Autoridades já conseguiram falar com o suspeito - que continua internado - e descartam a hipótese de ato de natureza terrorista. Ataque fez duas vítimas mortas e um ferido grave
"Estamos perante a prática de um crime de natureza comum". Luís Neves, diretor da Polícia Judiciária, afirmou esta quarta-feira que no ataque a centro Ismaili, em Lisboa, não foi encontrado o "mínimo indício que aponte para um ato de natureza terrorista".
O diretor da Polícia Judiciária revelou ainda que os inspetores já conseguiram falar com o suspeito e que o mesmo forneceu "três ou quatro áreas de informação" que ajudam a fundamentar esta tese.
No entanto, Luís Neves adianta que os inspetores trabalharam "ininterruptamente, no dia de ontem, no dia de hoje e durante toda a noite" para esclarecer se se tratava ou não de um crime terrorista, tendo chegado chegado à conclusão de que "o que pode estar aqui em causa, e isto só uma perícia psiquiátrica o poderá dizer, é um surto psicótico".
"Estão afastados todos os sinais de que seja um crime motivado religiosamente. Estamos a falar da prática de dois homicídios qualificado consumados e um homicídio tentado", afirmou o diretor da PJ, acrescentando que o que aconteceu "tem que ver com as questões próprias da pessoa naquele momento e não com qualquer ato de radicalização".
O diretor da PJ explica que conseguiu, "neste curto espaço de tempo, mapear a vida desta pessoa, quer no período em que viveu no seu território de origem, quer naquele em que esteve na Grécia, quer no período em que está entre nós, desde 2021".
"De tudo aquilo que foi recolhido, não há o mínino indício, um único sinal que permita afirmar que estamos aqui perante a radicalização, sobretudo daquilo que é a matriz religiosa de uma pessoa. O modus vivendi era ocidentalizado, os filhos estavam numa escola sem qualquer tipo de grilheta do que poderia ser uma educação radicalizada, os costumes, a vivência, as partilhas em termos comunicacionais. Tudo foi completamente analisado. Não há um único indício que aponte para um ato de natureza terrorista, todos os outros indícios apontam para um ato de natureza comum", afirmou.
Quanto às buscas à casa do suspeito, que ainda não foram iniciadas, Luís Neves explicou que os inspetores estão à espera do mandado judicial.
No entanto, sobre o telefonema que o suspeito terá recebido antes do ataque, o diretor revelou já ter informações sobre o mesmo, mas recusou-se a falar sobre este por se tratar de uma chamada "de natureza íntima". Quanto à viagem que o suspeito tinha marcada para a Alemanha, Luís Neves diz que Abdul Beshir ia viajar com os três filhos.
O Ministério Público abriu, entretanto, um inquérito ao ataque, sendo que a investigação está a cargo da Polícia Judiciária, sob a orientação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal do MP, encontrando-se sujeita a segredo de justiça.
O ataque, que aconteceu esta terça-feira em Lisboa, fez dois mortos e um ferido grave que, segundo Luís Neves, ficará internado durante "muito tempo". Abdul Beshir, o suspeito do ataque, foi baleado pela polícia durante o ataque e encontra-se internado no hospital de Curry Cabral, em Lisboa, para onde foi transferido por questões de segurança.
Abdul Bashir irá permanecer internado "nunca menos do que dez dias", revelou o diretor da PJ. Ao que a CNN Portugal apurou, o suspeito tem ferimentos numa perna, barriga e anca e deverá ser sujeito a novas intervenções cirúrgicas.