O Bloco foi à feira, mas não foi sozinho: "É escolher, freguesa, é escolher, hoje estão cá todos"

22 jan 2022, 20:33

Sábado frio no Porto, mas nem isso demoveu as caravanas políticas de se fazerem à estrada. Matosinhos que o diga, que só na Feira da Senhora da Hora viu passar quatro partidos da parte da manhã para arruadas entre hortícolas e produtos para a casa. Também Catarina Martins por lá andou, falando de pensões e salários, e desejando boas vendas e uma esquerda forte nas urnas no próximo dia 30

Se há feira concorrida ao sábado de manhã é a feira da Senhora da Hora em Matosinhos. De meias a toalhas de mesa, de pijamas a casacos, sem esquecer dos legumes e frutas e até o frango assado na hora para quem dali já quiser levar o almoço, há de tudo e mais um pouco para quem ali vai.

Mas hoje, o primeiro sábado do ano em que as temperaturas fizeram os portugueses bater o dente na hora de sair à rua, nem só de clientes se fez a feira. No relógio batiam as 10 e pela feira já se agitavam bandeiras do Bloco de Esquerda e do Chega enquanto três militantes da CDU recolhiam assinaturas e distribuíam o jornal do Avante. Mais tarde, ainda a comitiva do Bloco estava na feira, mas Catarina Martins já tinha abandonado em passo acelerado, chegaria uma caravana da Iniciativa Liberal para distribuir panfletos. É caso para dizer: feira cheia e partidos para todos os gostos, "é escolher, é escolher".

De um lado da feira, Antónia e Júlio gracejavam com a presença política na feira e chamavam o candidato socialista à conversa - "Costa, amigo, a ciganada está contigo" -, enquanto que do outro lado Albertina pedia que seguissem caminho, desagradada com a confusão, e dizia que os políticos "só se lembram dos feirantes nesta altura".

A comitiva bloquista fez o favor à feirante e depois de uma breve paragem na banca de Antónia e Júlio, seguiu caminho, feira a dentro, distribuindo o jornal com as propostas eleitorais pelos comerciantes. 

"Ela é tão pequenina que a gente nem a vê", reclamava uma feirante, do outro lado da rua, tentando espreitar pela bolha que envolvia a candidata do Bloco de Esquerda. E Catarina Martins parece ter ouvido as reclamações de que não era vista e de que era difícil chegar até si, pedindo por diversas vezes à sua equipa que pedissem aos jornalistas que se alargasse a bolha e lhe dessem espaço para chegar às pessoas.

"Não quero outro partido, só quero a Catarina"

"Sou apoiante da Catarina Martins porque eu moro na Ribeira, nasci naquela casa e com 44 anos fiquei sem a minha casa porque estava em nome do meu pai e não dava para ficar eu lá. Tive de comprar um apartamento. Tive de sair da zona histórica, tive de comprar um apartamento em Rio Tinto". O testemunho de Sónia Nunes, nascida e criada na Ribeira acontece depois de ter furado a bolha para cumprimentar a candidata do Bloco de Esquerda a quem agradeceu por ser "contra os despejos" que aconteceram na Ribeira, na zona histórica da cidade do Porto.

"Ela é muito boa. Não quero outro partido, só quero a Catarina", garantiu em declarações à CNN Portugal, em passo de corrida para a banca onde já tinha clientes à espera. E corrida vai também a visita do Bloco à feira, que já deixou as roupas e entrou nas frutas e nos legumes, para continuar a distribuir jornais, desejos de boas vendas e apelar a que "a esquerda não fique em casa" no próximo dia 30.

E foi aí, no meio de couve penca e nabiças que Catarina Martins, acompanhada por José Soeiro, ouviu mais queixas, desta vez relacionadas com as pensões de um pensionista que por ali passava e que contou às caras do Bloco que, contrariamente ao que era esperado, reformou-se em 2018, com 60 anos, e não teve direito à reforma por inteiro.

"Não tenho que estão a descontar-me todos os meses. Estão a tirar-me descontos de 0,05% todos os meses de penalização. Não é os 14%. Estão-me a tirar quase 30 euros", desabafou. 

Catarina Martins e José Soeiro prometeram ajudar, deixaram contactos e disseram que iam olhar para a situação. Estava dado o mote para a declaração aos jornalistas que aconteceria metros depois, ao lado de uma banca de legumes, num espaço de estacionamento vazio, "para não atrapalhar quem vem à feira".

"A força do Bloco de Esquerda nas eleições será a garantia de que se vai avançar no que falta fazer para que todas as pessoas que têm mais de 40 anos de carreira contributiva e mais de 60 anos fiquem sem o duplo corte da pensão que é injusto, que não merecem e que não devem ter”, afirmou aos jornalistas, acrescentando que "cada voto no Bloco de Esquerda é um voto que vai lutar para trazer justiça às pensões e a quem trabalhou toda a uma vida”.

Lei da selva

Mais uma vez casa cheia. Mais uma vez mais pessoas do que seria desejável. Há lugares com distanciamento social, mas rapidamente as cadeiras se juntam para que quem se conhece - ou se conheceu ali à porta da secundária - possa continuar a conversa sobre o partido. Nas laterais, sentados nos parapeitos da janela, mais apoiantes do partido estão sentados para assistir ao comício. Os espaldares também servem de apoio para quem já não agarrou uma cadeira e, quem chega por fim, tem mesmo de se encostar nas paredes ao lado das portas para assistir às intervenções.

Comício cheio na Escola Secundária Carolina Michaëlis no Porto

Catarina Martins é a última a falar, cerca de uma hora depois do início da sessão e de já terem tomado a palavra Teresa Summavielle, da distrital do Porto, Hugo Veludo, candidato independente do Bloco e conhecido por ser um dos trabalhadores a liderar os protestos contra os falsos recibos verdes na Casa da Música, e José Soeiro, cabeça de lista pelo Porto. E é só quando a coordenadora do partido sobe ao palco que se faz silêncio na sala. 

Concentrada, a plateia ouve Catarina dizer que "em Portugal, a precariedade é regra para tanta gente que trabalha" e que "não haverá precariedade se sonhar com salários dignos é significado de emigrar". 

"A precariedade pode vir em múltiplas formas. (...) Onde a direita quer a lei da selva é a força do Bloco de Esquerda que vai defender quem trabalha”, garantiu, apelando ao voto das gerações mais novas, também elas presentes na sala desde tenra idade. 

Catarina Martins lamenta ainda que Portugal coloque "escolhas impossíveis quando condena os seus trabalhadores a contratos precários", lembrando que não existem razões para que existam esse tipo de empresas no país, a não ser que se queira "roubar o salário aos trabalhadores" que já não têm salários dignos, em trabalhos cada vez mais longos e com "salários cada vez menores".

Acrescentar valor ao país

Na plateia estavam Gonçalo Fernandes e Filipe Gaspar, dois jovens militantes do Bloco de Esquerda que, no final do comício ficaram à porta da Escola Secundária Carolina Michaëlis a conversar sobre o que se tinha passado nesta "tarde de sol e de luta", como José Soeiro disse na abertura do discurso.

Em conversa com a CNN Portugal, Filipe diz considerar que é importante "ouvir ao vivo" as propostas que o partido tem para o país, como que para sentir a pulsação de quem quer vencer nas urnas na próxima semana.

"Vim para ouvir ao vivo as propostas e constatar a força que o Bloco pode ter na viragem destas eleições. O propósito do Bloco é acrescentar valor ao país e defender as pessoas que ainda não estão com a sua defesa assegurada naquilo que são os seus direitos, por exemplo, na área do trabalho e nos direitos humanos".

Também Gonçalo Tavares quis estar presente no comício para mostrar que mantém "a confiança num bom resultado" nas eleições legislativas e dar o seu testemunho de como o partido é necessário "para que o país ande para a frente".

"Sou apoiante do Bloco porque reconheço-me com as políticas de esquerda que o partido apoia, pela igualdade, pela justiça social, pelos direitos de quem trabalha, e cada dia que passa olho para a realidade do país e fica cada vez mais claro que a visão que o Bloco tem para a sociedade é aquilo que é genuinamente necessário para que o país ande para a frente no desenvolvimento económico e social".

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