Hong Kong: grandes empresas fogem das restrições anticovid

15 fev 2022, 07:30
Hong Kong

Regras de "covid zero" impostas por Pequim tornaram muito difícil entrar em Hong Kong. Multinacionais começam a fugir do território, mudando sedes asiáticas para Singapura ou para o Dubai

Conforme a política de “covid zero” imposta na China continental se estende a Hong Kong, são cada vez mais as grandes companhias ocidentais que admitem abandonar aquele território enquanto base para as suas operações na Ásia. O antigo território britânico é, neste momento, um dos que tem medidas mais restritivas em toda a China, com fronteiras virtualmente fechadas, quase impossibilitando a circulação, não só com o resto do mundo, mas também com a China continental.

A dificuldade de entrar em Hong Kong, aliada à crescente pressão de Pequim sobre toda a vida económica, social e cultural do território, poderá ditar o fim de uma era: as muitas décadas em que Hong Kong foi a principal praça financeira da Ásia, o grande hub asiático de aviação internacional, e a base de inúmeras multinacionais de olhos postos na China e restantes mercados asiáticos.

O gigante francês de bebidas alcoólicas Pernod Ricard é a mais recente num conjunto de empresas a fazer planos para abandonar Hong Kong, pelo menos temporariamente, segundo noticia o Financial Times. A multinacional francesa, que detém marcas como o uísque Jameson, o vodca Absolut ou o gin Monkey47, pediu aos executivos de topo do seu escritório em Hong Kong que se mudem temporariamente para outra cidade, para evitar os constrangimentos do progressivo fechamento da antiga colónia inglesa por causa da covid-19. A hipótese que está sobre a mesa é substituir Hong Kong pelo Dubai. “Para acompanhar os clientes temos de viajar. Quando o resto do mundo se está a abrir, torna-se cada vez mais difícil justificar [que a base asiática da companhia continue a ser Hong Kong”, afirmou uma fonte do jornal economia britânico.

A Pernod Ricard é só uma entre vários gigantes internacionais para os quais as vantagens de estar em Hong Kong começam a não superar as desvantagens. Na semana passada, o grupo hoteleiro Mandarim Oriental assumiu que irá procurar outra cidade para sediar os seus negócios - e, neste caso, trata-se de um dos mais antigos e prestigiados impérios económicos com origem em Hong Kong.

30 dias de quarentena

As medidas mais recentes adotadas pelas autoridades de HK vedam o acesso ao território a quem não tenha autorização de residência, e obrigam quem tem a submeter-se a uma quarentena de um mês em instalações geridas pelo governo (“hotéis de quarentena” que muitos descrevem como “prisões de quarentena”). Há relatos de executivos de grandes empresas que durante um ano e meio não foram autorizados a entrar no território, apesar de ser aí o seu local de trabalho - quando voltaram a ter luz verde para entrar, tiveram de passar um mês em isolamento vigiado pelas autoridades num “hotel de quarentena”.

No mês passado, o Bank of America, o segundo maior banco dos EUA, decidiu encerrar a sua sede em Hong Kong, deslocalizando-a para Singapura. O clima cada vez mais restritivo para negócios, devido ao progressivo ascendente das autoridades de Pequim, já estava a tornar Hong Kong menos atrativo para muitas marcas internacionais, e as restrições da covid agravaram esse ambiente.

O Wells Fargo, quarto maior banco americano, também está a preparar-se para trocar Hong Kong por Singapura, para a sua base regional na Ásia.

No fim de semana passado, as autoridades de Hong Kong pediram a ajuda central de Pequim para a implementação de medidas capazes de travar o crescimento da variante Ómicron. A entrada em cena das autoridades da China continental deverá significar um controlo ainda maior sobre as fronteiras e a população da antiga colónia inglesa. A receita da China é sempre a mesma: testagem massiva de toda a população em poucos dias e confinamentos rigorosos de cidades inteiras ou de partes de cidades. Com a autonomia de Hong Kong em relação à China continental a diminuir a olhos vistos, a política de “covid zero” imposta por Pequim será cada vez mais a lei do território.

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