organização multilateral que o presidente norte-americano convocou para uma cimeira, após a sua tomada de posse. Em setembro, os líderes dos quatro países concordaram em trabalhar de forma mais próxima para enfrentar os desafios colocados pela China, em especial na frente militar.

Mas o Quad é visto por Moscovo como visando, também, o papel regional da Rússia. Desse ponto de vista, a cimeira desta segunda-feira será uma forma de Putin tentar colocar pedras na engrenagem das relações entre os EUA e a Índia. 

Mísseis, metralhadoras e bases militares

No encontro feira entre Putin e Modi, as atenções focam-se no reforço dos acordos bilaterais de segurança e defesa. Segundo fontes oficiais citadas por diversos meios de comunicação social, deverá ser prolongado até 2031 um acordo de cooperação técnica e militar, e será assinado outro para a produção de mais de 500 mil metralhadoras russas na Índia. Para além disso, há acordo entre os dois países para o uso recíproco de instalações logísticas nos respetivos portos e bases militares, à semelhança de acordos que a Índia tem com os EUA e diversos aliados americanos.

Não é nova a tensão no triângulo Índia-EUA-Rússia. Moscovo e Nova Deli mantêm boas relações desde os tempos da Guerra Fria e mais de 60% do armamento importado pelos indianos desde 2010 vem da Rússia. Um grande negócio de 5 mil milhões de dólares para a compra do sistema de mísseis terra-ar S-400 da Rússia acentuou, há dois anos, as tensões entre Washington e Nova Deli - foi nessa altura que se colocou a hipótese de sanções americanas aos indianos, tal como os EUA fizeram quando a Turquia assinou um negócio semelhante com os russos.  

A linguagem diplomática, entretanto, suavizou-se, os EUA pediram à Índia que recuasse nesse negócio, que põe em causa uma maior interoperacionalidade entre os sistemas de defesa americano e indiano. Mas Deli respondeu que prossegue uma política externa independente, e precisa deste sistema de mísseis para responder à ameaça chinesa na fronteira comum que tem sido disputada. 

As relações da Índia com a China estão tensas desde maio do ano passado, quando forças de ambos os lados entraram em confronto direto numa região disputada, nos Himalaias. Este contexto também dá razões a Modi para reforçar as relações com a Rússia, especialmente na frente militar. 

Anish Goel, um especialista em assuntos de defesa ligado ao think tank New America, considera que “os EUA e a Rússia estão a competir pela atenção da Índia” numa altura em que “o governo Biden queria que a Índia assumisse uma postura mais ativa na segurança no Indo-Pacífico”.

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