BYD inaugura no Brasil a sua maior fábrica de veículos elétricos fora da Ásia

Agência Lusa , AM
10 out, 06:50
BYD (Associated Press)

A nova unidade representa um investimento de 5,5 mil milhões de reais (883 milhões de euros) e será a maior fábrica de carros elétricos da América Latina

O fabricante chinês de veículos elétricos BYD inaugurou no Brasil a sua maior fábrica fora da Ásia, num projeto de quase 900 milhões de euros que consolida a crescente presença industrial da China na América do Sul.

A cerimónia de abertura do complexo de Camacari, no Estado da Bahia, construído nas antigas instalações da norte-americana Ford, contou com a presença do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

"Estamos aqui não apenas para construir carros, mas para construir o futuro – um futuro que pertence a cada brasileiro que optar por um transporte mais limpo", afirmou durante a cerimónia de quinta-feira o fundador e presidente da BYD, Wang Chuanfu, de acordo com o jornal em língua inglesa.

A nova unidade representa um investimento de 5,5 mil milhões de reais (883 milhões de euros) e será a maior fábrica de carros elétricos da América Latina.

A produção arranca com capacidade anual de 150 mil veículos, podendo atingir 300 mil numa segunda fase. A expectativa é que o projeto gere mais de 20 mil empregos diretos e indiretos quando estiver totalmente operacional.

Os primeiros modelos produzidos incluem o SUV híbrido Song Pro, o compacto elétrico Dolphin Mini e o sedan híbrido King. A BYD apresentou ainda uma edição especial do Song Pro com motor híbrido flex – desenvolvido para o mercado de etanol brasileiro.

Desde que entrou no mercado brasileiro de veículos de passageiros em 2022, a BYD vendeu mais de 170 mil carros eletrificados e tornou-se líder no segmento, com 74,4% das vendas de veículos elétricos ou híbridos, segundo dados do setor.

A marca já ocupa o sétimo lugar no mercado automóvel geral, superando fabricantes tradicionais como a Honda, com mais de 5,5% de quota.

Este crescimento meteórico gerou desconforto entre concorrentes e polémica. A associação brasileira de fabricantes de veículos, Anfavea – que representa marcas como Toyota, Volkswagen e General Motors – acusou a BYD de "dumping" (preço de venda inferior ao custo de produção) e criticou a isenção temporária de tarifas para veículos parcialmente fabricados no Brasil.

Após negociações, o Governo brasileiro concedeu uma isenção de seis meses no valor de cerca de 463 milhões de dólares (400 milhões de euros), mantendo o plano de aumento das tarifas sobre importações a partir de 2027.

A BYD rejeitou as acusações, sublinhando que os seus preços no Brasil são significativamente mais altos do que na China e que a produção local acarreta custos operacionais elevados.

Em comunicado, a empresa defendeu a necessidade de diferenciação fiscal entre veículos importados e fabricados no país como forma de incentivar o investimento industrial.

O projeto também enfrentou críticas relacionadas com condições laborais. No ano passado, o Ministério Público do Trabalho suspendeu temporariamente a obra após identificar casos de exploração laboral no estaleiro. A BYD afirmou ter colaborado totalmente com as autoridades e reiterou o seu "compromisso inabalável com os direitos humanos e laborais".

Apesar das controvérsias, o investimento está alinhado com os objetivos industriais e ambientais do Governo brasileiro. A empresa pretende atingir 70% de componentes fabricados localmente até 2028 e criar centros de investigação e testes no país. O projeto conta com apoio do programa federal Mover, que incentiva tecnologias automóveis mais limpas e eficientes.

Na cerimónia, Lula elogiou o investimento chinês como símbolo da retomada da industrialização e da sustentabilidade. “Deus escreve certo por linhas tortas. Precisou a Ford sair do Brasil para a BYD entrar. E acho que foi uma boa troca para nós, porque esta é a tecnologia mais importante da indústria automóvel mundial”, afirmou.

O chefe de Estado brasileiro reforçou ainda o desejo de aprofundar as relações com a China, referindo-se ao homólogo chinês, Xi Jinping, como "amigo do Brasil" e destacando que ambos são líderes do Sul Global que “não aceitam interferência nos seus assuntos”.

“Com esta fábrica, estamos a apresentar ao mundo um projeto de nação”, declarou Lula. “Queremos uma relação civilizada com todos. Esta fábrica vai devolver dignidade ao povo de Camacari e permitir-lhes viver com mais qualidade e cabeça erguida”, aponto.

Wang Chuanfu assegurou o compromisso de longo prazo da BYD com o Brasil: “Continuaremos a investir aqui. Queremos tornar-nos uma marca verdadeiramente brasileira. O futuro é elétrico e pertence a todos nós.”

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