Seis coisas a ter em atenção nos Óscares (antes, durante e depois do espetáculo)

CNN , Análise de Brian Lowry
26 mar 2022, 22:00
Óscares

No domingo à noite são entregues os prémios da Academia de Hollywood para os melhores filmes do ano

Apesar das alterações cosméticas e experiências com apresentadores (ou sem apresentador), os Óscares têm-se mantido bastante fiéis à tradição, produzindo um programa de televisão do século XX para uma audiência do século XXI. Depois das audiências mais baixas de sempre e com a indústria do cinema ainda a recuperar da pandemia global, a dúvida quanto à 94.ª edição anual dos Prémios da Academia era se estes poderiam enfrentar a realidade atual e, neste momento, que vantagens isso lhes traria.

Essas são algumas das questões enfrentadas pelos produtores dos Óscares, da ABC e da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que se arriscam a enfurecer alguns dos seus membros e a receber críticas sobre o plano para alterar o formato, entregando os oito prémios durante o que seria um programa já filmado, onde os discursos de agradecimento seriam depois editados na transmissão.

Ainda assim, há outras alterações a pairar sobre a apresentação de 27 de março, a qual, apesar de um aumento para dez nomeados para Melhor Filme, abraçou os serviços de streaming, mas ignorou em grande parte os blockbusters que se relacionam com o público mais vasto possível e que, na teoria, poderiam ajudar a atrair aqueles que não costumam ver os Óscares.

Os problemas à volta dos prémios deste ano não serão todos respondidos quando os envelopes forem abertos na noite dos Óscares. Mas há seis coisas a ter em atenção antes, durante e depois:

As audiências podem recuperar?

E, se não recuperarem, o que acontece? Depois de o número de espectadores ter baixado para uns meros dez milhões no ano passado, sofrendo uma queda de mais de 50%, que espelhou outros programas de prémios durante a pandemia, sem dúvida que os Óscares esperam recuperar, pelo menos, um pouco. Mas com a diminuição dos índices de audiências a nível global, parece impossível haver uma grande subida.

A decisão da Academia de alterar o formato para apaziguar a ABC, que transmite o programa, criou algum burburinho sobre encontrar um canal diferente, um que celebre a arte sem se preocupar com as audiências. Mas como a taxa anual da estação cobre o orçamento da organização, uma mudança do género iria obrigar a um grande investimento por parte de uma nova plataforma e iria potencialmente reduzir ainda mais a audiência.

O que todos parecem relutantes em admitir, aparentemente, é que os media se tornaram um mundo fragmentado e que, além do Super Bowl, os eventos partilhados, como se qualificavam os Óscares, estão cada vez mais a tornar-se uma coisa do passado.

As categorias mais rápidas irão funcionar?

Os protestos sobre acelerar os prémios nas categorias mais técnicas eram previsíveis, mas refletem uma perceção tardia a um facto que outros programas de prémios reconheceram há muito: as pessoas assistem para ver as estrelas, não os realizadores do filme ou os técnicos de som.

Posto isto, não há provas sólidas de que uma transmissão com um ritmo mais rápido e mais orientada para o entretenimento iria fazer disparar as audiências. Nesse caso, a Academia teria alienado membros sem um benefício específico.

A Netflix cumpre o seu objetivo de ser reconhecida pelos Óscares?

Depois de conquistar os Emmys, a Netflix virou a sua atenção para os Óscares, começando com “Roma”, em 2019, o primeiro dos seus sete nomeados para Melhor Filme a ser incluído, este ano, apesar da resistência da Academia de considerar filmes de streaming ao mesmo nível dos seus pares cinematográficos.

Dois anos de pandemia e o aumento de audiências em casa ajudou a eliminar essas barreiras. Apesar de a Netflix ter desafiado com filmes como “Roma”, “O Irlandês” e “Mank”, foi a vitória do reconhecido líder, “O Poder do Cão”, que marcou o culminar dessa estratégia. E para suspense extra, a competição principal poderia ser um filme de outra plataforma de streaming, “CODA”, da Apple TV, um filme alegre que agradou às multidões, que tem a possibilidade de ganhar os prémios da Associação de Produtores e Prémio do Sindicato dos Atores, mesmo que as pessoas não os tenham visto no meio de multidões.

Este ano será recordado por filmes fracos?

Alguns anos de Óscares parecem melhores do que outros, com o benefício da retrospetiva, como podemos ver por aqueles que ainda se queixam de o “Colisão” ou o “A Forma da Água” terem ganhado o Melhor Filme.

Será que um ano que sagrou “O Poder do Cão”, um filme convincente mas muito lento, ou o casual “CODA”, será recordado de forma afetuosa no futuro? Vamos ver. Embora, dada a falta de consenso e nível de críticas direcionadas a ambos os filmes, haverá muitas conversas no dia seguinte, independentemente do que os eleitores escolham.

Passado vs. presente: encontrar o equilíbrio certo

Historicamente, os Óscares misturam o antigo e o novo e este ano não será exceção, com os tributos planeados aos 60 anos do franchise “James Bond” e ao 50.º aniversário de “O Padrinho”.

Contudo, os espectadores mais velhos, que viram os Corleone nos cinemas, não são a audiência que a Academia e a ABC anseiam atrair, se tencionam plantar as sementes para o futuro. E a demográfica mais jovem que estão desesperados por cativar (em parte, porque é o que os publicitários cobiçam) não estão a assistir a esses filmes. Pense no “Homem-Aranha: Sem Volta a Casa”, bastante representado entre os nomeados.

Irá um truque publicitário no Twitter, que permite que as pessoas votem num filme popular, ajudar a resolver essa lacuna? Ou será apenas um sinal de desespero e uma forma de pôr um ponto final à rejeição do conselho da Academia de uma proposta de 2018 para uma categoria de “filme popular”?

O programa conseguirá inspirar pessoas a ir ao cinema?

Historicamente, uma grande parte dos Óscares tem sido um apoio para os filmes, o que se tornou mais do que apenas um exercício académico para os estúdios e, principalmente, para os cinemas. O programa do ano passado introduziu o hashtag #TheBigScreenIsBack (o grande ecrã está de volta) e promoveu a visualização de filmes “da forma que sempre adorámos”.

Depois, os que votaram nos Óscares deram o Melhor Filme a “Nomadland - Sobreviver na América”, cuja maior parte das visualizações foram feitas a partir da Hulu. Mais provas de que, para a Academia, um passo em frente costuma acarretar o risco de dar, pelo menos, outro para trás.

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