"Sangue, suor, lágrimas e muita fé". André Ventura quer o Chega a liderar oposição e "preparado para governar"

Rafaela Laja , em Santarém
27 jan 2023, 23:40
V Convenção Nacional do Chega (Lusa)

No discurso de abertura da V Convenção Nacional do Chega, André Ventura admitiu querer liderar a oposição já nas próximas legislativas e propôs-se alcançar “o melhor resultado” da história do partido nas próximas eleições europeias e “começar já a criar uma alternativa ao socialismo” para "ser Governo". Mas houve ainda recados para dentro do partido

"Quem imaginava que estaríamos aqui?". André Ventura congratulou-se esta sexta-feira pelos "melhores resultados de sempre nas sondagens", que consolidam o Chega como terceira força política, e reiterou o grande objetivo do partido que lidera: ser Governo.

Perante uma plateia de centenas de delegados - mas não os suficientes para a V Convenção Nacional ter arrancado a horas - André Ventura propôs-se alcançar “o melhor resultado” da história do Chega nas próximas eleições europeias e “começar já a criar uma alternativa ao socialismo” para "ser Governo".

"Temos um país para ganhar. Sangue, suor, lágrimas e muita fé: é aquilo que vos prometo. Prometo dar-vos toda a minha vida, todo o meu tempo para conseguirmos esse desígnio nacional", afirmou.

Colocando como fasquia para as próximas eleições legislativas ultrapassar o PSD e liderar a oposição, André Ventura considerou ser possível quebrar o "ciclo do bipartidarismo": "Lutaremos para liderar a oposição em Portugal", insistiu, advertindo, contudo, que "há quem diga que é impossível quebrar o bipartidarismo, que é impossível quebrar o ciclo PS e PSD". "Mas não estaríamos aqui se não acreditássemos que era possível", retorquiu.

"Eu acredito que, se estamos nos 15% [das intenções de voto nas sondagens], podemos chegar aos 20% e talvez Deus e o destino nos deem a sorte e o trabalho de chegar aos 30% e de podermos dar uma volta a este país", anunciou.

A V Convenção Nacional do Chega começou às 22:25, em Santarém, com cerca de uma hora de atraso relativamente ao que estava previsto e com a sala meio cheia. André Ventura, presidente recandidato, chegou ao centro de exposições (CNEMA) cerca de 15 minutos antes do início dos trabalhos.

Ao som do hino do partido e de gritos de incitamento dos delegados, (que exclamavam "Ventura", e não "Chega"), o presidente entrou, acenou, e tomou o seu lugar. E num discurso onde houve lugar para tudo - desde congratular-se pelos resultados do partido, mensagens para a oposição, reiterar o objetivo da liderança do governo e atirar-se à oposição - até lhe cantaram os "parabéns" pelo 40.º aniversário. "Eu juro que quando disse que fazia anos não era para cantarem", justificou.

"Quem não se candidatou é porque não tem força política"

Ainda mal tinha pisado o Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas de Santarém (CNEMA), e já André Ventura era confrontado com a (falta de) oposição interna no partido. Aos jornalistas, afirmou que seria "absurdo" o Chega querer mudar de rumo quanto à liderança: 

"Quem não está é porque não teve força política para ser eleito e para se fazer representar. São os militantes que escolhem, por isso esta direção continua aqui", disse Ventura, argumentando que "todos tiveram oportunidade de se candidatar", uma vez que "houve eleições em todos os distritos".

Mas o assunto voltaria a ser puxado pelo próprio já no púlpito, quando insistiu que se a oposição interna faltar à convenção do partido "não é por nenhuma regra de secretaria ou de burocracia": "É porque não têm força política neste partido, essa é a verdade que custa ouvir", afirmou André Ventura, apontando que foram marcadas "eleições para que todos pudessem participar".

"Abrimos novamente o caminho à democracia neste partido, abrimos o caminho a que aqueles que andavam a dizer há meses, há anos, 'é preciso um novo caminho, é preciso transformar'. Dissemos 'então venham a jogo, venham e digam que projeto têm para o Chega, candidatem-se a apresentem-se", defendeu.

O presidente do Chega e recandidato à liderança salientou que "o foco é o país" e quis dar o assunto da oposição interna por encerrado, garantindo: "Com quem decide sempre não participar na vida democrática do partido não vamos perder nem mais um segundo".

A V Convenção Nacional do Chega, que arrancou esta sexta-feira em Santarém, servirá para o partido ultrapassar os problemas constitucionais dos seus estatutos, mas acima de tudo, para reeleger André Ventura. A convenção, que decorre até domingo, foi precipitada pela rejeição dos estatutos pelo Tribunal Constitucional devido a uma "significativa concentração de poderes" no líder e como o partido já viu os estatutos chumbados duas vezes, o Conselho Nacional já tinha decidido voltar a adotar as regras internas que saíram da primeira reunião magna do partido, em 2019, as únicas às quais o Tribunal Constitucional deu "luz verde".

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