Secretário de Estado norte-americano alerta homólogo chinês sobre as “implicações e consequências” para a China caso seja confirmado “apoio material” à Rússia na guerra com a Ucrânia
Os Estados Unidos acreditam que a China estará a preparar-se para fornecer armas e munições à Rússia. Em entrevista à CBS News, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, admitiu que os Estados Unidos estão "preocupados desde o primeiro dia [da invasão da Ucrânia] com essa possibilidade".
"Sabemos que eles já forneceram apoio não-letal à Rússia para uso na Ucrânia. A preocupação que temos agora baseia-se em informação que nos chegou de que eles estão a considerar fornecer apoio letal e já tornámos bem claro que tal apoio resultaria num sério problema para nós e para nossa relação", declarou Blinken.
Questionado sobre que tipo de "apoio letal" se trata, Blinken não quis ser específico: "Há toda uma gama de coisas que se encaixam nessa categoria, desde munições a armas".
Na mesma entrevista, o secretário de Estado norte-americano adiantou que há empresas chinesas que já estão a fornecer "apoio não-letal" aos esforços da Rússia na Ucrânia. "Até à data, temos visto empresas chinesas e, é claro, na China não há qualquer distinção entre empresas privadas e o Estado", observou.
O chefe da diplomacia dos EUA esteve presente na Conferência de Segurança de Munique, um evento anual que reúne funcionários de topo na defesa, segurança e ordem mundial.
No sábado, à margem desta conferência, decorreu um raro encontro à porta fechada entre Blinken e o recém-designado chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi. Neste encontro, que se prolongou por cerca de uma hora, Blinken advertiu ao seu homólogo chinês que o incidente do balão abatido por caças norte-americanos “nunca mais deve acontecer”.
O incidente do balão levou Blinken a adiar à última hora uma deslocação a Pequim prevista para o início de fevereiro e reavivou as tensões entre as duas grandes potências rivais.
O secretário de Estado norte-americano alertou ainda Wang Yi sobre as “implicações e consequências” para a China caso seja confirmado que concede “apoio material” à Rússia na sua guerra com a Ucrânia.
“Em relação à guerra brutal conduzida pela Rússia na Ucrânia, o secretário de Estado alertou contra as implicações e consequências para a China caso forneça um apoio material à Rússia ou a ajude a contornar as sanções” impostas pelos ocidentais, indicou um comunicado do porta-voz do Departamento de Estado, citado pelas agências.
Blinken também fez questão de reiterar a Wang Yi que os Estados Unidos não procuram um “conflito” com a China nem uma “nova guerra fria” e que Washington pretende manter linhas de comunicação abertas com Pequim, apesar das divergências.
Diplomata chinês garante a China está "do lado da paz"
Por sua vez, Wang Yi aproveitou esta conferência para garantir que a China "sempre esteve do lado da paz e do diálogo". Num encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, o chefe da diplomacia de Pequim assegurou que a China “está disposta a trabalhar com a comunidade internacional para evitar uma maior deterioração da situação” na Ucrânia.
Numa intervenção durante a conferência, Wang Yi argumentou que não há “soluções simples” para o conflito na Ucrânia: “É preciso pensar numa estrutura e a Europa tem que pensar sobre o papel autónomo e estratégico que pode desempenhar. Não importa o quão difícil seja a situação, não podemos deixar de procurar a paz”, declarou.
Entretanto, o Governo de Pequim negou esta segunda-feira as alegações de Antony Blinken e disse não aceitar que os EUA "apontem o dedo" às relações entre a China e a Rússia.
“Não aceitamos que os Estados Unidos apontem o dedo às relações entre a China e a Rússia e muito menos que exerçam pressão e coação”, informou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.
De acordo com o New York Times, Wang Yi deverá visitar Moscovo nos próximos dias - uma visita que merecerá a atenção das autoridades norte-americanas. Antes, a Rússia já tinha anunciado que o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, vai visitar o país ainda este ano.
Não é novidade que a China tem vindo a dar apoio diplomático à Rússia ao longo do último ano de guerra. Em janeiro, os Estados Unidos impuseram sanções a uma empresa chinesa depois de terem conhecimento de que esta forneceu imagens de satélite ao Grupo Wagner, um grupo de mercenários pró-russos que combate na Ucrânia. Da mesma forma, os EUA também sancionaram outras empresas chinesas por violarem os controlos de exportação impostos contra a Rússia.