O social-democrata Carlos Eduardo Reis, um dos principais arguidos no processo que investigou pactos entre PSD e PS nas autarquias, integra as listas para a Câmara Municipal de Barcelos. À CNN Portugal diz que não há nada que o impeça de se candidatar
Nas vésperas das eleições autárquicas, o processo Tutti Frutti, que revelou um pacto entre o PSD e o PS no poder local da capital, promete assombrar o PSD. É que um dos principais arguidos, Carlos Eduardo Reis, acusado de 21 crimes, entre eles corrupção ativa, prevaricação e tráfico de influências, e um dos deputados que a direção do partido de Montenegro exigiu que se afastasse da Assembleia da República, surge agora nas listas para as eleições de 12 de outubro.
É o número dois da lista da coligação do PSD e CDS para a Câmara Municipal de Barcelos. Uma candidatura que contraria a ideia lançada pelo PSD, logo em fevereiro deste ano, quando foi conhecida a acusação do Tutti Frutti, de que Luís Montenegro não iria permitir candidatos acusados pela Justiça nas listas às autárquicas. Aliás, ao longo dos últimos meses, várias fontes do partido foram dando sinais de que nomes envolvidos no processo Tutti Frutti, como Luís Newton, presidente da junta da Estrela, em Lisboa, Vasco Morgado, presidente da junta de Santo António também na capital, ou Carlos Eduardo Reis, que assumiu uma vereação em Barcelos teriam poucas condições para se apresentarem como candidatos a estas eleições que se aproximam. Isto por estarem acusados de vários crimes e de serem das peças principais de uma rede de influências que o Ministério Público garante ter descoberto no poder local.
Mas agora, Hugo Soares, líder parlamentar do PSD e membro da comissão política nacional do partido, garante à CNN Portugal que não há oficialmente “qualquer orientação” sobre a exclusão de acusados em processos judiciais. Mas admite que em Lisboa – município visado no processo Tutti Frutti - a direção do PSD decidiu tomar as rédeas para as escolhas dos candidatos às autárquicas e optou por não incluir os acusados.
Ao mesmo tempo Hugo Soares demarca a liderança Luís Montenegro das escolhas feitas pela máquina partidária noutras zona do país “No que toca a Barcelos a escolha é do Presidente da Câmara e não da direção nacional”, diz à CNN Portugal.
À CNN Portugal, Carlos Eduardo Reis garante que a sua manutenção na lista surge numa ótica de “continuidade” do trabalho que tem feito como vereador e sublinha que apenas saiu do Parlamento porque não tinha a confiança política do partido. Para as autáriquicas, garante, “não há nada que impeça” a sua candidatura. Já sobre o processo, no qual 12 arguidos já pediram a instrução, Carlos Eduardo Reis sublinha que os crimes pelos quais surge acusado estão relacionados com gestão privada e não abrangem o seu mandato em funções públicas.
Mário Constantino, o social-democrata candidato a presidente da câmara de Barcelos sai em defesa de Carlos Eduardo Reis, que apesar de ter sido afastado do lugar de deputado se manteve como vereador em Barcelos. “Não há qualquer limitação em incluí-lo na lista”, assegura, considerando que Carlos Eduardo Reis “tem feito um bom trabalho”.
Rede Tutti-Frutti mantém-se no poder autárquico
Sete meses depois da acusação do processo Tutti-Frutti, que revelou um pacto entre PS e PSD no poder local, com trocas de favores entre militantes, os tentáculos do “polvo” descoberto pelas autoridades continua a mover-se no meio autárquico. Alguns dos arguidos conseguem ainda hoje assinar contratos de milhares de euros nas Juntas, ocupar lugares políticos e ter peso nas estruturas locais de poder.
A social-democrata Patricia Leitão, um dos 60 arguidos do processo, está desde fevereiro de 2025 acusada de 37 crimes de corrupção por questões relacionadas com a contratação pública na junta do Areeiro e na Assembleia Municipal de Lisboa, mas ainda recentemente, foi de novo contratada por outro colega, no caso do Lumiar. Em julho deste ano, a junta, liderada pelo médico social-democrata Ricardo Mexia fez um ajuste direto de mais de 26 mil euros a Patricia Leitao para a prestação de serviços assessoria técnica ao presidente – exatamente o mesmo tipo de funções que prestou na Assembleia Municipal de Lisboa pelos quais acabou acusada de corrupção.
Mas, não foi apenas a arguida Patricia Leitão que a junta do Lumiar contratou. Ricardo Mexia, que é candidato à mesma junta nas autárquicas deste ano contratou por ajuste direto Rodolfo Pimenta no dia 30 junho 2025. Pimenta, que é acusado de nove crimes de corrupção passiva relacionados com a contratação de empresas para a Junta do Areeiro, recebeu 18 mil euros da Junta do Lumiar para prestar serviços “técnicos de análise e consultadoria”.
À CNN Portugal, Ricardo Mexia justifica as contratações pelo facto de serem “trabalhadores na Junta e continuarem a desempenhar as funções”. “Foram apenas as renovações dos contratos que já tinham”. “Sou Presidente de uma Junta que emprega perto de 200 pessoas e que fazem o seu trabalho todos os dias”, acrescenta.
Também muitos arguidos se mantêm em lugares políticos após a acusação do processo Tutti-Frutti. Luis Newton, um dos principais arguidos deste caso, continua como presidente da Junta da Estrela. É acusado de cinco crimes de corrupção e outros cinco de prevaricação. Além disso, sete meses depois se anunciar que iria manter-se à frente da Junta da Estrela, continua como presidente da concelhia política do PSD de Lisboa, que tem um papel de peso nas decisões dos sociais-democratas na Assembleia Municipal (AML).
Na distrital de Lisboa, Luis Newton conta com outro colega do partido: Nuno Vitoriano, também ele arguido no processo Tutti-Frutti, alvo de um crime de corrupção ativa agravada e um crime de tráfico de influência, relacionado com a sua avença com o gabinete de apoio ao grupo municipal do PSD na AML. Nuno Vitoriano mantém-se ainda na junta de São Domingues de Benfica, onde é diretor de staff.