China deixa de publicar dados sobre casos assintomáticos

Agência Lusa , AM
14 dez 2022, 08:40
Covid-19 na China (EPA)

Governo chinês anunciou, na semana passada, o fim de várias das medidas mais restritivas de prevenção contra a covid-19

A Comissão de Saúde da China informou esta quarta-feira que vai deixar de publicar dados sobre casos assintomáticos de covid-19, face à redução acentuada da frequência de testes PCR, que deixaram de ser obrigatórios.

A agência governamental disse que parou de publicar o número diário de casos em que nenhum sintoma é detetado por ser “impossível compreender com precisão o número real de pessoas infetadas assintomáticas”, geralmente a grande maioria dos casos, de acordo com um comunicado.

Os únicos números relatados são casos diagnosticados em instalações de teste públicas.

Isto representa um desafio para a China, à medida que põe fim a quase três anos da estratégia ‘zero covid’. Como os testes de PCR em massa não são mais obrigatórios e os pacientes com sintomas leves podem recuperar em casa, em vez de serem isolados em instalações designadas, tornou-se mais difícil avaliar o número real de casos.

As ruas de Pequim permanecem silenciosas, com filas a formarem-se junto a clínicas de febre - cujo número aumentou de 94 para 303 - e às farmácias, onde clientes tentam obter antipiréticos ou anti-inflamatórios.

Apesar dos esforços para aumentar a vacinação entre os idosos, dois centros montados em Pequim para administrar vacinas permaneciam vazios na terça-feira.

Na clínica de febre do Hospital da Amizade China–Japão, em Pequim, uma dúzia de pessoas aguardava pelos resultados dos testes de ácido nucleico. Enfermeiras com equipamento de proteção química atendiam os pacientes um a um.

Alguns quilómetros a sul, no Hospital Chaoyang, cerca de uma dúzia de pessoas esperava em fila junto a tendas azuis, apesar dos ventos fortes e temperaturas abaixo de zero.

Do outro lado da rua, na Farmácia Gaoji Baikang, cerca de uma dúzia de pessoas esperava em fila para comprar remédios para a tosse e ervas utilizadas na medicina tradicional chinesa. Uma placa pedia aos clientes que evitassem o pânico e o açambarcamento. “Estamos a fazer tudo o possível para manter o fornecimento de medicamentos e atender às necessidades”, acrescentava o aviso.

Um dos clientes comprou dois pacotes de Lianhua Qingwen, um medicamento chinês, indicando que cada pessoa estava impedida de comprar mais do que aquela quantidade.

As chamadas para as linhas diretas de saúde aumentaram seis vezes, de acordo com a imprensa estatal.

Sem contar os casos assintomáticos, a China registou apenas 2.249 infeções "confirmadas", nas últimas 24 horas, elevando o total de casos no país para 369.918. O país registou 5.235 mortes pela doença, desde o início da pandemia, de acordo com dados oficiais.

Os números fornecidos pelo governo da China não são verificados de forma independente.

Apesar do relaxamento das restrições, os restaurantes permanecem quase todos fechados ou vazios na capital chinesa. Muitas empresas estão a ter dificuldades em encontrar funcionários suficientes que não estejam doentes. Sanlitun, um dos distritos comerciais mais populares de Pequim, estava hoje deserto.

Os hospitais também estão a ter dificuldades em manter o pessoal, enquanto os pacotes de entregas se acumulam nos pontos de distribuição, devido à escassez de funcionários.

Algumas universidades chinesas anunciaram que vão permitir que os alunos terminem o semestre em casa, na esperança de reduzir o potencial de um surto maior do novo coronavírus, durante o Ano Novo Lunar, que se celebra no final de janeiro.

A China também parou de rastrear algumas viagens, reduzindo a probabilidade de as pessoas serem forçadas a cumprir quarentena por terem estado em zonas de médio e alto risco.

Apesar disso, as fronteiras do país permanecem praticamente fechadas e não há informações sobre quando as restrições vão ser relaxadas para viajantes que chegam do exterior.

O Governo chinês anunciou, na semana passada, o fim de várias das medidas mais restritivas de prevenção contra a covid-19, incluindo a realização de testes em massa, quarentena em instalações designadas, para casos positivos e contactos diretos, e a utilização de aplicações de rastreamento de contactos.

Isto ocorreu depois de protestos em várias cidades da China contra a estratégia de ‘zero covid’. Alguns manifestantes proclamaram palavras de ordem contra o líder chinês, Xi Jinping, e o Partido Comunista, algo inédito no país em várias décadas.

Embora tenha sido recebido com alívio, o fim da estratégia ‘zero covid’ suscita também preocupações.

Com 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo. A estratégia de ‘zero casos’ significa que a esmagadora maioria da população chinesa carece de imunidade natural. Pequim recusou também importar vacinas de RNA mensageiro, consideradas mais eficazes do que as inoculações desenvolvidas pelas farmacêuticas locais Sinopharm e Sinovac.

A remoção das restrições poderá desencadear uma ‘onda’ de casos sem paralelo este inverno, sobrecarregando rapidamente o sistema de saúde do país, de acordo com as projeções elaboradas pela consultora Wigram Capital Advisors, que forneceu modelos de projeção a vários governos da região, durante a pandemia.

Um milhão de chineses poderá morrer com covid-19 durante os próximos meses de inverno, de acordo com a mesma projeção.

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