Divórcio à vista? Especialistas explicam quando é hora de seguir em frente (ou tentar salvar a relação)

CNN , Madeline Holcombe
27 abr, 17:00
Problemas numa relação

Especialistas explicam quando vale a pena lutar pela relação e quando o divórcio pode ser o melhor caminho. Saiba ainda como lidar com o processo de forma saudável

Se há coisa com que os terapeutas e os advogados de família podem contar é com um fluxo constante de casais que os procuram a pensar no divórcio.

Férias, aniversários e outros marcos importantes são muitas vezes alturas em que as pessoas começam a avaliar as suas relações, diz Marissa Nelson, uma terapeuta de casal e família de Washington.

"Ou vamos resolver isto e isso significa agir, fazer terapia de casal, retiros, terapia individual, workshops ou ... divórcio”, dizem-lhe os pacientes.

Alguns casais sucumbem perante o peso das circunstâncias difíceis da vida, mas outros aprendem a trabalhar em conjunto e tornam-se mais fortes, diz Samantha Klein, sócia e diretora da área de direito da família na Califórnia do escritório de advocacia Withersworldwide.

Deve tentar tudo o que puder antes de se divorciar e considerar cuidadosamente se é um caminho que quer seguir, aconselha. Isto porque o processo é difícil - do ponto de vista logístico, emocional e financeiro.

Dito isto, há formas de lidar com o conflito e o divórcio que permitem obter melhores soluções e uma separação mais amigável, afirma Klein.

Eis o que dizem os especialistas.

Grandes problemas que podem levar a uma separação

O divórcio não deve ser encarado de ânimo leve, afirma Monica O'Neal, uma psicóloga de Boston. No entanto, algumas circunstâncias fazem pensar que pode ser uma boa opção.

"A primeira, obviamente, seria se a segurança de alguém estivesse realmente em risco por sofrer qualquer tipo de abuso - abuso emocional, abuso físico, abuso sexual, qualquer tipo de abuso”, acrescenta.

Se existirem abusos, O'Neal aconselha que se saia o mais rapidamente possível da relação, porque quanto mais tempo se ficar mais violento se pode tornar.

Embora o abuso físico seja muitas vezes mais fácil de identificar, não é o único tipo de abuso que deve ser levado a sério, explica.

O abuso emocional tem a ver com poder e controlo, diz Nelson.

Os sinais de que alguém está a abusar emocionalmente de si incluem rebaixar, insultar, ameaçar, controlar, limitar o seu contacto com amigos e familiares, humilhar, intimidar, envergonhar e ignorar as suas necessidades e desejos, acrescenta.

"Todas estas coisas começam a corroer a perceção que a pessoa tem de si mesma, a sua autoestima, o seu autoconceito e também o seu sentido da realidade", diz Nelson.

A infidelidade é muitas vezes apontada como uma situação que levaria alguém a abandonar uma relação sem questionar, mas pode ser uma decisão complicada, afirma O'Neal.

"Já vi muitos casais reatarem após uma infidelidade", conta. "A infidelidade é uma daquelas coisas de que se pode falar, que se pode discutir, que se pode processar."

Muitas vezes, a infidelidade está ligada a outros problemas que precisam de ser resolvidos. Se um casal conseguir chegar ao ponto em que consegue discutir essas questões mais profundas, às vezes é possível construir um relacionamento novo, melhor e mais saudável, acrescenta O'Neal.

No entanto, é sempre importante cuidar de si mesmo e de quaisquer crianças que possam fazer parte da família.

"Em primeiro lugar, pense em criar segurança, e se isso significar ter de sair da relação, então é isso que deve fazer", afirma O'Neal.

Pontos de vista diferentes podem arrastar-vos para o fundo?

Algumas circunstâncias que ameaçam uma relação são mais difíceis de identificar como parte dos altos e baixos da vida ou como um sinal de que a relação não está a funcionar.

Por vezes, opiniões diferentes sobre a parentalidade, divergências sobre o que fazer com um progenitor que precisa de cuidados, não se sentir apoiado num período de stress ou deixar de ter intimidade podem constituir desafios significativos.

Muitas vezes, não é o problema em si que destrói a relação - é a forma como se lida com ele, diz Nelson.

"Tudo ( exceto o abuso) tem solução, na maioria das vezes", afirma. "Há muitas coisas que podem ser resolvidas, mas isso vai exigir uma boa comunicação, compromisso e que se consiga dar espaço um ao outro na tomada de decisões importantes. Não há espaço para ser dogmático quanto à sua posição".

O seu parceiro está disposto a ir a uma terapia de casal? Para algumas pessoas, a terapia é assustadora, mas será que estão dispostas a ultrapassar esse medo, a tentar ler livros sobre relações ou a falar com um líder religioso ou outra pessoa?

Se conseguirem respeitar as perspetivas um do outro, trabalhar em conjunto, chegar a um compromisso e estarem abertos a alterar o vosso plano partilhado conforme necessário, esse compromisso pode ter um grande impacto, afirma Nelson.

"Se não houver vontade de mudar, de fazer terapia de casal, de procurar apoio para superar esses desafios", é um sinal de que o relacionamento pode não funcionar", explica Nelson.

A terapia individual também pode ser uma grande ajuda, mesmo que o seu parceiro não queira fazer aconselhamento de casais, acrescenta O'Neal. Dessa forma, pode identificar o que está a colocar na relação e o que pode fazer para fortalecê-la, se assim o desejar.

Mesmo que pense que a sua relação caminha para o divórcio, Marilyn Chinitz, sócia do departamento matrimonial da firma de advogados nova-iorquina Blank Rome, recomenda que se vá ao fundo da questão para descobrir primeiro a raiz dos problemas da sua relação.

"Quando me encontro com um cliente e ele não está 100% certo de que se quer divorciar, recomendo-lhe três terapeutas e digo-lhe: gaste o seu dinheiro e o seu tempo com eles", afirma. "Eu estou aqui. Não vou a lado algum".

Depois de pensar bem

Se tiver considerado todos os fatores e decidir avançar com o divórcio, há muitas outras decisões a tomar.

"Por mais que o divórcio possa ser a melhor coisa para si ou para a sua relação, e que tenha aceitado isso, o divórcio não deixa de ser uma perda", afirma Nelson.

Talvez esteja a lamentar a perda da sua identidade como pessoa casada, uma visão do seu futuro, ter os seus filhos sempre debaixo do seu teto, ou mesmo apenas de ter alguém com quem partilhar o jantar ao fim do dia. Independentemente disso, a perda que resulta do divórcio pode levar-nos a uma montanha-russa de emoções inesperadas, refere.

As pessoas podem fingir quando estão a sofrer, mas é vital que se lide com os sentimentos de frente para sarar, diz Nelson.

"Se não abandonares esta relação, ela vai consumir-te”, explica. “Se ainda estiveres agarrado a ela, isso vai corroer a tua identidade e também tornar mais difícil para ti abrir novamente o teu coração ao amor no futuro."

Apoie-se nos seus amigos, na sua família e, eventualmente, num terapeuta. Além disso, tente ter em mente como quer que a sua vida seja depois do divórcio para tomar as melhores decisões possíveis durante o processo, sublinha O'Neal.

Ela levanta algumas questões que devem ser consideradas: Onde é que quer estar daqui a cinco anos? Como quer que o divórcio seja sentido pelos seus filhos? Como quer que as coisas fiquem entre si e o seu ex-companheiro no final?

"Não precisam de ser amigos. E vão sofrer na mesma. Vai ser uma sensação horrível. Vai realmente sentir como se fosse a morte de alguma coisa", diz. No entanto, manter o objetivo de como quer que a sua vida seja ajuda-o a chegar a essa vida melhor.

E as crianças?

"Os pais precisam de compreender que, apesar de o casamento estar a terminar, o seu papel como pais não está”, afirma O'Neal.

O objetivo é criar filhos com relacionamentos saudáveis com ambos os pais e prepará-los para o sucesso para o resto da suas vidas - e isso significa não se apoiar neles ou falar mal do outro progenitor, acrescenta.

"Os seus filhos não são espectadores", diz Nelson. "Você tem de fazer terapia e lidar com o que passou, para que possa aprender a separar-se de forma consciente e a partilhar a parentalidade."

Se teve problemas de comunicação durante o seu casamento, Nelson aponta que terá de fazer melhor, durante e após o divórcio.

Mesmo que o outro progenitor se comporte mal ou fale mal de si, o melhor passo é não retaliar, afirma O'Neal. Em vez disso, explique aos seus filhos que eles não precisam de a defender perante o seu ex. Mas dê-lhes ferramentas e espaço para os ajudar a lidar com o conflito.

"Qualquer coisa que aconteça que pareça difícil de ouvir, regressa e podemos falar sobre isso", recomenda O'Neal que diga aos seus filhos. “Não vou denunciar-te e, se for necessário, vou perguntar-te se posso falar sobre o assunto."

O divórcio também está a afetar os seus filhos, e eles precisam de um apoio claro e de saber que ambos os pais os amam, acrescenta.

E não pense que seus filhos não são afetados apenas porque são mais velhos, diz Nelson.

Para estudantes universitários e filhos mais velhos, o divórcio pode doer igualmente, se não mais, "porque o seu sentido de lar, ou o seu sentido de família está com os pais", explica. "Isso pode abalar os seus alicerces, quando acabaram de iniciar a sua vida."

Preocupações legais

Um acordo pós-nupcial pode ser uma boa ideia para os casais que ainda não têm a certeza de que se vão divorciar, afirma Nicky Rooz, responsável pela área de direito da família da Withersworldwide na Costa Leste.

Definir o que aconteceria em caso de divórcio permite saber se é possível suportar o processo legal de separação permanente, explica. Essas decisões são tomadas numa altura em que provavelmente ainda estão a trabalhar na relação e é mais provável que sejam amáveis um com o outro.

Depois, põem o acordo de lado e concentram-se nos elementos emocionais da relação, acrescenta Rooz.

Se decidirem que não conseguem salvar a relação, há muitas formas de se divorciarem, explica.

Não é necessária uma dura batalha judicial, diz Rooz. "É possível mediar."

Evitar um cenário que envolva tribunais pode gerar melhores resultados porque as duas pessoas que melhor conhecem a relação estão a decidir como terminá-la, afirma.

Além disso, os profissionais que contrata podem ter um grande impacto na forma como o seu divórcio se desenrola, diz Klein.

"A pessoa que está a contratar é alguém que procura um acordo ou vai recomendar que se vá imediatamente a tribunal? É alguém que envia cartas que são respeitosas, civilizadas e produtivas para o advogado oponente, ou alguém que envia cartas que são desnecessariamente agressivas e argumentativas", questiona.

O seu advogado pode facilmente dizer a mesma coisa de uma forma gentil ou agressiva, diz Randall Kessler, advogado de direito da família de Atlanta. Abordar as questões legais com respeito não só ajuda a manter a sua dignidade, como também é visto de forma positiva pelos juízes, acrescenta.

O divórcio é assustador e é provável que tenha de se esforçar muito para compreender a sua situação financeira, a forma como o seu estilo de vida pode mudar e o que acontece à sua casa, diz Klein.

Mas não tem de ser o pior cenário possível, acrescenta, especialmente se não tiver vergonha de recorrer a profissionais como contabilistas, consultores financeiros e advogados de renome.

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