Consumo de álcool em excesso aumenta risco de ter cancro, revela estudo

CNN , Naomi Thomas
4 set 2022, 16:00
Álcool (Bong/Adobe Stock)

De acordo com os resultados de um estudo, em grande escala, realizado na Coreia e publicado na semana passada na revista médica JAMA Network Open, as pessoas que aumentaram a ingestão de álcool tiveram, de igual forma, um risco acrescido de virem a ter cancro.

O estudo constatou que as pessoas que aumentaram a ingestão de álcool apresentavam um maior risco de virem a desenvolver todos os tipos de cancro, incluindo os cancros relacionados com o consumo de álcool. Tal não se verificou no grupo que não fez alterações relativamente aos seus hábitos de consumo de bebidas alcoólicas.

O risco também aumentou para as pessoas que não consumiam bebidas alcoólicas, mas que mudaram os seus hábitos. Estas passaram a beber esporadicamente, de forma moderada ou intensa.

William Dahut, o diretor científico da Sociedade Americana contra o Cancro, disse à CNN, que "este é outro grande exemplo de como a mudança de comportamentos pode diminuir, de forma significativa, as mortes causadas por um cancro". "As conclusões mais marcantes são o impacto nas mortes provocadas por esta doença, devido às mudanças no consumo de álcool. As pessoas devem ser aconselhadas de que, caso o consumo de álcool seja moderado, isso pode diminuir drasticamente o risco de virem a ter um cancro.”

O estudo analisou os dados de mais de 4,5 milhões de pessoas. Os participantes do estudo pertenciam ao serviço nacional de saúde coreano e tinham 40 anos ou mais. Estas pessoas participaram de um rastreio nacional em 2009 e 2011. Aqui, encontravam-se disponíveis os dados relativos ao consumo de bebidas alcoólicas.

"Neste grande estudo de grupo, que avaliou os hábitos do consumo de álcool, descobriu-se que as pessoas que tinham aumentado a ingestão de bebidas alcoólicas, independentemente do seu nível prévio de consumo, apresentaram um aumento nos problemas relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas. Isto também se aplicou ao aumento do aparecimento de todos os tipos de cancro. Este grupo foi comparado com aquele que manteve o seu nível atual de consumo de álcool", escreveram os autores do estudo do Hospital Universitário Nacional de Seul.

"Deixar de consumir bebidas alcoólicas era algo que não estava associado a uma menor incidência de cancros relacionados com o consumo de álcool. No entanto, se a abstinência era mantida ao longo do tempo, a incidência de problemas relacionados com o álcool, bem como a possibilidade de uma pessoa vir a desenvolver qualquer tipo de cancro, diminuía.”

Nos indivíduos que aumentaram o consumo de álcool, apesar de não terem o hábito de beber, os investigadores encontraram uma incidência elevada a nível de cancros no estômago, fígado, vesícula biliar, pulmões, mieloma múltiplo e leucemia.

Também se descobriu que houve uma ligação entre a diminuição dos problemas graves associados ao consumo de álcool e todos os tipos de cancro, bem como a redução do consumo excessivo de bebidas alcoólicas para níveis moderados ou leves de ingestão das mesmas.

Segundo um editorial complementar dos especialistas do Instituto Nacional do Cancro, embora o estudo apresente pontos fortes tais como: o tamanho do grupo e o grande número de casos, este também possui algumas limitações.

Em primeiro lugar, as duas avaliações sobre o uso de álcool ocorreram com dois anos de diferença e tiveram um acompanhamento máximo de sete anos. Os autores não tinham detalhes sobre a ingestão de álcool dos participantes no início da vida. Isso significa que não puderam analisar as mudanças a longo prazo.

De igual forma, faltavam informações sobre outros comportamentos saudáveis que poderiam ter acontecido a par das reduções no consumo de álcool. Assim, as alterações em termos de risco podem não ser associadas apenas ao consumo de bebidas alcoólicas.

Também não houve um debate sobre os sintomas provocados pelo uso de álcool e uma deficiência numa enzima envolvida na quebra do consumo de bebidas alcoólicas, que é algo comum nas populações do Leste Asiático. Os autores editoriais disseram que são necessárias mais pesquisas noutros grupos raciais e étnicos.

Apesar das limitações, os autores disseram que a pesquisa fornece "novas descobertas importantes sobre o papel das mudanças no consumo de álcool relativamente ao risco de desenvolvimento de um cancro". Por essa razão, os investigadores sugerem que os estudos futuros sigam o seu exemplo e examinem essa ligação noutras populações. Estes sugerem, de igual maneira, que se usem intervalos mais longos entre as avaliações.

A Sociedade Americana contra o Cancro afirma que o consumo de álcool é "um dos fatores de risco evitáveis mais importantes para o cancro, a par do tabagismo e do excesso de peso”.

Esta entidade diz que as bebidas alcoólicas são responsáveis por cerca de 6% de todos os cancros e 4% de todas as mortes causadas por cancros nos EUA.

De acordo com a Sociedade Americana contra o Cancro e os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, beber álcool pode aumentar o risco de uma pessoa vir a ter seis tipos de cancro: boca e garganta, laringe, esófago, cólon e reto, fígado e, nas mulheres, o risco de virem a ter cancro de mama.

De igual modo, a Sociedade Americana contra o Cancro diz que o uso de álcool aumenta o risco de vir a desenvolver-se cancro de estômago, entre outros.

"Quanto mais álcool uma pessoa beber, maior o risco de vir a desenvolver um destes cancros”, diz a Sociedade Americana contra o Cancro. "Mas para alguns tipos de cancro, sobretudo o da mama, consumir álcool, até em pequenas quantidades, pode aumentar o risco de desenvolver esta doença.”

"Acho muito importante que as pessoas entendam que o consumo excessivo de álcool pode aumentar, de maneira significativa, o risco de desenvolverem um cancro", disse Dahut. "Infelizmente, embora não seja uma descoberta nova, essa informação seria muito surpreendente para muitos. É imprescindível que os médicos informem os pacientes sobre esse risco e forneçam, de igual forma, todas as ferramentas necessárias para ajudarem os pacientes a modificar esse comportamento."

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