A China está a acumular matérias-primas essenciais durante um conflito

24 jul 2024, 16:27
Xi Jinping no encerramento do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês

Crude, gás natural, metais e produtos alimentares são os principais alvos de Pequim, que tem vindo a aumentar a sua capacidade de armazenamento

Durante décadas foi o país mais populoso do mundo e continua a consumir uma grande parte dos recursos mundiais. Com o número de habitantes a diminuir e a já expressa vontade dos seus líderes em transformar a sua economia, seria de esperar que esse consumo baixasse. No entanto, como explica a revista britânica The Economist, o inverso está a acontecer.

Em 2023, refere a publicação, as importações chinesas de todos os tipos de matérias-primas subiram 16% em termos volumétricos, e aumentaram 6% nos primeiros cinco meses deste ano. A razão não é o aumento do consumo interno, mas sim a acumulação de stocks.

A China, embora sendo uma das duas grandes potências mundiais, depende em larga medida de recursos vindos do estrangeiro; de acordo com a revista, importa 40% do seu gás natural e 70% do seu crude, por exemplo. Desde 2020, a capacidade de armazenamento desta última matéria-prima subiu de 1,7 para 2 mil milhões de barris, e entre 2010 e 2020, a capacidade de armazenamento de gás multiplicou-se seis vezes para os 15 mil milhões de metros cúbicos, com o banco JP Morgan Chase a estimar que atinja os 85 mil milhões de metros cúbicos em 2030.

A dependência faz-se sentir sobretudo a nível alimentar: necessita quase totalmente do estrangeiro para obter produtos como café, óleo de palma e alguns laticínios. A China importa também 85% das suas 125 milhões de toneladas de sementes de soja consumidas anualmente, necessárias ao funcionamento da pecuária. Como tal, a China fez duplicar as reservas deste bem desde 2018 para as 39 milhões de toneladas. Também os stocks de trigo e milho representam agora 51 e 67% das reservas mundiais, respetivamente.

Um dos motivos para a adoção desta política é o receio do regresso de Donald Trump ao poder nos EUA. O ex-presidente e candidato republicano quer não só restringir a venda de matérias-primas americanas para a China, como também tentar persuadir alguns aliados fundamentais a fazê-lo, como a Argentina e o Brasil, no caso dos produtos alimentares, e a Austrália e o Chile, no caso dos metais. Outra razão, esta de grande preocupação para os EUA, é a possibilidade de um cerco e invasão a Taiwan e consequentes sanções ocidentais. A The Economist nota que as matérias-primas que a China está a acumular são as que necessitaria durante um conflito. “Quando se justapõe isso ao reforço militar da China, começa a ser muito preocupante”, afirma Gabriel Collins, ex-analista do Departamento de Defesa dos EUA, à revista.

Relacionados

Ásia

Mais Ásia
IOL Footer MIN