Declarações à CNN de Pedro Simas sobre disseminação do vírus abrem guerra entre PS e Moedas na Câmara de Lisboa

30 dez 2021, 16:50

Socialistas enviaram requerimento a Carlos Moedas a pedir explicações sobre a política da autarquia contra a pandemia. Alegando que o virologista é assessor para a saúde da Câmara de Lisboa e defensor do fim da testagem, acusam o atual executivo camarário de ter já começado a diminuir os testes na cidade. A Câmara desmente

As declarações de Pedro Simas à CNN Portugal sobre o que diz ser o “fim da pandemia”, defendendo que “o melhor é deixar o vírus disseminar-se”, levaram o PS a fazer um requerimento a pedir explicações a Carlos Moedas sobre a estratégia anticovid da Câmara Municipal de Lisboa (CML), da qual o virologista é assessor para a área da saúde.

Confrontado com este pedido de esclarecimento dos socialistas, Pedro Simas explicou à CNN Portugal que foi na condição de virologista que deu as suas opiniões na televisão sobre a forma de enfrentar a covid-19: “Falei como cientista, não como conselheiro da câmara”.

No entanto, os socialistas pedem ao presidente da CML que esclareça “se a posição da autarquia” é ou não a mesma de Pedro Simas, uma vez que este é “responsável pelo pelouro da Saúde e assume o cargo de vereador em regime de substituição de algum dos titulares eleitos pelo PSD”.

No pedido de informação escrita, a que a CNN Portugal teve acesso, os vereadores do PS sublinham que Pedro Simas disse publicamente que “é preciso parar com os testes, parar com a testagem, parar com os isolamentos” e pedem ainda que Carlos Moedas diga se vai mandar suspender o apoio às famílias que estão confinadas e exigem respostas sobre a política de testes em Lisboa.

Quanto a esta última questão, os vereadores do PS acusam Carlos Moedas de ter já diminuído a testagem na capital e perguntam “se a ideia da inutilidade da testagem, defendida na televisão por Pedro Simas, esteve na origem da inflexão da política de testes seguida por Lisboa, limitando o seu alcance e deixando de ter o plano mais abrangente e ambicioso do país”.

Segundo o PS, “não foi só no critério que a autarquia retrocedeu, mas também no alcance” da estratégia de testes.

Ao mesmo tempo, os vereadores da oposição sublinham que, ao contrário, “a Câmara do Porto tem 18 postos de testagem numa cidade com metade dos habitantes de Lisboa, [enquanto] a CML tem apenas 9”.

As acusações são rejeitadas pelo Executivo de Carlos Moedas. “A CML reforçou largamente a testagem em Lisboa”, garante à CNN Portugal Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia, que não poupa críticas a estas acusações do PS sobre testagem. “É estranho e lamentável porque o PS é um partido com responsabilidade e nesta matéria não me parece que possa capitalizar muito do ponto de vista político. As pessoas não gostam.”

De acordo com Anacoreta Correia, não é possível comparar a estratégia do Porto com a de Lisboa, uma vez que a do primeiro assentou em postos próprios enquanto na capital apostou-se em protocolos com as farmácias. “Em dezembro, por exemplo, foram feitos, ao abrigo da CML, 320 mil testes e destes 280 mil são das farmácias, sendo apenas o resto nos postos. No Porto é o oposto”, explica.

Segundo dados oficiais da CML, o número de testes tem subido todos os meses: passando de 72 mil em outubro para 113 mil em novembro e agora 320 mil em dezembro. Anacoreta Correia garante que “enquanto a política da Direção-Geral da Saúde se mantiver” não vai haver alteração da estratégia camarária. E adianta que o único problema que está a ocorrer agora é que os laboratórios e as farmácias estão no limite das suas capacidades, não sendo por isso fácil reforçar ainda mais a capacidade de testagem na cidade.

O vice-presidente de Carlos Moedas diz lamentar que o PS mostre ignorância quanto a estes números e dados, quando toda esta informação foi transmitida aos vereadores da oposição numa reunião que decorreu no dia 28 sobre o papel da autarquia no combate pandemia.

Mas, segundo os socialistas, foi exatamente o facto de as declarações de Pedro Simas terem surgido no dia seguinte a esta reunião que os deixou surpreendidos. No pedido de informação recordam que naquela “reunião de trabalho entre as diversas forças políticas da Câmara Municipal de Lisboa para partilhar o estado das respostas da cidade à pandemia e para recolher as posições para construção de soluções comuns” verificou-se existir “sensibilidade para a busca de soluções de reforço da vacinação de proximidade e das condições de testagem”. E explicam que um dia depois, a 29 dezembro, “o virologista Pedro Simas, assessor para as matérias da Saúde, contratado pelo Gabinete da Vereadora Laurinda Alves, responsável pelo Pelouro da Saúde”, veio afirmar que “é preciso parar com os testes”.

Por isso, num pedido de explicações exigem que ao abrigo do estatuto do Direito de Oposição, do Regime Jurídico da Autarquias Locais e do Regimento da Câmara Municipal de Lisboa Carlos Moedas lhes dê resposta sobre estas questões.   

Além dos testes, de uma clarificação da alegada política anticovid da CML e da posição de Carlos Moedas quanto às declarações de Pedro Simas, os socialistas colocam ainda dúvidas quanto aos apoios e vacinas. “Como interpreta a posição do vereador, assessor, especialista, quando refere que a infeção natural pelo vírus Ómicron dá uma 'imunidade natural muito mais completa' do que a que resulta das vacinas? Os apoios da Câmara Municipal de Lisboa às famílias em confinamento ou aos lares de idosos sofrerão alguma mudança, nomeadamente ao nível do fornecimento de recursos de proteção que limitem a propagação do vírus?”

No documento, os socialistas dizem ter sido surpreendidos, a 29 dezembro, com as declarações de Pedro Simas, por no dia anterior “se ter realizado uma reunião de trabalho entre as diversas forças políticas da Câmara Municipal de Lisboa para partilhar o estado das respostas da cidade à pandemia e para recolher as posições para construção de soluções comuns”, existindo “sensibilidade para a busca de soluções de reforço da vacinação de proximidade e das condições de testagem”.

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