50 mortos e mais de 300 feridos: ONU critica repressão violenta de protestos anti-regime no Chade

Agência Lusa
20 out 2022, 20:09
Mahamat Idriss Déby Itno, líder do Chade (AP)

A repressão dos protestos fez "meia centena" de mortos em todo o país, de acordo com o primeiro-ministro, Saleh Kebzabo, que anunciou a "suspensão de todas as atividades" dos principais grupos da oposição e imposição de um recolher obrigatório

A ONU deplorou a repressão dos protestos esta quinta-feira no Chade contra o regime militar no poder, que provocou uma “meia centena” de mortos, segundo as autoridades do país, e exigiu a investigação das “violações denunciadas".

"Lamentamos o uso de força letal contra os manifestantes no Chade. As autoridades de transição devem garantir a segurança e a proteção dos direitos humanos, incluindo a liberdade de expressão e de reunião pacífica”, escreveu o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos na rede social Twitter.

“As violações denunciadas devem ser investigadas”, afirmou ainda a agência da ONU, numa publicação relativa aos confrontos hoje entre a polícia e os manifestantes, mobilizados pela oposição no país contra a continuação do regime militar liderado por Mahamat Idriss Déby Itno - filho de Idriss Déby Itno, que governou com “mão de ferro” o Chade durante mais de 30 anos e foi alegadamente morto em combate em abril de 2021.

A repressão dos protestos fez "meia centena" de mortos em todo o país, de acordo com o primeiro-ministro, Saleh Kebzabo, que anunciou a "suspensão de todas as atividades" dos principais grupos da oposição e imposição de um recolher obrigatório.

"Houve cerca de meia centena de mortos, especialmente em Ndjamena, Moundou e Koumra", anunciou Kebzabo, acrescentando que o recolher obrigatório entre as "18:00 e as 06:00" estará em vigor até à "restauração total da ordem" na capital chadiana assim como nas principais cidades do país.

O governo de transição - avisou ainda Kebzabo – "fará cumprir a ordem em todo o território e não tolerará quaisquer desvios, de onde quer que venham".

Um novo balanço noticiado pela comunicação social chadiana dá conta de mais de três centenas de feridos.

Também o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, usou a mesma rede social para condenar "veementemente a repressão das manifestações que levaram à morte de homens no Chade".

"Exorto as partes a respeitarem a vida humana e a propriedade e a favorecerem os meios pacíficos para ultrapassar a crise", acrescentou o responsável da organização pan-africana.

Também Paris já condenou a violência, "incluindo a utilização de armas letais contra manifestantes", que se verificou hoje no país.

Numa declaração, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês sublinhou que a França não desempenha qualquer papel nestes acontecimentos, "que são estritamente uma questão de política interna do Chade".

"As informações falsas sobre o alegado envolvimento da França são infundadas", acrescentou.

A diretora regional da organização de direitos humanos Amnistia Internacional para a África Central e Ocidental, Samira Daoud, escreveu, na rede Twitter: "A liberdade de concentração pacífica é um direito fundamental. As autoridades chadianas devem cessar imediatamente o uso letal da força e a repressão violenta das manifestações".

 

Entre os mortos, consta o nome de Oredje Narcisse, um jornalista da rádio CEFOD, que terá sido “alvejado enquanto cobria uma manifestação da oposição apelando à partida de Mahamat Idriss Deby do poder”, segundo a publicação local, Journal du Chad.

Na sequência da morte de Idriss Deby, os militares que tomaram o poder sob o chapéu de um Conselho Militar de Transição então criado prometeram entregar a governação aos civis após 18 meses de transição.

A data de 20 de outubro, hoje, assinala 18 meses desde que Mahamat Idriss Deby foi investido como presidente do país para o período de transição, que foi entretanto prolongado por mais 24 meses.

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