A China quer controlar o que os professores ensinam - e por isso está a pedir-lhes que entreguem os passaportes

7 out 2024, 18:55
Xi Jinping junto de crianças na escola (Ng Han Guan/AP)

Várias restrições às viagens de docentes estão a ser impostas de forma progressiva em cidades chinesas. Mas há mais funcionários públicos atingidos pela mesma medida

As autoridades chinesas estão a apertar o controlo aos funcionários públicos, debaixo da chamada “gestão de pessoas que viajam”, e que permite aos governos locais controlar e monitorizar que cidadãos vão ao estrangeiro, com que frequência e para onde.

A última das medidas é a exigência de que os professores e outros funcionários da administração pública entreguem os seus passaportes, numa medida que, segundo a administração de Xi Jinping, serve para controlar a corrupção no Estado.

Em várias cidades, funcionários de escolas e de universidades, de governos locais ou de empresas detidas pelo Estado já estão a ser obrigados a cumprir esta medida, que surge em paralelo com o aumento de campanhas contraespionagem estrangeira.

“Disseram a todos os professores e funcionários do Estado que têm de entregar os passaportes”, confirmou uma professora primária da província de Sichuan, em declarações ao Financial Times.

“Se queremos viajar para for temos de pedir à administração da cidade e não penso que vá ser aprovado”, acrescentou a docente, que pediu o anonimato.

Na cidade de Yichang, na província de Hubei, bem como numa outra cidade na província vizinha de Anhui, a mesma medida está já a ser aplicada.

Já durante o verão os professores de Guangdong, Jiangsu ou Henan se tinham queixado de terem sido forçados a entregar os documentos de viagem.

“Era graduado em inglês, o sonho da minha vida era visitar um país de língua inglesa, mas parece que está prestes a ser despedaçado”, disse um professor através de uma publicação no website Xiaohongshu.

A decisão é nova, mas a base legal não, já que uma lei de 2003 estabeleceu um Sistema em que se podia proibir as viagens a pessoal considerado chave na administração pública, o que dá espaço a que as autarquias e regiões apliquem restrições como esta.

No caso concreto da educação, há muito que a China aposta na lealdade e na formação "correta" dos seus estudantes. Para isso entende que tem de controlar a visão dos professores, havendo cidades como Wenzhou, onde está explícita a preocupação das autoridades com o que os docentes podem encontrar no estrangeiro.

Entre as várias proibições para quem viaja está o contacto com o movimento espiritual Falun Gong - uma prática espiritual chinesa que é mal vista pelo Estado - ou o contacto com "forças estrangeiras hostis".

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