John Lee oficializa candidatura a eleições de maio em Hong Kong

Agência Lusa , AM
9 abr 2022, 11:40
John Lee (EPA/Lam Yik)

Chefe do executivo de Hong Kong não é eleito por voto popular, mas segundo um método em que apenas os membros de uma comissão eleitoral podem votar

O número dois do Governo de Hong Kong e antigo secretário para a segurança, John Lee, oficializou hoje a candidatura a chefe do executivo nas próximas eleições, a realizar a 08 de maio na antiga colónia britânica.

Formalizada hoje durante uma conferência de imprensa virtual devido à pandemia de covid-19, John Lee justificou a candidatura com a “lealdade” ao seu país, o seu "amor por Hong Kong” e o “sentido de dever" para com esse povo.

Acrescentou que um governo sob a sua liderança irá salvaguardar o Estado de direito e a política de "um país, dois sistemas", o que permite a Hong Kong governar de forma semi-autónoma e gozar de certas liberdades não encontradas na China continental.

John Lee, que foi agente da polícia e que o Governo norte-americano de Donald Trump sancionou por minar a autonomia de Hong Kong, conta aparentemente com o apoio de Pequim, devendo igualmente ser o único candidato às próximas eleições.

Na conferência de imprensa, Lee explicou que se candida depois de o Governo de Pequim ter aprovado a sua demissão, apresentada na semana passada, do cargo de secretário principal da administração da cidade.

John Lee, que se demitiu no dia 06, acrescentou que se for eleito irá optar por uma "abordagem orientada para os resultados" para "aumentar a competitividade de Hong Kong e consolidar o seu desenvolvimento", mantendo simultaneamente "o estatuto internacional" da cidade semi-autónoma.

O chefe do executivo de Hong Kong não é eleito por voto popular, mas segundo um método em que apenas os membros de uma comissão eleitoral podem votar.

Este ano, a comissão eleitoral tem 1.462 membros, todos leais a Pequim. A tomada de posse do novo executivo ocorrerá em 01 de julho.

John Lee precisa de pelo menos 751 votos deste comité para se tornar o novo chefe executivo de Hong Kong, substituindo a atual líder Carrie Lam.

Considerado leal a Pequim, John Lee começou a carreira como funcionário público, aos 20 anos, num posto temporário como inspetor de polícia e até 2021 esteve sempre ligado à ordem e segurança. Comissário adjunto da polícia e secretário da segurança contam-se entre os cargos que ocupou.

Nos últimos dois anos e enquanto secretário para a segurança, John Lee desempenhou um papel fundamental na repressão da oposição em Hong Kong, implementando uma lei de segurança nacional rigorosa imposta por Pequim para combater o movimento anti-governamental que começou em 2019, e restaurando a estabilidade naquela região administrativa especial.

Os protestos anti-governamentais começaram na sequência de uma controversa lei de extradição na qual Lee desempenhou um papel proeminente.

Em 2020, John Lee foi um dos onze funcionários chineses e de Hong Kong sancionados pela administração do ex-presidente norte-americano Donald Trump por "minar a autonomia de Hong Kong e restringir a liberdade de expressão e de reunião”.

A candidatura de Lee surge após a atual líder Carrie Lam ter anunciado que não concorreria a um segundo mandato, culminando um mandato marcado pela pandemia de covid-19, pela repressão das liberdades políticas e pela rápida e crescente influência de Pequim sobre o território.

Com 64 anos, Carrie Lam é uma defensora convicta da lei de segurança nacional da cidade, que tem sido utilizada desde 2020 para atingir ativistas pró-democracia, apoiantes e meios de comunicação social, diminuindo as liberdades prometidas a Hong Kong durante a entrega da Grã-Bretanha à China em 1997.

John Lee passou os primeiros anos da sua carreira de funcionário público como agente da polícia e subiu constantemente nas fileiras. Tornou-se ministro da segurança de Hong Kong em julho de 2017 sob a administração de Lam, e em junho último foi promovido a secretário principal da administração.

Foi também uma figura-chave ao propor legislação litigiosa em 2019 que teria permitido a extradição de suspeitos em Hong Kong para a China continental. Mais tarde, supervisionou uma repressão policial contra os manifestantes após a proposta de lei ter desencadeado meses de protestos anti-governamentais em massa em 2019.

Extintos os protestos, John Lee foi um defensor declarado da lei de segurança nacional imposta à cidade, que proíbe a subversão, a secessão, o terrorismo e o conluio com forças estrangeiras nos assuntos da cidade e tem sido utilizada para suprimir a dissidência. Mais de 150 pessoas foram presas desde que a lei foi implementada.

A eleição de maio será a primeira desde que as leis eleitorais de Hong Kong foram alteradas em 2021 para garantir que apenas os "patriotas" leais a Pequim possam exercer funções. As alterações à lei dificultam a candidatura de apoiantes pró-democracia ao cargo de chefe do executivo.

O líder de Hong Kong é escolhido de cinco em cinco anos, num processo de seleção em que são favorecidos os candidatos leais a Pequim. Os quatro chefes executivos selecionados desde a entrega de Hong Kong têm sido todos considerados como candidatos favorecidos por Pequim.

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