Catarina Martins deixa liderança do Bloco com "feridas" por sarar da "artimanha" de Costa, o "padrasto do populismo"

27 mai 2023, 12:50

No fim de semana em que 'passa o testemunho' da liderança do Bloco de Esquerda a Mariana Mortágua, Catarina Martins não esqueceu a "artimanha" de Costa, o "padrasto do populismo"

"Ao fazer agora esta última intervenção como coordenadora do Bloco de Esquerda [BE], não ouçam uma despedida". Foi assim que Catarina Martins começou por dirigir-se aos militantes bloquistas que aguardavam o arranque da XIII Convenção Nacional do partido, que decorre este fim de semana no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa.

Catarina Martins promete continuar "a caminhar" com o Bloco, "como sempre", aliás. E deixou uma promessa: "Muito mais do que um balanço do passado, quero tomar balanço para o futuro."

Mas o passado esteve bem presente neste último discurso de Catarina Martins como coordenadora do Bloco, que teve como principal alvo o primeiro-ministro, António Costa, e o que descreveu como a sua "artimanha" nas últimas eleições legislativas - uma jogada que, no entender de Catarina Martins, saiu cara ao chefe do executivo.

"António Costa recusou qualquer acordo à esquerda em 2019 para dois anos depois provocar uma crise política e ter maioria absoluta. Foi uma artimanha da qual saiu vencedor. E agora não sabe o que fazer com a sua vitória", criticou a ainda coordenadora do BE, assinalando que, neste ano e meio de maioria absoluta, o PS "desbaratou a confiança de boa parte dos seus eleitores".

Do lado do Bloco, reconhece Catarina Martins, há "feridas" por sarar desde essa "artimanha" de António Costa. "É certo que a derrota eleitoral do ano passado deixou feridas. Mas volto a dizer o que já me ouviram: não nos arrependemos da coerência", vincou.

É que, no entender da bloquista, o partido não fez mais mais do que tinha de fazer ao chumbar o Orçamento do Estado apresentado pelo Governo e que provocou então a crise política em que mergulhou a esquerda. E voltaria a fazê-lo, garante: "Fizemos o que tínhamos de fazer e voltaríamos a fazer o mesmo enfrentamento com o Governo nos orçamentos a propósito da saúde e dos direitos laborais."

"Que ninguém se engane sobre quem somos e como somos: respeitamos quem tinha votado no Bloco e que, por medo da direita ou por preferir a maioria absoluta, apoiou o PS há um ano. Mas faremos o mesmo sempre que nos disserem para escolher entre uma conveniência partidária e o cuidado que a democracia deve ao SNS ou ao direito de quem trabalha", sublinha.

Movida pelos aplausos dos militantes, Catarina Martins insiste que a geringonça só chegou ao fim porque o PS assim o quis. "Não foi porque a negociação lhes tirava horas de sono que o PS recusou qualquer entendimento com a esquerda. Foi mesmo porque quis uma política no avesso da esquerda."

Catarina Martins prepara-se para 'passar o testemunho' da liderança do Bloco de Esquerda a Mariana Mortágua, que acredita estar bem preparada para assumir o desafio (Fotografia de António Cotrim/Lusa)

"Com maioria absoluta, achou que chegara o seu momento cavaquista", assinala, referindo-se à maioria absoluta de Cavaco Silva, figura que também não tem escondido um desagrado com a situação política do país.

Agora, o PS tornou-se "o padrasto de todo o populismo", "encenando confrontos vazios com a direita, enquanto lhes copia as políticas", acusa a bloquista.

Neste discurso, que deixou bem claro não ser um discurso de despedida, Catarina Martins fez questão de exaltar também os feitos do Bloco de Esquerda, desde a sua fundação aos últimos anos. Tem sido um caminho traçado lado a lado com os trabalhadores, com os feministas e pensionistas. E nem Ricardo Salgado ficou de fora.

"Revelámos escândalos financeiros, denunciámos a pirataria das privatizações e os banqueiros e CEOs que prejudicaram o país, combatemos a corrupção, o compadrio e o clientelismo. E se agora nos dizem que é importante, pois lembrem-se que era o Bloco de Esquerda que Ricardo Salgado tratava como o seu inimigo e tinha toda a razão. É uma honra para nós termos mostrado que o crime é crime e que são os banqueiros quem assaltam os bancos", salienta.

"Perante cada injustiça, transformámos a raiva em luta e em proposta", resume.

No final, restam os agradecimentos pelos "anos extraordinários" ao leme do Bloco e uma promessa que lhe valeu uma ovação da plateia, que se prolongou por vários minutos: "Obrigada pelo tempo que vamos começar, como sempre, lado a lado."

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