Alterações da densidade mamária ao longo do tempo podem estar relacionadas com o risco de cancro da mama

CNN , Jacqueline Howard
27 mai 2023, 16:00
A densidade mamária pode ser medida com uma mamografia. Foto: Michael Hanschke/picture alliance/Getty Images

Não só a densidade mamária é um fator de risco conhecido para o cancro da mama, como o tecido mamário denso pode dificultar a leitura das mamografias

Sabe-se que a densidade da mama diminui naturalmente à medida que a mulher envelhece e, agora, um estudo sugere que quanto mais tempo demorar a diminuir a densidade da mama, maior é a probabilidade de a mulher desenvolver cancro da mama. 

Há muito que os investigadores sabem que as mulheres com seios densos têm um maior risco de desenvolver cancro da mama. Mas, de acordo com o estudo publicado na revista JAMA Oncology, a taxa de alterações da densidade da mama ao longo do tempo também parece estar associada ao risco de ser diagnosticado cancro nessa mama. 

"Sabemos que o cancro da mama invasivo raramente é diagnosticado simultaneamente em ambas as mamas, pelo que não é de surpreender que tenhamos observado um declínio muito mais lento na mama que acabou por desenvolver cancro da mama, quando comparado com o declínio natural da densidade com a idade", escreve, num email, Shu Jiang, professora associada de cirurgia na Escola Universitária de Medicina Washington University em St. Louis, e a principal autora deste novo estudo. 

A densidade mamária refere-se à quantidade de tecido fibroso e glandular nos seios de uma pessoa em comparação com a quantidade de tecido adiposo nos seios – a densidade mamária pode ser vista numa mamografia. 

"Uma vez que as mulheres fazem as suas mamografias anualmente ou de dois em dois anos, a alteração da densidade mamária ao longo do tempo está naturalmente disponível", afirma Jiang. "Devemos fazer pleno uso desta informação dinâmica para calcular melhor a estratificação de risco e orientar abordagens de rastreio e prevenção mais individualizadas." 

Avaliação da densidade mamária 

Os investigadores, da Escola Universitária de Medicina de St. Louis e do Hospital Feminino e de Brigham em Boston, analisaram dados de saúde ao longo de 10 anos de 947 mulheres da região de St. Louis que realizaram mamografias de rotina. Uma mamografia é uma imagem de raios X da mama que os médicos utilizam para procurar sinais precoces de cancro da mama. 

As mulheres do estudo foram recrutadas entre novembro de 2008 e abril de 2012, e fizeram mamografias até outubro de 2020. A idade média das participantes rondou os 57 anos. 

Entre as mulheres, foram diagnosticados 289 casos de cancro da mama e os investigadores descobriram que a densidade da mama era maior no início do estudo para as mulheres que mais tarde desenvolveram cancro da mama, em comparação com as que permaneceram livres de cancro. 

Os investigadores descobriram também que houve uma diminuição significativa da densidade mamária em todas as mulheres ao longo de 10 anos, independentemente de terem ou não desenvolvido cancro da mama mais tarde, mas a taxa de diminuição da densidade ao longo do tempo foi significativamente mais lenta nas mamas em que o cancro foi diagnosticado mais tarde. 

"Este estudo concluiu que a avaliação longitudinal das alterações da densidade mamária a partir de mamografias digitais pode oferecer uma ferramenta adicional para avaliar o risco de cancro da mama e as estratégias subsequentes de redução do risco", escreveram os investigadores. 

Não só a densidade mamária é um fator de risco conhecido para o cancro da mama, como o tecido mamário denso pode dificultar a leitura das mamografias. 

"Há aqui duas questões. Em primeiro lugar, a densidade mamária pode dificultar a «visualização» completa da mama numa mamografia, como se se estivesse a olhar através de um vidro fosco. Assim, pode ser mais difícil detetar um cancro da mama", afirma, num email, Hal Burstein, investigador clínico do Centro de Cancro da Mama do Instituto do Cancro Dana-Farber, que não esteve envolvido no novo estudo. "Em segundo lugar, pensa-se frequentemente que a densidade mamária reflete a exposição ao estrogénio ou os níveis de estrogénio nas mulheres, e quanto maior for a exposição ao estrogénio, maior é o risco de desenvolver cancro da mama." 

Em Março, o regulador farmacêutico dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), atualizou os seus regulamentos sobre mamografia, exigindo que os centros de mamografia notificassem as pacientes sobre a densidade dos seus seios. 

"A densidade da mama pode ter um efeito de mascaramento na mamografia, podendo ser mais difícil encontrar um cancro da mama numa área de tecido mamário denso", escreve Jiang no seu email. 

"Mesmo quando não está em causa a questão de o encontrar, a densidade mamária é um fator de risco independente para o desenvolvimento de cancro da mama. Embora existam muitos dados que nos dizem que o tecido mamário denso é um fator de risco, a razão para isso não é clara", diz. "Pode ser que o desenvolvimento de tecido denso e do cancro estejam relacionados com os mesmos processos biológicos ou influências hormonais." 

Como reduzir o risco de cancro da mama 

Os resultados do novo estudo demonstram que a densidade mamária é um fator de risco para o cancro da mama, mas as mulheres devem estar atentas a outros fatores de risco, afirma Maxine Jochelson, chefe do serviço de imagiologia mamária do Centro Sloan Kettering do Cancro, em Nova Iorque, que não participou no estudo. 

"Faz sentido, até certo ponto, que quanto mais tempo a mama se mantiver densa, teoricamente, maior será a probabilidade de desenvolver cancro. E assim, basicamente, se aumenta os dados de que os seios densos são um risco", diz Jochelson, acrescentando que as mulheres com seios densos devem pedir imagens suplementares quando fazem mamografias. 

Mas outros fatores que podem aumentar o risco de cancro da mama incluem ter uma história familiar de cancro, beber demasiado álcool, ter uma lesão de alto risco com biópsia da mama ou ter uma determinada mutação genética. 

Por exemplo, as mulheres devem saber que "a densidade pode não afetar tanto o seu risco se tiverem a mutação BRCA1 ou 2 do cancro da mama, porque o seu risco é tão elevado que pode não o tornar muito maior", diz Jochelson. 

Algumas formas de reduzir o risco de cancro da mama incluem manter um peso saudável, ser fisicamente ativo, beber álcool com moderação ou não beber nada e, para algumas pessoas, tomar medicamentos como o tamoxifeno e amamentar os seus filhos, se possível. 

"A densidade da mama é um fator de risco modesto. Uma mulher nos EUA tem uma probabilidade de 1 em 8 de desenvolver cancro da mama ao longo da vida. As mulheres com seios densos têm um risco ligeiramente superior, cerca de 1 em 6, ou 1 em 7. Assim, o risco ao longo da vida aumenta de 12% para 15%. Isso ainda significa que a maioria das mulheres com seios densos não desenvolverá cancro da mama", diz Burstein no seu email. 

"Por vezes, os radiologistas recomendam a realização de exames de imagiologia mamária adicionais a mulheres com tecido mamário denso nas mamografias", acrescenta. 

A Task Force de Serviços Preventivos dos EUA – um grupo de peritos médicos independentes cujas recomendações ajudam a orientar as decisões dos médicos – recomenda o rastreio bienal para as mulheres a partir dos 50 anos. O grupo de trabalho afirma que a decisão de iniciar o rastreio mais cedo, a partir dos 40 anos, "deve ser individual". Muitos grupos médicos, incluindo a Sociedade Americana do Cancro e a Clínica Mayo, sublinham que as mulheres têm a opção de iniciar o rastreio com uma mamografia todos os anos a partir dos 40 anos. 

"É também muito claro que a densidade da mama tende a ser mais elevada nas mulheres mais jovens, nas mulheres na pré-menopausa e, para quase todas as mulheres, tende a diminuir com a idade. No entanto, o risco de cancro da mama aumenta com a idade. Portanto, estas duas coisas estão um pouco em desacordo uma com a outra", diz Freya Schnabel, diretora de cirurgia da mama no Centro Perlmutter do Cancro do Centro do centro Lagone da Universidade de Nova Iorque e professora de cirurgia Escola Grossman de Medicina em Nova Iorque, que não esteve envolvida no novo estudo. 

"Por isso, se for uma mulher de 40 anos e os seus seios forem densos, pode pensar nisso como sendo apenas próprio da idade", disse ela. "A mensagem para reter, que é muito, muito prática e pragmática neste momento, é que, se tiver seios densos, qualquer que seja a sua idade, mesmo que esteja na pós-menopausa – talvez até especificamente, se estiver na pós-menopausa – e os seus seios não estiverem a ficar menos densos da mesma forma que a média das mulheres, isso é realmente uma razão para procurar imagens adjuvantes, além da mamografia, usar ferramentas de diagnóstico adicionais, como o ultrassom ou talvez até uma ressonância magnética, se houver outros fatores de risco."

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